UMA CARTA PARA DILMA ROSKOFF
RETRATO FALADO DA COMESSÃO DA INVERDADE |
“COMEÇÃO” DA VERDADE
De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: “Começão” da verdade e mentiras sobre a economia
Ucho Haddad – 25/04/2013 |
Dilma, cá estou para mais um colóquio redacional ranzinza. Você pode até não gostar dessa marcação cerrada que lhe dedico, mas a parte pensante da população tem me apoiado nessa ousadia jornalística. E você há de reconhecer que mesmo ousado tenho sido elegante. Fossemos fazer uma pesquisa, daquelas de verdade, você certamente levaria um drible. Mas deixemos esse assunto para outro dia, pois hoje quero tratar de dois assuntos difíceis para você e seus companheiros de esquerda.
Sem saber por onde iniciar, decidi pela “começão” da verdade. Você pode até pensar que errei na hora de grafar a palavra comissão, mas não. É “começão” mesmo! Não um começo grande, estratosférico, mas o ato contínuo de comer a verdade. Vocês, esquerdistas festivos (há quem diga que esse termo é ultrapassado), optaram por comer a verdade, deixando à opinião pública apenas a parte que interessa ao governo e ao PT. Ou seja, vocês querem transformar, mesmo que a fórceps, meia mentira em verdade inteira.
Dilma, apesar da redundância, que no seu caso é necessária, você perdeu o “senso de noção”. Pense bem e com calma, pois de nada adianta perder o controle e sacar o revolver como fazia o John Wayne, cujo caminhar você imita com excesso de competência. Você e a “companheirada” querem a todo custo dar um troco nos militares. Revanchismo é a pior atitude do ser humano. Além de ser uma desonrosa perda de tempo, é o desfile da pequenez da alma. Não pense que fui e sou a favor da ditadura militar. Pelo contrário! Assim como você, minha família e eu sofremos as consequências duras e covardes do mais negro período da história brasileira. Mas nem por isso na minha família plantamos e regamos a semente do revanchismo.
Fala-se muito em revolução, mas o que aconteceu em 64 foi golpe. Até porque, revolução sem tiro e morte é baile de ocasião. Foi um golpe, algo que a esquerda também buscava. E isso é confessado abertamente por pessoas que cerraram fileiras ao seu lado. Vocês, colossais integrantes da esquerda, teriam feito algo diferente e melhor? Tirante a covardia das sessões de tortura nos porões da era plúmbea, por certo vocês teriam feito uma lambança maior do que a atual.
Como lhe alertei em mensagem anterior, vocês conseguiram a proeza de fazer com que setores da população sintam saudades dos tempos da caserna. Veja a que ponto chega a incompetência da “companheirada”. Honestamente, Dilma – se é que estando no partido do Mensalão é possível saber o significado de honestidade –, eu não tenho qualquer nesga de saudade dos militares. Mas também a eles não dispenso desdém e sentimento de vingança. E esse meu pensamento é reflexo do pavor que tenho do ortodoxismo. Radicalismo nos leva ao ápice do nada.
Muitos brasileiros torcem pelo retorno dos militares. Vira e mexe tem alguém, em especial na internet, pedindo a intervenção das Armadas. Eu prefiro que os militares cumpram o papel que lhes cabe e ponto final. Você pode não entender esse meu posicionamento, mas é lógico. Não fossem os militares, vocês, representantes da esquerda, seriam nada. Vocês abusaram de tal forma do embuste, que transformaram o regime militar em plataforma de lançamento e sustentação da esquerda. Dizem os especialistas que apenas os pólos opostos se atraem. E a “companheirada” soube usar de maneira competente essa tal atração patrocinada pelo antagonismo ideológico.
Agora, Dilma, imagine se os militares voltam a mandar no Brasil. Dentro de duas décadas vocês retornarão à cena como lobos em pele de cordeiro. Como aconteceu há alguns anos. Um bando de falsos coitados e incompreendidos que se apresentaram ao eleitorado como gênios e salvadores da pátria. Não, Dilma, perdoe-me por essa intransigência. A última coisa que desejo aos meus herdeiros é o retorno dessa esquerda direitista à qual você pertence. E você também não deveria desejar tamanho mal ao seu neto, um guri inocente que nem imagina o quão perigosa é a peçonha dos amigos da avó. Prefiro enfrentar esse bando de malfeitores por mais alguns anos do que patrocinar um interregno burro que garantirá a sobrevivência de um câncer político.
Essa Comissão da Verdade que você criou, Dilma, é o que eu chamo de “começão” da verdade, pois falta isonomia no trato dos fatos. Sacanas foram os militares que enfrentaram comunistas puritanos e bem intencionados. Dilma, confesso que não sei o que é pior. Ter enfrentado os agentes do DOI-Codi entrando em casa à procura do meu pai, ou aturar os seus subordinados que me atormentam frequentemente com ameaças, intimidações, denúncias caluniosas e outros quetais que você, como boa guerrilheira que foi, sabe de cor e salteado. Essa estratégia do revanchismo contra os militares serve apenas para encobrir a incompetência que grassa em seu governo e no PT.
Não pense que quando menciono a incompetência estou me referindo à bandalheira. É apenas a inoperância rouge, a incapacidade de realizar qualquer coisa em prol do País. E esse estratagema fará com que os brasileiros incautos continuem acreditando que vocês são uns coitadinhos repletos de boas intenções. A bandalheira petista é um assunto que tratarei com você em outra ocasião, pois exige tempo e concatenação de ideias, ingredientes que têm lhe faltado ultimamente.
E por falar em incompetência e boas intenções, Dilma, deixemos de lado a “começão” da verdade e passemos às mentiras sobre a economia. O seu discurso tem prazo de validade tão curto e pífio, que uma madrugada corresponde à eternidade. À noite você fala que tudo é maravilhoso, que a economia está retomando o crescimento e a inflação sob controle, mas na manhã seguinte o Banco Central atropela a sua fala. Que vexame!
Quando lhe ouço, Dilma, o que exige um esforço hercúleo para que a irritabilidade não seja acordada, por vezes fico pensando sobre qual o pior papel que você desempenhou ao longo da história. Como guerrilheira e com arma em punho, ou como presidente e com a metralhadora giratória da mentira acionada. Na ditadura, como adversária do regime, você, junto com os companheiros de armas, patrocinou a morte imediata de alguns inimigos ideológicos. Agora, como chefe de Estado, você, desta vez com a presença de companheiros de mitomania, vem matando homeopaticamente uma legião de brasileiros. Percebeu, Dilma, quão difícil é a tarefa de descobrir qual dos seus papeis é o mais deplorável.
Dilma, a economia cambaleia como se fosse um bêbado encostado no balcão de um boteco de porta de fábrica, situação que determinadas pessoas do seu rol de camaradas podem explicar o que é, mas você falta com a verdade ao afirmar que o Brasil já retoma a condição de país de Alice, aquele das maravilhas. A inflação corre solta e por todos os lados, mas você ousa dizer que o mais temido fantasma da economia está sob controle.
A inoperância do seu governo é tão monstruosa e vasta, Dilma, que você começa a fazer sombra a Lula nas plagas da mentira. E contra fatos não há argumentos, diz a máxima do Direito. Você abusa do oportunismo barato e desonera os produtos da cesta básica, mas os preços dos alimentos continuam assustando diariamente os brasileiros. Você desonera a folha de pagamento para garantir a manutenção do emprego, mas o desemprego cresce. O setor do etanol foi contemplado com desoneração, mas você não garante que o combustível de cana de açúcar cairá de preço.
Dilma, a sua situação torna-se ainda pior quando chegamos aos detalhes dessa política econômica que você adora incensar a qualquer custo. Você e seus magnânimos assessores da área econômica insistem em reverter a crise a partir do consumo interno, mas os brasileiros preferem viajar ao exterior e gastar em outros horizontes. Até porque, Dilma já que a ordem palaciana é para que todos sejam irresponsáveis consumidores, que essa insanidade comportamental tenha a cara da riqueza, mesmo que falsa.
Você e sua camarilha de assessores, todos aduladores interesseiros e desavergonhados, comemoraram novo recorde de uma safra agrícola que continua refém no cativeiro do apagão da infraestrutura. O Brasil, Dilma, por irresponsabilidade do seu patrão Lula, recepcionará a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, mas nas filas dos hospitais públicos os incautos pacientes, que um dia acreditaram que a saúde estava a um passo da perfeição, continuam na eterna disputa para não subir ao pódio da morte. Coisas de país desenvolvido e sem problemas: Copa milionária de um lado e saúde abandonada do outro.
Dilma, reverter a crise não é como fazer um bolo de fubá para o café da tarde, assim como governar um país não é como administrar um botequim de esquina repleto de pinguços profissionais. É preciso talento, responsabilidade, competência, humildade e sacrifício. Ingredientes que a soberba impede que façam parte do seu currículo. Por isso creio cada vez mais que você filiou-se ao partido certo, apesar de o PT ser uma ode ao errado. Imagino o quanto é difícil para você não poder falar em herança maldita, discurso embusteiro que o seu “companheiro” Lula usou para camuflar a própria incompetência. Se fizer isso, Dilma, você perderá o emprego, pois o jogo petista é bruto.
Nos últimos dez anos, Dilma, o seu partido, o PT, vem tentando me calar de todas as maneiras, mas sem sucesso. Você é teimosa, o que entendo ser uma decisão burra. Eu sou obstinado, que, na minha modesta compreensão, é um sinal de esperança em dias melhores e confiança na capacidade do raciocínio. Por isso tenho aconselhado alguns internautas a não baixarem o nível nos ataques que fazem a você e ao partido. O bom combate, Dilma, é aquele que se faz com a massa cinzenta. E quando o adversário é desprovido de tutano, a vitória é questão de tempo e paciência.
A propósito, Dilma, já que estamos falando de bom combate, continuo aguardando o seu amigão Lula, o lobista fugitivo, responder ao meu convite para um debate, sem ajuda de assessores e de anotações. Sei que ele anda sumido por causa das estripulias da Marquesa de Garanhuns, cuja pulada de cerca que você apadrinhou na prorrogação, mas classifico a falta de resposta não como uma ausência de modéstia, mas como uma confissão de incapacidade do mais novo colunista do “The New York Times”. Um apedeuta que não fala corretamente o próprio idioma e é avesso à leitura, agora tem espaço para escrever, em inglês, no mais importante jornal do planeta. Sabe, Dilma, cheguei a pensar que Lula era caso para um largo e confortável divã do analista mais próximo, mas conclui que sua psicopatia merece internação em hospício, o mais longe possível.
Sem escapar do tema e partindo para fim desse nosso bate-papo, que não é o último, esteja certa, faço sugestão acompanhada de um convite. Como Lula ainda não respondeu se aceita debater comigo sobre a economia brasileira e o seu dúbio legado, serei condescendente e abro exceção unilateral. Continuo agarrado à disposição de debater sem a ajuda de assessores, até porque não os tenho, mas apenas com anotações, desde que você e o ainda ministro Guido Mantega reforcem o time do messiânico Lula. Aceito, inclusive, debater com os três simultaneamente. Você pode estar pensando que sou um pretensioso, mas não é o caso. Não me alimento no coxo da falsa soberba que vocês, petistas, frequentam, mas sei da lógica do meu raciocínio e da extensão da minha memória.
Vou além, prezada Dilma, para que você não espalhe por aí que sou radical. Aceito debater diante de uma plateia eminentemente petista. Podem até levar os xiitas do partido, os mensaleiros condenados… Vocês por certo estarão a reboque de discursos luciferianos, como sempre fazem, enquanto eu, acompanhado pelo Criador, que me deu aquilo que, ouso crer, tenho de melhor: o raciocínio.
Como disse o imperador Júlio César às margens do Rio Rubicão, “alea jacta est”. A minha sorte está lançada e vocês podem me atropelar. Pense nisso, Dilma, pois o Brasil está cansado dessa “começão” da verdade. PT saudações, Dilma!
Publicado em http://liciomaciel.wordpress.com/