JUSTIÇAMENTO Uma palavra que não consta do vocabulário da "Comissão da calunia""
O justiçamento era a prática da tortura seguida de morte aos opositores dos guerrilheiros durante a época do regime militar de 1964. Ocorria, também,
em diversos tribunais revolucionários espalhados pelo mundo, oriundos, em
geral, de uma situação política excepcional que se instalava após o sucesso de
um movimento revolucionário.
Os que aplicavam os justiçamentos não julgavam legalmente os condenados que eram sumarimente eliminados,
muitos sem direito à defesa. O justiçamento, na prática, é um linchamento que ocorre as margens do sistema legal
vigente onde o réu não tem condições de se defenderJá que trata0-se
de ações realizadas em regimes de exceção.
Muitas vezes esta forma de linchamento era aplicada naqueles
considerados pelo próprio grupo como traidores da causa. Geralmente se iniciava
com uma denúncia dos próprios companheiros contra o que seria justiçado.
Seguia-se um processo
revolucionário, com o fornecimento de provas de defesa e acusação,
semelhante aos tribunais revolucionários que na época do surgimento da URSS,
executavam prisioneiros e traidores pertencentes ao grupo que estava no poder.
Caso considerado culpado pelo grupo, o acusado era executado. No Brasil
ocorreram casos de justiçamento onde o acusado não sabia que estava sendo
"julgado": tal prática acarretou, por exemplo, a morte do marinheiro
inglês de 19 anos David A. Cuthberg no Rio de Janeiro em 1972. Ele foi morto
por guerrilheiros membros ALN.
Um exemplo de justiçamento é dado a seguir e foi praticado por Luís Carlos Prestes e seu grupo revolucionário
esquerdista, no Brasil, em 1936:
Suspeita de ser informante da polícia, Elvira Cupello, de 16 anos,
foi estrangulada com uma corda de varal e enterrada no quintal de uma casa de
subúrbio do Rio de Janeiro. O enredo poderia ter lugar hoje, e os criminosos
seriam traficantes. Mas o "justiçamento" de Elvira – mais conhecida
nos meios clandestinos pelo codinome Elza Fernandes, ou simplesmente como
"a garota" – ocorreu em 1936, quando ainda não existiam as facções do
tráfico. Quem perpetrou o ato foi outro: o Partido Comunista Brasileiro. O
episódio abala a mitologia de Prestes, que Jorge Amado chamava de
"cavaleiro da esperança". Partiu de Prestes a ordem definitiva para a
execução de Elza, embora não existissem provas cabais de que ela fosse uma
delatora. A história foi recuperada em detalhes pelo jornalista e escritor
mineiro Sérgio Rodrigues, no romance Elza,
a Garota.