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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mais de mil palhaços




Jornal do Brasil, 06 de setembro de 2007
Olavo de Carvalho
Desculpem insistir no assunto, mas é preciso documentar o episódio antes que a passagem do tempo o torne retroativamente inacreditável.
O senhor Quartim de Moraes tornou-se o Rei dos Palhaços ao mobilizar mais de mil foliões comunistas para defendê-lo contra uma "mentira deslavada" (sic) espalhada por ele mesmo. Querendo posar de herói da guerrilha perante uma platéia da Unicamp, alardeou que fora condenado à prisão pelo assassinato do capitão americano Charles Rodney Chandler em 1968. Quando repassei a informação a um público mais vasto, que poderia não ver o homicídio com bons olhos, mais que depressa o espertinho saiu choramingando que era tudo uma calúnia, que ele não havia sido condenado por isso, mas por algo de menos truculento.
Todos os Comitês Centrais disponíveis correram em auxílio da infeliz vítima da "mídia fascista". Produziram a toque de caixa um "manifesto de intelectuais" (o gênero literário mais cultivado nesse meio), com apoio internacional e as assinaturas de mais de mil professores universitários, acusando-me, em português hediondo, de ser um joão-ninguém sem força nenhuma e de ser um temível agente a soldo do imperialismo (você decide).
Como esses fulanos têm o dom de ficar valentes tão logo percebem que estão em mais de 500 contra um, o entusiasmo belicoso da patota foi crescendo com o número de adesões, multiplicando-se em ameaças apocalípticas: fazer em picadinho a minha reputação, botar-me na cadeia, o diabo.
Quando divulguei a fonte da informação, de repente a onda guerreira arrefeceu. O vozerio baixou, o inchaço de assinaturas parou de crescer, o manifesto sumiu das manchetes dos sites do PCdoB e do PT, buscando discreto refúgio nas páginas internas.
É uma lástima. Quantas penas de amor perdidas, quanta vela queimada por um defunto chinfrim, para tudo acabar num punhado de cinzas varrido às pressas para baixo do tapete.
O autodesmentido do palhaço Quartim, camuflado de resposta indignada a acusações caluniosas, não melhora em nada a sua biografia real. Se ele não foi condenado como autor de homicídio, foi condenado como dirigente da entidade terrorista que constituiu ilegalmente o tribunal assassino e lhe deu força para executar sua sentença macabra. Organizações terroristas existem, por definição, para matar pessoas.
A desculpa de que foram forçadas à violência pela ditadura é porca e mentirosa como tudo o que sai da boca de comunistas. A guerrilha, iniciada em 1963 sob as ordens de Fidel Castro e a ajuda cúmplice do próprio João Goulart, não foi efeito do golpe de 1964: foi uma de suas causas. E os terroristas nunca lutaram pela democracia, e sim para instalar aqui uma ditadura igual àquela que as comandava, protegia e financiava, mil vezes mais cruel que a dos militares locais. Todos os comunistas sabem disso, e na intimidade riem dos tolos burgueses que acreditam na desculpa "democrática".
Para mim, o manifesto serviu ao menos para recordar uma vez mais a extensão da rede de contatos internacionais do comunismo brasileiro - o Comintern sem nome, ativo hoje como nos tempos de Stálin, bons tempos segundo Quartim - e avaliar o volume de recursos de que essa gente dispõe para mobilizar contra qualquer inimigo isolado, pobre, e ainda chamá-lo de agente pago do capital. A desproporção seria cômica, se não tivesse, ao longo das décadas, ajudado os comunistas a matar mais gente do que todos os terremotos e epidemias do século 20, somados a duas guerras mundiais.

Olavo de Carvalho é jornalista, escritor, filósofo e editor do Mídia Sem Máscara