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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Como o autismo ajudou Messi a se tornar o melhor do mundo


  Como o autismo ajudou Messi a se tornar o melhor do mundo. Os sintomas daSíndrome de Asperger trabalharam a seu favor.Messi é autista. Ele foi diagnosticado aos 8 anos de idade, ainda naArgentina, com a Síndrome de Asperger, conhecida como uma forma branda deautismo. Ainda que o diagnóstico do atleta tenha sido pouco divulgado equestionado, como uma maneira de protegê-lo, o fato é que seu comportamentodentro e fora de campo são reveladores.Ter síndrome de Asperger não é nenhum demérito. São pessoas, em geral dosexo masculino, que apresentam dificuldades de socialização, atos motoresrepetitivos e interesses muito estranhos. Popularmente, a síndrome éconhecida como uma fábrica de gênios. É o caso de Messi.É possível identificar, pela experiência, como o autismo revela-se no seucomportamento em campo - nas jogadas, nos dribles, na movimentação, nochute. "Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e repeti-loexaustivamente", diz Nilton Vitulli, pai de um portador da síndrome deAsperger e membro atuante da ong Autismo e Realidade e da rede socialCidadão Saúde, que reúne pais e familiares de "aspergianos"."O Messi sempre faz os mesmos movimentos: quase sempre cai pela direita,dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol de cavadinha, típicodele", diz Vitulli, que jogou futebol e quase se profissionalizou. Eexplica que, graças à memória descomunal que os autistas têm, Messiprovavelmente deve conhecer todos os movimentos que podem ocorrer, porexemplo, na hora de finalizar em gol. "É como se ele previsse os movimentosdo goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando ele entra naárea, já sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquele sorriso típico deautista, de quem cumpriu sua missão e está  aliviado".A qualidade do chute, extraordinária em Messi, e a habilidade de manter abola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, são provavelmente, segundoVitulli, também padrões de repetição, aliados, claro, à grande habilidadedo jogador. Ele compara o comportamento de Messi a um célebre surfistahavaiano, Clay Marzo, também diagnosticado com a síndrome de Asperger. "Éum surfista extraordinário. E é possível perceber características deautista quando ele está numa onda. Assim, como o Messi, ele é perfeito,como se ele soubesse exatamente o comportamento da onda e apenas repetisseum padrão". Mas autistas, segundo Vitulli, não são criativos, apenasrepetem o que sabem fazer. "Cristiano Ronaldo e Neymar criam muito mais.Mas também erram mais", diz ele.Autistas podem ser capazes de feitos impressionantes - e o filme *Rain Man*,feito em 1988, ilustra isso. Hoje já se sabe, por exemplo, que os físicosNewton e Einstein tinham alguma forma de autismo, assim como Bill Gates.Também fora de campo, seu comportamento é revelador. Quem já não reparounas dificuldades de comunicação do jogador, denunciadas em entrevistascoletivas e até em comerciais protagonizados por ele? Ou no seucomportamento arredio em relação a eventos sociais? Para Giselle Zambiazzi,presidente da AMA Brusque, (Associação de Pais, Amigos e Profissionais dosAutistas de Brusque e Região, em Santa Catarina), e mãe de um menino de 10anos diagnosticado com síndrome de Asperger, foi uma revelação observarcertas atitudes de Messi."A começar pelas entrevistas: é  visível o quanto aquele ambiente oincomoda. Aquele ar "perdido", louco pra fugir dali. A coçadinha na cabeça,as mãos, o olhar que nunca olha de fato. Um autista tem dificuldade emlidar com esse bombardeio de informações do mundo externo", diz Giselle.Segundo ela, é possível perceber o alto grau de concentração de Messi: "elesabe exatamente o que quer e tem a mesma objetividade que vejo em meufilho".Giselle observou algumas jogadas do argentino e também não teve dúvidas:"o olhar que "não olha" é o mesmo que vejo em todos. Em uma jogada, ele foilevando a bola até estar frente a frente com um adversário. Era o momentode encará-lo. Ele levantou a cabeça, mas, o olhar desviou. Ou seja, nãohouve comunicação. Ele simplesmente se manteve no seu traçado, no seuobjetivo, foi lá e fez o gol. Sem mais".Segundo Giselle, Messi tem o reconhecido talento de transformar em algosimples o que para todos é grandioso e não vê muito sentido em fama,dinheiro, mulheres, badalação. "Simplesmente faz o que mais sabe e faz bem.O resto seria uma consequência. Outro aspecto que se assemelha muito a meufilho".Outra característica dos autistas, segundo ela, é ficarem extremamentefrustrados quando perdem, são muito exigentes. "Tudo tem que sairexatamente como se propuseram a fazer, caso contrário, é crise na certa. Enormalmente dominam um assunto específico. Ou seja, se Messi é autista eresolveu jogar futebol, a possibilidade de ser o melhor do mundo seriamesmo muito grande", diz ela.A ideia de uma das maiores celebridades do mundo ser um autista nãosurpreende, mas encanta. Messi nunca será uma celebridade convencional.Segundo Giselle, ele simplesmente será sempre um profissional que executa asua profissão da melhor forma que consegue - mas arredio àás badalações, àsentrevistas e aos eventos.  "Ele precisa e quer que sua condição sejarespeitada. Nunca vai se acostumar com o assédio. Sempre terá poucosamigos. E dificilmente saberá o que fazer diante de um batalhão defotógrafos e fãs gritando ao seu redor. De qualquer modo, certamente a suacontribuição para o mundo será inesquecível", diz ela.