57 milhões de votos falam: junho não acabou
Dilma ainda é a favorita para vencer a
eleição, mas a chance de Aécio está na conquista do sentimento de mudança que
embalou Marina – e que a abandonou às vésperas do primeiro turno.
DIEGO ESCOSTEGUY
A presidente Dilma Rousseff venceu o primeiro turno – mas venceu perdendo. A petista ainda é a
favorita. Teve, no entanto, substancialmente menos votos válidos do que no
primeiro turno de 2010. Aécio Neves, do PSDB, teve mais votos do que José Serra em 2010. E a Marina Silva de 2014, mesmo definhando na última semana, teve mais votos do que
a Marina de 2010. A demografia dos votos, contudo, não se alterou: Dilma deu
uma surra no Norte e no Nordeste e a oposição saiu-se bem no Sul, no
Centro-Oeste e no Sudeste. A classe média urbana votou na oposição; os pobres votaram
em Dilma. O que mudou de 2010 para cá, irrefutavelmente? Os protestos de junho
de 2013 – e os sentimentos que os definiram. São sentimentos que persistem, e
cujos efeitos ainda podem decidir esta eleição presidencial.
Eles se misturam: desejo de mudança, repulsa à política, rejeição ao PT,
desencanto, raiva, esperança. O desejo generalizado de mudança, comprovado
pelas pesquisas, confunde-se à rejeição ao PT – um fenômeno consistente, que
cresce nas classes médias urbanas. Somando-se Aécio e Marina, esses sentimentos
somam quase 57 milhões de votos. É gente que, se não foi para a rua em junho do
ano passado, aplaudiu quem estava lá. E vaia o PT.
Eduardo Campos era o político que melhor compreendia a força eleitoral desses
sentimentos. Marina Silva era a política que mais beneficiava deles. A morte de
Eduardo e o fracasso de Marina, porém, não significam que esses sentimentos se
esvaíram.
Na noite de domingo (5), enquanto Dilma, emoldurada pela campanha
do PT, agradecia Lula, Aécio agradecia Eduardo Campos, em frente ao verde-e-amarelo da bandeira do Brasil. O primeiro
obrigado não atrai votos; o segundo pode fazer história. “Aos seus ideais (de
Eduardo Campos), a minha reverência”, disse Aécio, falando em coisas como
“sonhar” e “acreditar” na “mudança”.
Para Aécio, a vitória passa por junho, e junho passa por Recife. Antes
de precisar do apoio de Marina, Aécio precisa do apoio de Renata Campos, a
viúva de Eduardo Campos. Os “ideais” aos quais se referiu Aécio no discurso de
ontem produziram o fenômeno Marina. Mesmo ao desmoronar, a candidatura de
Marina ainda foi capaz de vencer emPernambuco, com 2,3 milhões de votos - o único estado do Nordeste em que Dilma
perdeu. (Pernambuco é o sétimo estado mais populoso do país.) Para vencer,
Aécio precisa do sentimento que ainda pulsa forte em Pernambuco – e dos votos
que ele consegue conquistar.
desencanto, raiva, esperança. O desejo generalizado de mudança,
comprovado pelas pesquisas, confunde-se à rejeição ao PT – um fenômeno
consistente, que cresce nas classes médias urbanas. Somando-se Aécio e Marina,
esses sentimentos somam quase 57 milhões de votos. É gente que, se não foi para
a rua em junho do ano passado, aplaudiu quem estava lá. E vaia o PT.
Eduardo Campos era o político que melhor compreendia a força eleitoral desses
sentimentos. Marina Silva era a política que mais beneficiava deles. A morte de
Eduardo e o fracasso de Marina, porém, não significam que esses sentimentos se
esvaíram.
Na noite de domingo (5), enquanto Dilma, emoldurada pela campanha
do PT, agradecia Lula, Aécio agradecia Eduardo Campos, em frente ao verde-e-amarelo da bandeira do Brasil. O primeiro
obrigado não atrai votos; o segundo pode fazer história. “Aos seus ideais (de
Eduardo Campos), a minha reverência”, disse Aécio, falando em coisas como
“sonhar” e “acreditar” na “mudança”.
Para Aécio, a vitória passa por junho, e junho passa por Recife. Antes
de precisar do apoio de Marina, Aécio precisa do apoio de Renata Campos, a
viúva de Eduardo Campos. Os “ideais” aos quais se referiu Aécio no discurso de
ontem produziram o fenômeno Marina. Mesmo ao desmoronar, a candidatura de
Marina ainda foi capaz de vencer emPernambuco, com 2,3 milhões de votos - o único estado do Nordeste em que Dilma
perdeu. (Pernambuco é o sétimo estado mais populoso do país.) Para vencer,
Aécio precisa do sentimento que ainda pulsa forte em Pernambuco – e dos votos
que ele consegue conquistar.
Ainda é cedo para saber se Aécio tem condições de operar esse pequeno
milagre. O discurso de domingo, em que se apresentou como líder de um
movimento, e não de um partido, foi o primeiro passo. Aécio terá que se
mostrar, num curtíssimo espaço de tempo, maior do que o PSDB. Terá que ir além
da repetição de platitudes como “decência” e “eficiência”. Não pode ser
percebido como um mero gestor, ou definido como um tucano. Terá que se revelar
um político de primeira grandeza, que fale ao coração de um eleitorado cansado,
desconfiado, à espera de um futuro que não vislumbra – de um país que gostaria
de enxergar.
Mesmo que Aécio faça tudo certo, Dilma, cuja base eleitoral é
relativamente sólida, terá que errar muito para perder. Terá que errar a mão
nos previsíveis ataques contra Aécio – e no também previsível discurso moderado
para seduzir os indecisos. Terá, talvez, que ser ferida pelas ainda inéditas
revelações das delações do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Ao fim, a única chance de Aécio é contrapor o desejo de mudança à
candidatura de Dilma – o verde-e-amarelo ao vermelho. Se der certo, será o
desejo de mudança a serviço da polarização – aquele que, em parte, causou o
desejo de mudança.