segunda-feira, 10 de março de 2014
O EXÉRCITO FANTASMA
Milton
Pires
Em 1964 as forças armadas “escolheram” intervir no Brasil. Com
frase simples inicio esse artigo que espero chegar aos comandantes da
Marinha, Exército e Aeronáutica. O que aqui vai ser dito entra em
total oposição com um texto anterior de minha autoria que chamei de
“Oração às Forças Armadas”. Escrevo essas linhas em função
da proximidade dos 50 anos da Revolução de 64 e dos apelos que
agora proliferam nas redes sociais pedindo, mais diretamente ao
Exército, a tomada do poder no Brasil. Não é minha intenção
defender o que foi feito no passado, exaltar o papel dos militares ou
lamentar o que está acontecendo no país. Começo, retomando a
primeira frase, numa tese muito simples e pretendo que seja ela o
próprio corpo dessa argumentação. Afirmei na primeira linha que as
forças armadas “escolheram” intervir no Brasil; hoje essa
escolha não existe mais.
Tudo
que tem sido dito na internet, todas as manifestações dos militares
da reserva e de uma população civil desesperada com aquilo que o PT
está fazendo no Brasil partem, portanto, de uma premissa
absolutamente errada: a idéia de que seus apelos, como aquele que
fiz no artigo que chamei de “Oração”, possam determinar um ato
de vontade, uma tomada de decisão..uma espécie de resolução
militar para salvar o Brasil do destino da Venezuela. Isso
simplesmente não vai acontecer por dois motivos: primeiro pela
covardia e egoísmo de uma parte dos militares que pensa, como
qualquer funcionário público brasileiro, na sua aposentadoria.
Segundo, e esse é o motivo mais perigoso, por uma pequena parcela
(pequena, mas poderosa e muito bem informada) deles que vem
apostando numa política de terra arrasada...numa lógica do “quanto
pior melhor” no sentido de garantir perante à população civil o
respaldo à futura tomada de poder.
Quero aqui me dirigir aos três comandantes, sendo eu mesmo um
militar da reserva, para dizer que os dois grupos hão de fracassar.
Nós não estamos mais em 1964. Não há tempo suficiente para entrar
para reserva ou obter respaldo popular. Não se trata mais de
impedir, como há 50 anos, que os comunistas cheguem ao poder. Os
comunistas, senhores comandantes, ESTÃO no poder. São eles os seus
chefes. São a eles que devem vocês prestar continência.
Dias após dia, ano após ano, os senhores tem visto batalhões de
fronteira na penúria e agora desativados. Bases aéreas e, num
futuro próximo navais, tem sido em sequência desativadas. O
orçamento destinado aos senhores não cobre mais o rancho e o
fardamento. Não há no Exército munição para sustentar um dia de
guerra total. Pergunto-lhes, pois: não concordam vocês que não
trata-se mais aqui de salvar o Brasil de coisa alguma mas sim da
própria existência das forças armadas como instituição?
Todos nós, senhores comandantes, estamos cansados das manifestações
da reserva...de certos “Rambos de pijama” que não percebem que
aproxima-se o fim do Exército e que pensam, numa lógica que
desconhece totalmente o pensamento revolucionário, ser possível
negociar com o PT. Sobre isso afirmo o seguinte: meu posto é de
segundo tenente da reserva. Jamais trabalhei em qualquer serviço de
informação e pouco me importa o conhecimento da inteligência
militar brasileira. Escrevo aqui como quem conhece, e muito bem, a
inteligência petista: Não se enganem, senhores, com a promessa de
novos caças, de mais porta-aviões ou de um submarino nuclear. Não
acreditem em mais tanques ou no soldo melhor para os oficiais
generais porque o que se aproxima é a penúria total. Entendam que
em 1964 vocês tomaram o poder porque “queriam” salvar o país do
comunismo. Em 2014 ou depois, terão que fazê-lo para salvar a
própria pele. O verdadeiro exército petista está entre os
integrantes do MST e da gigantesca massa carcerária brasileira, hoje
mais de meio milhão de condenados, que esse Partido criminoso
controla com mão de ferro.
Senhores
comandantes, até hoje nada do que os senhores viram foi suficiente
para lhes convencer da necessidade de intervenção..Tudo continua
parecendo uma questão de “decisão”...de “momento certo”..e
de respaldo da população civil como se estivéssemos nós todos em
1964 quando foi por um ato de vontade própria que o Exército
colocou-se no poder. Vossa vontade, senhores, não mais está em
questão..Aceitem meu aviso quando digo que dessa vez não é “só
o Brasil” que está ameaçado mas o próprio Exército que
aproxima-se, ainda que seja lentamente, da própria extinção. Ou os
senhores compreendem isso e tomam a atitude que, salvando a si
próprios há de salvar a democracia brasileira, ou em breve não
serão mais que um Exército Fantasma.
Porto Alegre, 10 de março de 2014.