Friday, November 09, 2012
Hagiografia da inversão.
Bruno
Braga.
A Comissão da
Verdade anunciou que um grupo de trabalho se dedicará à confecção de um
relatório sobre a atuação das igrejas – católica e protestantes – “no apoio ao
golpe e na repressão e também no da redemocratização” [1]. Em outras palavras,
ao seu conjunto de falsificações, a Comissão pretende acrescentar a sua própria
hagiografia: santificar os padres e pastores “progressistas”, colocando-os no
altar da adoração, e consagrar a Teologia Comunista da
Libertação.
Esta hagiografia,
no entanto, está fundada no ocultamento e na inversão. Ela omite o projeto
revolucionário que pretendia implantar um regime comunista de tipo
cubano-soviético-chinês no Brasil; e, automaticamente, denuncia como “golpistas”
os religiosos – inclusive os leigos – que se opuseram a ele.
Além disso, a
proposta da Comissão da Verdade, no caso específico da Igreja Católica, é uma
condenação. Uma sentença que retroage ao passado, quando ela se colocou contra o
assalto comunista; e funciona como uma advertência, para constrangê-la a não
criticar os revolucionários, que hoje estão no poder e gerenciam o grupo
encarregado de falsificar a História. Isto porque a Igreja preserva a oposição
ao Comunismo, como esclareceu o Santo Ofício em um documento de 1949, ainda
vigente:
1. É permitido
aderir ao partido comunista ou favorecê-lo de alguma
maneira?
Resposta. Não. O
comunismo é de fato materialista e anticristão; embora declarem às vezes em
palavras que não atacam a religião, os comunistas demonstram de fato, quer pela
doutrina, quer pelas ações, que são hostis a Deus, à verdadeira religião e à
Igreja de Cristo.
[...]
4. Fiéis
cristãos que professam a doutrina materialista e anticristã do comunismo, e
sobretudo os que as defendem e propagam, incorrem pelo próprio fato, como
apóstatas da fé católica, na excomunhão reservada de modo especial à Sé
Apostólica?
Resposta. Sim.
[2].
Nestes termos, a
proposta do grupo de Maria Rita Kehl é também uma censura da própria fé
católica.
Para a Comissão
da Verdade – quer dizer, da Mentira – os fiéis deveriam assistir passivamente a
tomada do país pelos comunistas, patrocinados por regimes nos quais os católicos
tinham duas opções, renunciar a fé ou ser fuzilado: eles optaram por morrer
gritando “Viva Cristo Rey!”.
A “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade” teria sido um ato criminoso - e um escândalo
obsceno quando no Rio de Janeiro ela reuniu um milhão de pessoas para reconhecer
a intervenção militar contra o Comunismo.
Para a Comissão
da Falsidade, a Igreja Católica deveria assistir a sua própria corrupção pela
Teologia Revolucionária da Libertação. O grupo excomungaria, inclusive, o
próprio Papa João Paulo II, que lutou contra o Comunismo e se esforçou para
combater os teólogos revolucionários. Os católicos não poderiam assistir à
repreensão pública que o Papa fez a Ernesto Cardenal, o padre da Libertação
nicaraguense, que fantasiado de Che Guevara se engrandecia apenas com um fuzil
na mão: