Jornal GGN
- Há menos de três meses, um jovem hacker recém formado pela Universidade
de Brasília acessou o sistema das urnas eletrônicas no TSE e descobriu, entre 90 mil
arquivos, um software que possibilita a instalação de programas fraudados: o
“Inserator CPT”. A ação foi planejada pela CMind (Comitê
Multidisciplinar Independente), formado por especialistas em
tecnologia.
A advogada Maria Aparecida Cortiz, que participa do
grupo, articulou a estratégia dentro do Tribunal Superior Eleitoral,
representando o PDT, depois que o presidente da Corte Dias Toffolli anunciou que
não abriria edital para testes nas urnas das eleições 2014. “Não vai fazer
teste? Então vamos por um hacker lá dentro para descobrir o que tem de errado”,
disse em entrevista ao GGN.
Cortiz descobriu outra brecha no sistema: além
do Inserator, o
programa comandado pela empresa Módulo Security S/A – conforme relato do GGN a
única proprietária do serviço por 13 anos com contratos irregulares – é
transmitido de Brasília para os estados por meio da insegura rede da Internet.
As denúncias de irregularidades foram enviadas ao
TSE em uma petição. Entretanto, a petição não virou processo e foi arquivada
por um juiz da Secretaria de Informática. Além da omissão do próprio ministro
Dias Toffoli, a advogada ainda denuncia o desaparecimento de quatro páginas do
documento. “É o crime perfeito. O réu julga suas próprias ações”, conclui.
Leia a entrevista completa:
GGN: Como seria fazer uma auditoria preventiva para
evitar as fraudes eleitorais?
O problema do TSE é a concentração do poder. Para
fazer uma auditoria, temos os limitadores que eles próprios nos impõem.
Uma auditoria no software é inócua, porque é muito
cara, muito demorada e existem sempre as cotas do fundo. E a gente não
conseguiria ter certeza que tudo o que a gente pediu seria implementado e que
estaria sendo usado no dia da votação.
GGN: E o processo de auditoria feito em
janeiro de 2013, investigando as licitações da Módulo Security S.A.?
Todas as licitações foram feitas para manter a
Módulo. Isso é fato, notório, público, poraquelas consultas que eu fiz nos
Diários Oficiais, que são documentos públicos, que todos os
procedimentos foram feitos para manter a empresa Módulo lá dentro, no TSE. O
que é a empresa Módulo? É responsável pela segurança do sistema. É responsável
pelos SIS, um sistema de instalação de segurança, é o primeiro sistema que
confirma as assinaturas para validar os programas que são colocados na urna.
O TSE, com a concentração de poderes, não deixa a
gente fazer nada e a gente não tinha mais solução para tentar mudar esse
sistema. Aí eu propus para o grupo, que é o CMind [Comitê Multidisciplinar
Independente], em que o Pedro Rezende e o Diego Aranha também trabalham, e que
a gente milita. Propus a eles que a gente colocasse um hacker dentro do TSE. Eu
falei: consigam a pessoa, que eu vou ficar com ele lá dentro, dar as dicas,
porque, embora a minha formação não seja técnica, estou lá há muitos anos, eu
sei como funciona.
O Diego e o Pedro escolheram um menino chamado
Gabriel Gaspar, que foi aluno deles na UNB. Em agosto, conseguiu ir. Por
orientação, ele foi trilhando o mesmo caminho do Diego no código fonte. Diego
Aranha é aquele técnico da UNB, professor que descobriu o desembaralhamento dos
votos, que dava para identificar o eleitor. Então, o Diego orientou, disse o
caminho, o que era importante.
A gente descobriu, no meio de 90 mil arquivos, um
artefato (a gente chamou assim) no sistema de segurança, que é desenvolvido
pela Módulo. Achamos que aquilo era importante, e fizemos todo um estudo. Para
que ele serve? O ministro [Toffoli] assina um programa, manda para os outros
ministros, Ministério Público e OAB assinarem, envia esse programa para os
estados, e só poderia funcionar nas urnas esses que vieram de Brasília,
concorda? Só que usando o "Inserator" podem ser instalados
programas na urna, assinados por esse artefato. Ele está apto a validar
programas não oficiais. Foi uma descoberta muito importante. Isso foi agora,
dia 4 de setembro.
Em 2013, eu não sabia como que eles faziam, quando
eu fiz o estudo da licitação da Módulo, sabia que a empresa estava usando
alguma coisa, mas não o que era. Neste ano, nas eleições 2014, eu descobri como
o programa foi utilizado, lá em Londrina, em 2012: com o Inserator.
A gente descobriu o nome dele e onde ele estava: dentro do sistema de
segurança, é um subsistema.
GGN: E o resultado disso?