por Paulo Roberto de Almeida
A presidente Dilma Rousseff empossou nesta quarta-feira, em Brasília, os
sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, grupo de trabalho que irá
apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar, entre os anos
de 1946 e 1988.
Com voz
embargada, a presidente negou que o colegiado busque “revanchismo” ou a
possibilidade de “reescrever a história”. Ex-integrante da organização
clandestina VAR-Palmares, a presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios humanos irreparáveis” daqueles que lutaram
pela redemocratização do país...
peço
licença para discordar.
Como
ex-integrante de dois desses grupos que alinharam contra o regime militar, no
final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de
causa, que nenhum de nós estava
lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia burguesa",
que desprezávamos.
O que
queríamos, mesmo, era uma democracia "popular", ou proletária, mas
poucos na linha da URSS, por nós julgada muito "burocrática" e já um
tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la
cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais
revolucionário.
Os soviéticos
- e seus servidores no Brasil, o pessoal do Partidão - eram considerados
reformistas incuráveis, e nós
pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria
fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes
com os nossos propósitos.
Sinto
muito contradizer quem de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso
mesmo que todos os desses movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal no julgamento da
história.
Estávamos
equivocados, e eu reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não
reconhecerem e não fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim provocamos, o endurecimento do
regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim,
tem gente que pode até querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de deformar a história
ou mentir..
Paulo Roberto de Almeida é sociólogo e diplomata