Fernando Gabeira, O Estado de S.
Paulo
A Hora do Lobo é um filme de Ingmar
Bergman. Os antigos a chamavam assim porque é a hora em que a maioria das
pessoas morre... e a maioria nasce. Nessa hora os pesadelos nos invadem, como o
fizeram com o personagem Johan Borg, interpretado por Max von Sydow.
Mas o PT está diante de um novo momento que poderia levá-lo a uma crise existencial, como o personagem de Bergman, atormentado pelos pesadelos. Pode também empurrá-lo mais ainda para o pragmatismo que cavou o abismo entre as propostas do passado e a realidade do presente.
O PT sempre usou duas táticas combinadas para enfrentar as denúncias de corrupção. A primeira é enfatizar seu objetivo: uma política social que distribui renda e reduz as grandes desigualdades nacionais. Diante da classe média, etiquetando-as como um comportamento da velha UDN,
partido marcado pela oposição a Getúlio Vargas e pela proximidade com o golpe
que derrubou João Goulart.A segunda é criar uma versão
corrigida para os fatos negativos, certo de que a opinião pública ficará
perdida na guerra de versões. Esta tática é a que enfatiza o desprezo da
política moderna pelas evidências, como se o confronto fosse uma guerra em que
a verdade é vitimada por ambos os lados.
Acontece que essa fuga das evidências
encontra seu teste máximo no julgamento do mensalão. O ministro Joaquim Barbosa
apresenta as acusações com grande riqueza de detalhes. As teses corrigidas
foram sendo atropeladas pelos fatos. Não era dinheiro público?
Ficou claro que sim, era dinheiro
público circulando no mensalão. Ninguém comprou ninguém, eram apenas
empréstimos entre aliados. Teses que se tornam risíveis diante da origem e do
volume do dinheiro. O PT salvando o PP de José Janene, Pedro Correa e Pedro
Henry da fúria dos credores?
O relatório de Joaquim Barbosa
apresenta o mensalão como uma evidência reconhecida pela maioria do Supremo,
dos órgãos de comunicação e dos brasileiros. Como ficará a tática do PT diante
dessa realidade? Negar a evidência? É um tipo de reação que, mesmo em tempo de
prosperidade econômica, não funciona quando os fatos são inequívocos.
Ao longo de minhas viagens observei
que o mensalão não havia afetado as eleições municipais. Mas o processo está em
curso. Algumas cidades já estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta
ocorre algo bastante irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter
o apoio do PT e por isso perde votos. Fruet foi um dos deputados que
investigaram o mensalão na CPI dos Correios.
Postado no Blog do Nobla
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