Matéria de 15 Jan – no portal IG Último segundo
Reforma ministerial não alcança militares de Lula
Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, herdados do governo Lula, devem seguir à frente de suas corporações
Severino Motta, iG Brasília | 15/01/2012 08:00
A reforma ministerial da presidenta Dilma Rousseff, planejada para fevereiro, não deve alcançar os comandantes das Forças Armadas. Herança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Enzo Peri (Exército), Juniti Saito (Aeronáutica) e Moura Neto (Marinha) vão seguir no governo por pelo menos mais um ano.
Como se trata de uma Reforma Ministerial, não há que se falar em permanência ou não dos Comandantes das Forças. Afinal, eles não são ministros. Ademais, eles não são “herança”, são pessoas que não se pode tomar como “coisas” que são herdadas. E eles não “eram” do Presidente Lula. Eles não eram do governo e sim do Estado Brasileiro. Eram e continuam sendo: do Estado Brasileiro, pois as Forças Armadas são do Estado e não de governos. É claro que se tenta instrumentalizá-las. Mas os Comandantes citados, com certeza, sabem disso.
A avaliação de integrantes do governo é que o processo de reestruturação das Forças Armadas poderia ser interrompido no caso de mudanças dos comandantes.
Seria cômico, se não fosse trágico, que uma reestruturação de tal envergadura dependesse de nomes e não de projetos. Fosse assim, aqueles chefes militares teriam de permanecer em seus cargos por mais vinte ou trinta anos. Há um ditado antigo no seio das Forças Armadas que diz assim: “as coisas tem de funcionar com o comandante, sem o comandante e apesar do comandante”. Isto é, um tal projeto de reestruturação das Forças Armadas não pode depender de nomes e sim de projetos nacionais, decisões de Estado.
No Planalto ainda há uma análise de que as Forças têm sido parceiras do governo.
As Forças Armadas não são “parceiras” de ninguém. Elas cumprem ordens, cumprem missões que lhe são atribuídas. Essa história de “parceria” é coisa de organização não governamental, o que as Forças Armadas certamente não são.
Dilma estaria satisfeita principalmente em relação às ações das Forças em situações emergências de calamidade pública, como no caso dos deslizamentos e enchentes.
As Forças Armadas, como sempre fizeram ao longo da História do Brasil, nunca se furtariam a ajudar o povo brasileiro, pois, afinal, elas são uma síntese desse povo. Só que a Presidente deveria saber que existe uma Secretaria Nacional de Defesa Civil, cujos funcionários devem ganhar muito bem para planejar as coisas e mobilizar meios. Mobilização: palavra chave. Seria possível se saber qual o salário de um servidor da Defesa Civil comparado com o de um 2° Tenente ou ao de um Soldado prestando o serviço militar inicial? O resultado dessas intervenções episódicas é a criação, no imaginário popular, da imagem de que as Forças Armadas foram feitas para as tais “atividades subsidiárias”, quando, na realidade, não é para isso que elas se preparam. Essas missões extras são sim “subsidiárias”.
Fora do governo e dentro dos muros dos quartéis a situação também está positiva para Dilma.
Convém que o autor da matéria reveja a questão com suas fontes. Não é bem assim.
A reportagem conversou com militares da ativa que preferiram não se identificar. A maioria elogiou o governo da presidenta.
Caso sejam mesmo militares da ativa, estão sujeitos aos Regulamentos Disciplinares de cada Força, que consideram transgressão disciplinar os militares da ativa manifestarem-se sobre assuntos de natureza política bem como usarem o anonimato para qualquer fim. Então, para os “anônimos politizados”, a força do regulamento.
Para eles, as Forças estão com sua autonomia respeitada.
Afirmação completamente desprovida de propósito. Se essa “autonomia” diz respeito ao seu emprego operacional, então qual é a missão do Ministério da Defesa ? Ou cada uma das forças, se quiser, é autônoma para declarar guerra a quem bem entenda empregando tal ou qual doutrina?
Entre os reformados, também há um sentimento de paz com a presidente guerrilheira.
Novamente, convém que o autor da matéria reveja a questão com suas fontes. Não é bem assim. E é curiosa a afirmação de que a Presidente seja, até os dias de hoje, tomada como “guerrilheira”. Pura falta de respeito para com a Presidente...Ou, ser “guerrilheiro” é uma condição para ser presidente?
“Não vimos nenhum sentimento de vingança. A anistia deixou tudo no zero a zero. Muitos militares votaram na Dilma. Pessoalmente vejo uma continuidade muito grande. Essa é uma área que estava tranquila, não há porque fazer mudanças”, disse o vice-presidente do Clube Militar, general Clovis Bandeira.
Veja só como procede um militar de escol: identifica-se claramente. Não faz uso do anonimato. Conheço a pessoa do Exmo. Senhor General Clovis Purper Bandeira. Seria bom saber “quando” ele deu essa declaração. Provavelmente tenha sido antes da edição da lei inconstitucional que criou a Comissão Nacional da Verdade. Há sentimento de vingança sim. Como negar que essa lei tenha sido impingida por outro motivo que senão a vingança dos derrotados? Pelo menos assim eles reconhecem que foram derrotados. A Comissão da Verdade vai ouvir só os agentes do Estado que venceram as organizações subversivo-terroristas. Por quê? Seria tão bom para a Verdade e a História do Brasil se os integrantes dessas organizações (os ainda vivos) também dessem sua contribuição. Mas, eu, particularmente, preferiria que houvesse uma “revanche”, pois, assim, as contas, numericamente falando, poderiam ser reajustadas. Mas revanche eles não querem. Agora que são o poder, o que querem é vingança. Fala-se muito dos “anos de chumbo”. Eu, repito, opinião minha, prefiro chamá-los de “anos de pouco chumbo”, comparados ao que aconteceu em países vizinhos no mesmo período.
Apesar da situação de calmaria, o cenário futuro pode trazer turbulências entre o governo e as Forças Armadas.
Ainda bem que o autor referiu-se a possíveis turbulências entre o GOVERNO e as Forças. Pior seria se estas Forças servissem a GOVERNOS, mas, felizmente, elas servem ao ESTADO, que está ACIMA de governos.
Um dos desafios de Dilma vai ser a indicação dos membros da Comissão da Verdade.
Este desafio seria facilmente enfrentado e vencido se fosse entregue a historiadores isentos (coisa difícil de encontrar... mas existem). Mas, ao que se sabe, será uma comissão entregue aos “intelectuais orgânicos” da esquerda nacional. Vide Antônio Gramsci.
Parte da base governista, principalmente no PT, está ligada a ex-presos políticos e torturados da ditadura.
Bem que o articulista poderia completar a ideia: “...ex-presos políticos e torturados da ditadura, dentre os quais, há de se reconhecer, muitos cometeram assassinatos, roubo a bancos, atentados a bomba com mortes de inocentes, sequestros de pessoas e aeronaves, formaram focos guerrilheiros, entre outros crimes.
Para a criação da Comissão foi necessária uma longa negociação com as Forças. A indicação dos nomes pode gerar insatisfações em ambos os lados.
Se houve tanta negociação assim, essa foi para que as Forças não se metessem nesse assunto e abandonassem, a palavra exata é essa: abandonassem, integrantes do seu público interno, pois é o que reformados e os “na Reserva” são, que lutaram e venceram uma guerra revolucionária que pretendia implantar o Comunismo no Brasil. Ou isso é invenção de minha cabeça? Esses soldados (militares e civis que trabalharam juntos) foram abandonados pelas Forças à sanha vingativa dessa Comissão que vem aí.
Outro problema está ligado diretamente à reestruturação das Forças Armadas. No Exército o ponto de tensão está na renovação de programas de guerra, entre eles consta a compra de um novo sistema de mísseis terra-terra. As negociações vêm desde o governo Lula, quando o ministro da Defesa era Nelson Jobim. Aeronáutica, por sua vez, aguarda um desfecho para a compra de novos caças. A Marinha, por sua vez, pede recursos para a construção do submarino movido a energia nuclear.
Isto, dito desta maneira simplória, faz parecer que a “reestruturação das Forças Armadas” não passa de simplesmente “comprar alguns brinquedinhos” para que os militares fiquem distraindo-se em seus quartéis (A Terceira Onda – A Democratização no Final do Século XX, Samuel P. Huntington, Ática, 1994, páginas 247 e 248). Não é bem assim. É o País que tem que dizer que grau de segurança ele quer. Se o povo brasileiro é pacífico e em nosso território não há nada que aos outros países interesse, então ... fiquemos com os “brinquedinhos”. Sai mais barato.
Por fim, Dilma vai ter que lidar com os pedidos de aumento de salários para os militares, tema que foi motivo de manifestações no primeiro ano de governo da presidenta.
Veja só a incoerência. Fala-se em reestruturação das Forças Armadas com a adoção de armamento de alta tecnologia, a implantação de uma indústria nacional de equipamentos de defesa etc. e se deixa a questão do salário dos militares como um assunto secundário (“subsidiário”). Quem vai operar todo esse equipamento com o salário que ganha? Vai-se terceirizar a operação dos equipamentos (armamentos) de alta tecnologia? Os militares especializar-se-ão em suas escolas, em estágios que duram menos de seis meses para não se lhes pagar uma ajuda de custo completa? Porque assim é, até onde eu sei. Com os salários atualmente pagos não se atraem para as Forças Armadas talentos humanos de excelência. E os que a elas já pertencem vão, a cada dia mais, perdendo a dignidade de vida. Olhe que nem falo em “qualidade de vida” nem em “vida com qualidade”, como dizem alguns. Sobre as manifestações por salários acontecidas em 2010, saiba o articulista, que muitas delas só não tiveram maior repercussão porque o governo agiu para esvaziá-las, denegrindo os líderes, marcando manifestações falsas, tudo de modo a dividir o movimento e afastando os manifestantes o quanto foi possível das autoridades. É fato. Basta ler as notícias da época.
Com meus cumprimentos ao articulista Severino Motta, iG Brasília
Jorge Alberto Forrer Garcia
Coronel Reformado
Idt 030223822-5 Min Def
Curitiba/PR