A doce ilusão X A cruel
realidade
Diante da possibilidade de os antigos
agentes que atuaram na repressão serem convidados ou obrigados a comparecer
perante os doutos membros da Comissão da Verdade, as opiniões são divergentes.
Divergentes, é claro, entre os que
aplaudem ou simpatizam com o heroico papel daqueles cidadãos.
Ambos os lados primam pela
honestidade, pela retidão de caráter e pela verdade acima de tudo.
Contudo, uns acreditam piamente, que
os agentes serão iluminados pela luz divina e como um passe de mágica, poderão
trazer ao conhecimento publico o que de fato aconteceu.
Inocentes, preferem esquecer que os
membros da Comissão foram escolhidos a dedo, e torcem para que,
inexplicavelmente, eles sejam ungidos pela imparcialidade da
justiça.
Durante o seu depoimento, os seus
acusadores ficarão calados e envergonhados e serão capazes de aventar a
possibilidade de devolverem as polpudas indenizações que receberam.
Sem duvida, será um momento de raro
esplendor, pois toda a grandeza da verdade inundaria o salão com um arco - íris
de beleza incomparável.
Após prestar suas declarações, os
agentes seriam aplaudidos, copiosamente. Descobertos, os acusadores, cabisbaixos,
deixariam o recinto o mais na moita possível.
Segundo a imprensa, seria o final de
um revanchismo quase que centenário. A Comissão seria extinta pelo clamor
público.
Bem, o outro lado, mais realista,
apoia - se no que vem acontecendo há décadas, uma implacável perseguição, nas
vultosas indenizações já pagas aos terroristas, de que até o presente o tal de
contraditório foi letra morta, no endeusamento de inúmeros assassinos, nos
monumentos aos heróis da subversão,...
Estes estão convictos de que ao
adentrar à sessão da Comissão os agentes estarão de fato ingressando num dos
antigos aparelhos da subversão, e serão doutrinados até à pleura e incentivados
ao arrependimento, e de que nada sofrerão caso reneguem a sua antiga função.
Estes pessimistas ou realistas
acreditam que mestres na distorção do pensamento, artífices no embrulhar
incautos procederão ao perguntório que massacrará os bem
intencionados agentes.
Estes, escolados com as CPMIs e CPIs
que foram televisadas e redundaram em absolutamente nada, adivinham que neste
palco, os agentes serão ridicularizados e desmoralizados, pois a cada
declaração sua, uma enxurrada de ataques veementes desqualificarão as suas
palavras. Por mais sinceras e verdadeiras que elas sejam.
Esperamos que as divergências sejam
meras especulações entre os veementes cultuadores da verdade acima de tudo e a
qualquer preço, e os calejados e descrentes que olham com apreensão o que
acontece aos nossos olhos e, por isso, alegam que pode predominar, conforme o
desejo do freguês, a inverdade, a meia verdade acima de tudo e a
qualquer preço, desde que pago pelos outros.
Aqueles que acreditam que um dia o
revanchismo terá fim, que a verdade assomará e derrotará a inverdade e a meia
verdade, lamentamos, pois nada sinaliza que este dia chegará.
Infelizmente.
Brasília, DF, 31 de
março de 2013
Gen Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo
Pereira