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domingo, 18 de maio de 2014

AMERICA LATRINA

divisão de trabalho no Foro de São Paulo: como o Brasil serve de QG da revolução

Atualizado em 30/04/2014 às 15:48.
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OS TRES MAIS BURROS PRESIDENTES E AS DUAS MAIS BURRA PRESIDANTAS DO MUNDO
Desde o fim dos anos 1990, a América Latina vem passando por uma “onda” de governos de esquerda, considerados mais radicais ou mais moderados, conforme avaliação de suas políticas e discursos. Por muito tempo, o governo brasileiro foi considerado moderado e um player confiável para estabilizar a região. Em suma, um modelo de “pragmatismo” a ser seguido.
Com os últimos eventos na Venezuela e o decidido apoio brasileiro à Maduro, no entanto, os principais analistas da mídia brasileira mostram-se confusos. Com Dilma, o Brasil teria dado uma guinada ainda mais à esquerda? Os afagos a Cuba teriam quais motivações?
Em toda parte, há enorme grau de insatisfação com a atual política externa brasileira. Dilma é cobrada a se pronunciar sobre a violação dos direitos humanos pelo governo de Caracas e atuar como mediadora do conflito, o qual já fez mais de três dezenas de mortes e uma centena de prisões. Empresários reclamam do Mercosul (e sua intensa ideologização) e do imobilismo da política comercial em costurar acordos bilaterais com outros parceiros.  Enquanto isso, o caso de espionagem dos EUA foi tratado de forma histérica com discursos tipicamente antiamericanos atrapalhando toda a agenda bilateral existente. Para aqueles que se surpreendem pelos posicionamentos do Brasil, é bom lembrar: há muito tempo nossa política externa saiu das mãos do Itamaraty para ser gerida pelo Foro de São Paulo[1].
A crise na Venezuela apenas está explicitando novamente qual o papel do Brasil na região e dentro da estratégia do Foro.
A Dialética do Foro e o sentido socialista da história
O principal fator a ser observado em qualquer movimento revolucionário é a existência de duas faces: uma face visível e pública e outra clandestina ou discreta – onde fica o cérebro e o comando da operação. A parte visível faz a militância, promove a guerra cultural, proclama sentimentos nobres e posa de moderada enquanto defende e acoberta as ações da parte discreta, através da mobilização de meios legais, diplomáticos, jornalísticos.
“Radicais” e “moderados”: todos “companheiros” por uma mesma distopia socialista.
Há também sempre uma facção radical e histriônica que chama a atenção e desvia o foco, enquanto a facção considerada mais pragmática viabiliza as verdadeiras ações decisivas no processo de conquista do poder.
Dentro deste panorama, a tradicional divisão entre os grupos de esquerda “moderados” e os grupos “radicais” é apenas estratégica e artificial, pois a falsa dissidência radical atua em unidade com os “moderados”. Essas divisões dentro da esquerda revolucionária – “público x discreto” e “moderados x radicais” – apenas provam sua vitalidade e multiplicam sua capacidade para ataques “desconexos” e “contraditórios”, os quais deixam os adversários paralisados ou os induz a reações que reforçam a própria esquerda, em um de seus pólos.
No entendimento marxista, a história é dialética e movida por contradições. Portanto, a tarefa da vanguarda revolucionária é estimular as contradições para acelerar o “sentido da história”[2]. Por essa razão, a esquerda acaba dividindo-se em pólos “opostos”, mas que atuam em conjunto.
Com esses conceitos, pode-se entender o papel desempenhado pelos países e seus governos esquerdistas no âmbito geral da cooperação dentro do Foro de São Paulo.
A Cuba castrista é o símbolo ideológico e a unidade de inteligência estratégica do Foro. A Venezuela e a Argentina, cujos governos são fanfarrões e radicais, podem ser consideradas “pontas de lança” do processo, auxiliadas por satélites como Bolívia e Equador. Nesses países, o estágio de socialismo é avançado, com as instituições totalmente aparelhadas, economia subjugada pela burocracia estatal e um clima de controle social ostensivo, seja através da repressão governamental, seja através da ameaça de grupos pró-governo.
Já o Brasil é o verdadeiro quartel-general da revolução latino-americana, dando cobertura para o avanço socialista no resto do continente. Ao nosso país cabe o papel de fornecedorde recursos – o “prestígio” e o peso econômico – para guarnecer a tomada de poder em outros lugares. É a face discreta e moderada do movimento.
Essa divisão de trabalho implica na diversidade de “experiências socialistas”, que terão velocidades distintas dependendo da situação de cada nação. Porém, todas essas experiências apontam na mesma direção e nos mesmos objetivos: agem em unidade rumo à concentração de poder progressiva nas mãos dos revolucionários.
Como as ações do Foro e de seus membros são dialéticas e na base da duplicidade, os grandes lances estratégicos e a radicalização dos processos socializantes se dão fora do QG central – o Brasil -, mas contam com sua complacência e cobertura.
Protagonismo bolivariano e a discrição petista
A Chávez sempre coube o protagonismo na criação e patrocínio de projetos políticos no subcontinente, entoando o “socialismo do século XXI” e o “sonho da Pátria Grande”, atribuído a figura histórica de Simon Bolívar. Com dinheiro do petróleo de sobra – graças ao boom das commodities – a Venezuela exerceu uma forte diplomacia pró-comunismo na América Latina, interferindo abertamente em países estrangeiros.
Chávez passou a sustentar a ditadura cubana através da criação da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), um acordo o qual estabelecia o envio em massa de médicos cubanos para o país, enquanto a Venezuela abastecia a Ilha caribenha com petróleo barato.
Posteriormente, Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua) também aderiram, complementando a aliança com alguns pequenos países do Caribe, que venderam seus apoios em troca de petróleo barato.
Chávez também atraiu o casal Kirchner para o bolivarianismo comprando os títulos dadívida externa argentina (o que viabilizou a sua reestruturação após o calote) e fornecendo petróleo barato para a combalida economia platina. Graças a decisiva “solidariedade” chavista, o governo argentino pôde enfrentar seus credores e reestatizar diversas empresas estratégicas para controlar a economia do país.
Já no Mercosul, a entrada da Venezuela, de forma concomitante com a decisão de suspensão do Paraguai, em junho de 2012, deixou claro que o Foro passou a mandar no bloco[3], o qual desde a ascensão de Lula e Kirchner, passou a ser uma instância de acomodação de interesses argentinos. A integração comercial perdeu espaço para um arranjo totalmente político, beneficiando os “companheiros”.
Outro projeto multilateral do Foro capitaneado pelo chavismo foi a constituição, em 2008, da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Ali foram criadas diversas instâncias de planejamento estatal, na forma de conselhos para infra-estrutura, economia, energia, etc. Na atual crise venezuelana, é a entidade que monitora os “diálogos” e apóia Maduro contra a oposição.
A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) foi outra iniciativa chavista para incluir Cuba e excluir EUA e Canadá das discussões e, praticamente, substituir a OEA. A Celac passou a ser um palanque para discursos anti-EUA e de apoio à Cuba, feitos até por “moderados”, como Bachelet do Chile.
No fim de janeiro de 2013, Rául Castro, ditador de Cuba, assumiu a presidência rotativa e os discursos dos Chefes de Estados da Celac deram o tom de hostilidade ostensiva contra os EUA. Cristina Kirchner, presidente da Argentina, falou que a liderança cubana marcaria “uma grande mudança” para a região.
Na última Cúpula de janeiro de 2014, realizada em Havana, todos os chefes de Estado presentes ajudaram a endossar o bolivarianismo e Maduro[4]. Dilma aproveitou para condenar o “bloqueio cubano”, e depois inaugurar o Porto de Mariel – que conta com financiamento público brasileiro.

Propaganda da oposição venezuelana mostra a “incoerência” daqueles que apoiam Maduro