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segunda-feira, 8 de maio de 2006

Um Mobral para a política

Topa tudo
O PSDB se derramou em elogios ao período presidencial de 11 horas do senador Renan Calheiros no Palácio do Planalto não por desatenção ao ridículo da situação, mas porque anda fazendo qualquer negócio para ter o PMDB na aliança com Geraldo Alckmin.

Assim Dora Kramer do Jornal Estado de São Paulo, 8mai2006, encerra o artigo onde o Ministro esclarece, alguns pontos de seu discurso de posse.
De washington
Jose C Nascimeto

Dora Kramer
O ministro Marco Aurélio Mello garante: não fez seu discurso de posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral falando do país do "faz-de-conta", onde reina "ostensiva arrogância na burla dos ordenamentos legais", pensando em lançar carapuças exclusivamente na direção do Palácio do Planalto e do PT.
Seu intuito foi vocalizar o que "estava na garganta dos brasileiros" em relação aos escândalos em cartaz, é verdade.
Mas foi também o de lançar um alerta geral contra o analfabetismo político, esteja ele traduzido no conformismo diante de desonestidade, na tolerância da Justiça Eleitoral para com infratores da lei - principalmente depois que vencem as eleições -, na onda de pregação do voto nulo como forma de protesto ou na aceitação de práticas ilegais como condição inerente à política brasileira.
"Revi meu discurso oito vezes, pesei, medi e decidi que deveria pôr o dedo na ferida, tentando mostrar que o País não pode se render à desorganização ética, política e institucional", diz o ministro, para quem esse tipo de situação só se resolve com o exercício do discernimento cívico e com intolerância total à ilegalidade.
Nesse sentido, o recado do discurso de posse teve como alvos seus pares no Judiciário, os candidatos como um todo e os agentes públicos, todos acostumados com uma certa passividade no tocante às deformações do processo político-eleitoral. "Um exemplo é a aceitação do uso do caixa 2 quase que como algo legítimo", aponta.
Mas, não teria o presidente do TSE se associado ao "faz-de-conta" vigente ao falar em tese, evitando dar nome e sobrenome aos protagonistas do que ele mesmo chama de "avalancha de delitos que assola o País"?
"Não posso especificar ninguém, pois vou julgar e não poderia me expor à contestação da minha condição de juiz nas eleições."
Mas ele será um magistrado, digamos, ativo. Marco Aurélio Mello pretende liderar uma campanha nacional contra o voto nulo, a ser lançada mais perto do pleito, provavelmente em agosto. A idéia é falar principalmente ao público mais jovem, "muito dado a protestos inconseqüentes, sem perceber que a verdadeira revolução de condutas se faz é pelo voto positivo e consciente".
O presidente do TSE fica impressionado com a quantidade de e-mails que recebe diariamente de gente manifestando disposição de anular o voto para expor sua indignação com os políticos. "Esse tipo de analfabetismo só favorece o autoritarismo e a desfaçatez dos malfeitores."
Por isso, ele acha que a campanha deve se concentrar no esclarecimento sobre a importância do voto como instrumento de avanço político. Mas ele se preocupa em fazer isso sem nenhuma implicação de "desequilíbrio do certame". Traduzindo: é preciso fazer a campanha de conscientização sem correr o risco de, com isso, favorecer ou desfavorecer candidaturas.
Se dependesse do presidente do TSE, aliás, a conscientização se resolveria de maneira mais radical: com a instituição do voto facultativo. Marco Aurélio Mello é favorável à extinção do voto obrigatório, uma tese amplamente rejeitada entre os políticos.
"Tenho como premissa que o voto deve ser pautado pela avaliação crítica, pelo convencimento do eleitor. Ele não pode ser compelido ao exercício de um direito-dever. Quando o faz com contrariedade, e isso acontece na grande maioria, acaba votando de qualquer maneira, sem dar a atenção devida à importância do gesto."
Vida leva ele
Na hora de se valer dos dividendos eleitorais proporcionados pela excelência de desempenho da Petrobrás, o presidente da República trata a companhia como "patrimônio do povo" e propriedade política de seu governo.
Quando se trata da defesa objetiva de seus interesses, mas esta se choca com as conveniências do teatro encenado pelo neopopulismo em voga na América Latina, a Petrobrás é posta na condição de "uma empresa como outra qualquer". Assim falou sua excelência no encontro de Puerto Iguazú para se distanciar da decisão da empresa de suspender investimentos na Bolívia.
A ambigüidade alimenta a desconfiança de que o que Lula diz não se escreve e sustenta a certeza entre os vizinhos de continente de que o presidente do Brasil é um parceiro em estado de permanente fragilidade.
Não toma posição, não tem opinião própria, não dispõe de convicções sobre temas objetivos, vai para onde a onda o levar.
Evo Morales talvez não tenha essa percepção por completo. Mas Hugo Chávez e Nestor Kirchner - para ficar só nos convivas de Puerto Iguazú - têm a perfeita noção: estão diante de um interlocutor sem tutano.
Topa tudo
O PSDB se derramou em elogios ao período presidencial de 11 horas do senador Renan Calheiros no Palácio do Planalto não por desatenção ao ridículo da situação, mas porque anda fazendo qualquer negócio para ter o PMDB na aliança com Geraldo Alckmin.

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