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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Footbol Ale 7 x br 1. Nobel: ALE 103 x br 0

Senado Federal

Discurso do Senador Cristovam Buarque

Plenário do Senado Federal

09 de Julho de 2014


Com toda a tristeza que sinto pelo fato de termos sido derrotados, e com um 

escore tão grande, do ponto de vista do interesse nacional, do ponto de vista das 

consequências para o futuro, é muito mais grave para o futuro do País o fato de 

estarmos perdendo para a Alemanha de 103 a zero, no campeonato de Prêmio Nobel.

Nós não nos traumatizamos, no dia 14 de março de 2013, quando foi divulgado o 

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, que nos deixou em 85º lugar, 

entre 106 países analisados. Entre estes países estão alguns dos mais pobres do mundo, 

os 106 ficamos em 85º – quase lanterninha –, e não nos traumatizamos. E nós nos 

traumatizamos por sermos o quarto ou até o terceiro em futebol, dependendo do 

resultado do jogo no próximo sábado. O mundo inteiro disputou para ter seus times na 

COPA. Foram selecionados 31 e nós fomos disputar com eles. Apenas 32 foram 

selecionados como os melhores. Aos poucos foram sendo eliminados. O nosso chegou 

ao último estágio, que são os quatro finalistas. Não chegamos à finalíssima, mas 

chegamos à anterior. Na pior das hipóteses, sairemos dessa Copa como a quarta melhor 

seleção de futebol do mundo. E o Brasil está de luto, num sofrimento que dói na gente, 

sobretudo quando vemos as crianças que choraram no estádio e nas ruas pela derrota 

que elas não esperavam. Nem entendem.

Mas não nos traumatizamos no dia 3 de dezembro de 2013, quando foi divulgada 

a classificação do Brasil na educação, entre 65 países, e ficamos em 58º. Uma avaliação 

que analisa 65 países, feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 

Econômico, da Europa, deixa-nos em 58º, entre 65 e não houve nenhum trauma naquele 

4 de dezembro, dia seguinte à divulgação do resultado. Este campeonato que não gerou 

qualquer tristeza, mas suas consequências para o Brasil são muito mais trágicas, do que o 

resultado do jogo contra a Alemanha.

Nós não tivemos o menor constrangimento, o menor trauma, a menor tristeza, 

quando, no dia 1º de março de 2011, a Unesco divulgou a sua classificação da educação

para 128 países, e nos colocou em 88º. Ou seja, um dos piores.

E, quando falamos em 128 países, estamos incluindo os mais pobres do mundo, 

não nos comportamos apenas com países da elite educacional, não foram apenas os 

BRICS, nem apenas os emergentes: Temos toda a razão emocional de estarmos tristes 

por termos sido excluídos da finalíssima decisão de quem será o campeão deste ano. 

Temos toda a razão de estarmos tristes, porque ainda não foi este ano que ganhamos o hexa, mas também precisamos ficar tristes com as outras nossas classificações: na 

educação, na saúde publica, na violência, no quadro social.

Todo o direito à tristeza, mas não esqueçamos as outras razões para sofrer 

também, até porque são essas outras razões de sofrimento que nos levariam a superar os 

nossos problemas e construir um futuro que nos vem sendo negado há séculos.

Precisamos ver, nessa derrota como jogador David Luiz no final do jogo, quando 

ainda dentro do campo, pela televisão, chorando, disse o seguinte: “Desculpa, por não 

ter feito vocês felizes nesta hora”. Veja a que grandeza: ele não disse que estava triste por 

não ser campeão do mundo. Estava triste por não ter feito a nós, os brasileiros, felizes 

nessa hora. E continuou “Mas aqui tem um cidadão disposto a ajudar a todos”, Ou seja, 

a derrota foi de um jogo, não foi a derrota de uma história. E continua: “Eu só queria 

dar alegria para o meu povo que sofre tanto por tanta coisa”. Esse sentimento vindo dele 

confesso que me surpreendeu, quando ele lembra: “queria dar uma alegria para esse 

povo que sofre tanto por tanta coisa”. E ele diz: “Queria pedir desculpa”, “só queria 

fazer meu povo sorrir pelo menos no futebol”.

Veja que sentimento esse rapaz teve. Sair daquela derrota chorando e lembrar-se 

do povo, lembrar-se do sofrimento do povo e lembrar-se, como ele diz, de o povo 

sorrir, pelo menos no futebol. “Porque já sofre tanto por tanta coisa”

O sofrimento não fica restrito ao futebol mas é o sofrimento do futebol que 

traumatiza. Os demais são tolerados, ignorados, por serem banalizados. Por isso não

damos tanta importância aos demais sofrimentos e não fazemos o dever de casa para 

consertar o resto ganhar outras copas. Não estamos jogando para sermos campeões 

mundiais na educação, para sermos campeões mundiais no saneamento, para sermos 

campeões mundiais, por exemplo, na paz das cidades. Embora fracassada, fazemos o 

dever de casa, para sermos competitivos no futebol, mas não estamos fazendo o dever 

de casa para o Brasil ser melhor, mais eficiente, mais justo, e não percebemos este 

fracasso. Por isso não sofremos, diante dos males banalizados. Sofremos porque o Brasil 

não é campeão mundial de futebol este ano – já foi cinco vezes –, mas não sofremos 

porque não estamos fazendo um Brasil melhor.

Quando vi o David Luiz pedindo desculpas, pensei: quem devia estar ali pedindo 

desculpas éramos nós os Senadores, os Deputados, os Ministros, os Governadores, a 

Presidente da República, porque somos nós que estamos em campo para fazer um Brasil melhor. Nós somos a seleção brasileira da política para a definição dos rumos do País. E 

nem ao menos lembramos que o papel do político é eliminar os entulhos que dificultam 

o caminho das pessoas à busca de sua felicidade pessoal.

Eles estavam em campo para fazer o Brasil campeão. Nós estamos em campo 

para fazer um Brasil melhor e não estamos conseguindo chegar nem ao quarto, nem ao 

décimo, nem ao vigésimo, nem ao quinquagésimo lugar. Estamos chegando ao 

octogésimo quinto no Índice de Desenvolvimento Humano, octogésimo oitavo na 

educação. Estamos perdendo de 103 a zero em Prêmio Nobel para a Alemanha.

O mais importante para o futuro do País não é o campeonato de futebol, embora 

esse toque mais na alma da gente, o maior campeonato que estamos perdendo são as 

condições sociais, as possibilidades de eficiência na economia, a educação, segurança, a 

saúde, a corrupção. Esses são os campeonatos que devem fazer com que nós brasileiros 

trabalhemos para superar.

O Davi Luís deu todo o seu esforço e nos colocou primeiro entre as seleções 

selecionadas para a Copa, porque muitas ficaram de fora; depois nos fez passar para 

oitava, para quarta e agora estamos nas finais, e apesar disso ele nos pede desculpas, “por 

não ter feito o povo sorrir, pelo menos no futebol” – como ele disse – pelo menos no 

futebol, mas não basta só o futebol. Pelo menos no futebol porque essa é a tarefa dele, 

mas aqui, nesta casa no congresso não basta o futebol.

Sofri ontem como qualquer brasileiro, mas eu quero agradecer aos jogadores que 

nos colocaram nessa posição.

Quero agradecer, ao David Luiz, quando ele nos deu esta lição: “Eu só queria 

fazer meu povo sorrir pelo menos no futebol.” Você não conseguiu, David Luiz, fazer o 

povo sorrir plenamente no futebol, mas você conseguiu nos despertar para o fato de que 

nós não estamos conseguindo fazer o povo sorrir pelas outras coisas das quais eu sou 

um dos responsáveis. 

Por isso, desculpa, David Luiz.

Cristovam Buarque, Professor da UnB e Senador pelo PDT-DF.