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sábado, 28 de dezembro de 2013

"Carrasco" é coisa de justiçamento. Interroguem a Dilma ela sabe quem executava os justiçamentos. (jn)_

28/12/13 - Mais um combate na rua
Mais um combate na rua
14/06/1972
Por Carlos Alberto Brilhante Ustra - Cel Ref EB
Matéria publicada no livro "A Verdade Sufocada"  9ª edição, de minha autoria
Caros amigos
Esta é a primeira parte da resposta à matéria publicada, hoje, 28/12/13, no Correio Braziliense, de autoria de Bertha Maakaroun, intitulada ” MP quer identificação dos carrascos”
Solicito, se julgarem procedente, que a divulguem, pois a internet é o único recurso de que dispomos para contestar matérias como a publicada hoje na imprensa e dar a nossa verdadeira versão.
 
Como resultado de um trabalho específico da Seção de Investigações, a partir de um infiltrado, chegamos à cúpula da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Localizamos o “aparelho” de Antônio Carlos Bicalho Lana (Bruno). Imediatamente, alugamos um apartamento de onde podíamos vigiar todas as suas saídas e entradas. Às 6h30, quatro carros da Seção de Investigações, trocados diariamente, dispondo de todos os recursos, ocupavam pontos estratégicos, aguardando a saída de Antônio Carlos do seu “aparelho”, o que nunca ocorria antes das 7 horas. 
Os terroristas evitavam andar na rua pela madrugada, para não provocar suspeita. O trânsito era a sua maior segurança. Quando “Bruno” saía de casa, os agentes que “moravam” no apartamento avisavam pelo rádio e as nossas viaturas iniciavam a “paquera” sobre ele. Tudo era feito com a máxima discrição: os carros sempre se revezando; os agentes trocando de roupa e colocando barbas ou bigodes postiços; as placas dos carros continuamente trocadas; as agentes da Polícia Militar ou da Polícia Civil disfarçadas. Elas, se fosse preciso, saberiam como usar suas armas. Eram exímias fotógrafas e, normalmente, operavam o rádio do carro.
O trabalho não poderia ser “queimado”, isto é, o elemento seguido não deveria perceber a nossa presença. Se isso ocorresse, ele, através de manobras rápidas com o seu carro (chequeio e contra chequeio), tentaria certificar-se de que o estávamos seguindo. Se pressentíssemos que isso estava acontecendo, a ordem era deixá-lo ir e abandoná-lo temporariamente, até que ele “desgrilasse” (não desconfiasse mais).

Depois de seguir Antônio Carlos por mais de 12 dias, fotografamos um “ponto” entre ele e Yuri Xavier Pereira (Big), outro líder do Comando Nacional da ALN. Nesse dia, abandonamos Antônio Carlos e nos concentramos em Yuri. Acabamos perdendo o seu rastro. Tivemos de recomeçar partindo do “aparelho” de Antônio Carlos. Mais três dias de “paquera” sobre ele e, afinal, assistimos a outro encontro com Yuri. Todo esforço, agora com maior cuidado, foi feito sobre Yuri. No fim da tarde, chegamos ao seu “aparelho”, num outro bairro distante do local onde residia Antônio Carlos. Convém explicar que, por medida de segurança, nenhum dos dois terroristas sabia onde o outro residia. Mas nós sabíamos onde ficava o “aparelho” de cada um.

Imediatamente, saímos à procura de um apartamento para alugar, próximo ao “aparelho” de Yuri. Encontramos um e seguimos as técnicas dos terroristas. “Um casal” foi designado para alugá-lo. O pessoal da Seção de Investigações foi dividido. Seis carros na “paquera” de Yuri e seis na “paquera” de Antônio Carlos. Das outras oito turmas, quatro vigiavam uma “ponta” do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e quatro ficavam na reserva.

A Seção de Investigações operava num canal de rádio próprio, diferente do outro canal usado pelo restante do DOI. Os membros dessa seção, como era praxe, não podiam comentar com os outros integrantes do DOI o que estava ocorrendo. Só eles, o comandante e o subcomandante do DOI tinham conhecimento da operação. A compartimentação e o sigilo da operação eram imprescindíveis para o nosso êxito.

No dia 14 de junho de 1972, Antônio Carlos saiu do seu “aparelho” às 7h15 e, como sempre, foi seguido por nós. Andou pela cidade e às 9 horas “cobriu um ponto”, no bairro Ipiranga, São Paulo, com Marcos Nonato da Fonseca (WW). Conversaram durante 15 minutos. Marcos entrou no carro de Antônio Carlos e partiram para o bairro da Lapa, onde se encontraram com outro militante, num ponto, exatamente às 10h30. Conversaram os três durante meia hora. Antônio Carlos e Marcos se despediram do camarada militante, embarcaram juntos no mesmo Volks e dirigiram-se para o bairro da Mooca. 

Yuri saiu do seu “aparelho” depois das 9 horas. Às 10 horas, “cobriu um ponto” com Ana Maria Nacinovic Correa (Bete). Às 10h45, os dois, no carro de Yuri, partiram em direção ao bairro da Mooca, por onde rodaram bastante. Às 12h15, Yuri e Ana Maria entraram no Bar e Churrascaria Varela, na Rua da Mooca, 3238. As Turmas da Seção de Investigações informaram o comando do DOI sobre o que ocorria e montaram um dispositivo de expectativa, quando aproveitaram para descansar e fazer um lanche. Uma sargento da Polícia Militar, acompanhada de outro agente, “seu namorado”, também entrou no restaurante para almoçar.

Antônio Carlos e Marcos continuaram sendo seguidos por nós. Eles estacionaram o carro e, para surpresa nossa, entraram também no Bar e Churrascaria Varela, indo sentar-se na mesma mesa com Yuri e Ana Maria. As Turmas de Investigação que seguiam Antônio Carlos e Marcos também montaram um dispositivo de expectativa.

O nosso “casal” que almoçava apressou-se, pagou a conta e saiu do restaurante. Informou ao capitão que comandava a operação todos os detalhes a respeito dos quatro terroristas: onde eles estavam sentados, a posição das mesas, a situação das armas.

Este era o momento adequado para a “derrubada”. Afinal, tínhamos ali juntos, almoçando, quatro Comandos Nacionais da ALN. Lá fora, restavam seis Turmas da Seção de Investigações, cada uma com dois membros. As outras seis já haviam sido recolhidas ao Destacamento.

O capitão resolveu prendê-los na saída do restaurante, pois esse estava cheio. Os quatro, certamente, não se entregariam sem reagir e, caso ocorresse um tiroteio no interior do restaurante, muitos inocentes poderiam ser atingidos.

Foram montados dois dispositivos para a prisão. Um em torno de cada carro, pois estes estavam estacionados em ruas distintas e um pouco distantes do restaurante. Para cada dispositivo foram designadas três turmas, isto é, seis elementos. 
A ordem era prendê-los quando estivessem entrando nos seus carros.

Quando os quatros saíram do restaurante, não procederam como imaginávamos. Todos se dirigiram para o carro de Yuri, estacionado na Rua Antunes Maciel. Nesse momento, o capitão decidiu prendê-los. Chamou Yuri pelo nome e determinou que se rendessem, pois estavam cercados. Ao receberem voz de prisão, reagiram prontamente à bala, ferindo dois de nossos agentes, bem como a menina Irene Dias, de dois anos de idade, residente na Rua Cuiabá, 172, e Rodolfo Aschrman, residente na Rua Paes e Barros, 2520.

O capitão tentou usar a sua metralhadora Beretta, que não funcionou. No auge da ansiedade, e para não demonstrar que portava uma metralhadora, ele havia retirado o carregador e o entregara a uma agente, tenente da Polícia Militar. O tiroteio foi feroz. A nossa tenente, debaixo de bala, rastejou pela rua e entregou ao capitão o tão esperado carregador que, afinal, foi colocado na metralhadora que começou a funcionar. Antônio Carlos saiu correndo entre os carros, sempre atirando com a sua metralhadora. Seqüestrou um automóvel que passava, jogando o seu motorista no chão, assumiu o volante e partiu em disparada. O tiroteio continuou por mais alguns minutos. Ao final, estavam mortos:

Yuri Xavier Pereira (Big), que usava identidades falsas com os nomes de Luiz E. Ferraco e Sérgio Amauri Ferreira; Ana Maria Nacinovic Correa (Bete), que usava identidades falsas com os nomes de Josefina Damas Mendonça, Maria das Graças Souza Rago e Sônia Maria Sampaio Além; e Marco Antônio Nonato da Fonseca, que usava a identidade falsa com o nome de Romildo Ivo da Silva.
Perdemos a pista de Antônio Carlos que, desconfiado, abandonou seu “aparelho”.