O governo acabou
Os ministérios estão paralisados. O que se mantém é a rotina administrativa
O governo
Dilma definha a olhos vistos. Caminha para um fim melancólico. Os agentes
econômicos têm plena consciência de que não podem esperar nada de novo. Cada
declaração do ministro da Fazenda é recebida com desdém. As previsões são
desmentidas semanas depois. Os planos não passam de ideias ao vento. O governo
caiu no descrédito. Os ministérios estão paralisados. O que se mantém é a
rotina administrativa. O governo se arrasta como um jogador de futebol, em fim
de carreira, aos 40 minutos do segundo tempo, em uma tarde ensolarada.
Apesar do
fracasso — e as pífias taxas de crescimento do PIB estão aí para que não haja
nenhum desmentido —, Dilma é candidata à reeleição. São aquelas coisas que só
acontecem no Brasil. Em qualquer lugar do mundo, após uma pálida gestão, o
presidente abdicaria de concorrer. Não aqui. E, principalmente, tendo no
governo a máquina petista que, hoje, só sobrevive como parasita do Estado.
A
permanência no poder é a essência do projeto petista. Todo o resto é
absolutamente secundário. O partido necessita da estrutura estatal para
financeiramente se manter e o mesmo se aplica às suas lideranças — além dos
milhares de assessores.
É nesta
conjuntura que o partido tenta a todo custo manter o mesmo bloco que elegeu
Dilma em 2010. E tem fracassado. Muitos dos companheiros de viagem já sentiram
que os ventos estão soprando em sentido contrário. Estão procurando a oposição
para manter o naco de poder que tiveram nos últimos 12 anos. O desafio para a
oposição é como aproveitar esta divisão sem reproduzir a mesma forma de aliança
que sempre condenou.
Como o
cenário político foi ficando desfavorável à permanência do petismo, era mais
que esperada a constante presença de Lula como elemento motivador e agregador
para as alianças. Sabe, como criador, que o fracasso eleitoral da criatura será
também o seu. Mas o sentimento popular de enfado, de cansaço, também o atingiu.
O encanto está sendo quebrado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje suas
viagens internacionais não têm mais o apelo do período presidencial. Viaja como
lobista utilizando descaradamente a estrutura governamental e intermediando
negócios nebulosos à custa do Erário.
Se na
campanha de 2010 era um presidente que pretendia eleger o sucessor, quatro anos
depois a sua participação soa estranha, postiça. A tentativa de transferência
do carisma fracassou. Isto explica por que Lula tem de trabalhar ativamente na
campanha. Dilma deve ficar em um plano secundário quando o processo eleitoral
efetivamente começar. Ela não tem o que apresentar. O figurino de faxineira,
combatente da corrupção, foi esquecido. Na história da República, não houve um
quadriênio com tantas acusações de “malfeitos” e desvios bilionários, como o
dela. O figurino de gerentona foi abandonado com a sucessão de “pibinhos”. O que
restou? Nada.
Lula está
como gosta. É o centro das atenções. Acredita que pode novamente encarnar o
personagem de Dom Sebastião. Em um país com uma pobre cultura democrática, não
deve ser desprezada a sua participação nas eleições.
A paralisia
política tem reflexos diretos na gestão governamental. As principais obras
públicas estão atrasadas. Boa parte delas, além do atraso, teve majorados seus
custos. Em três anos e meio, Dilma não conseguiu entregar nenhuma obra
importante de infraestrutura. Isto em um país com os conhecidos problemas nesta
área e que trazem sérios prejuízos à economia. Mas quando a ideologia se
sobrepõe aos interesses nacionais não causa estranheza o investimento de US$ 1
bilhão na modernização e ampliação do porto de Mariel. Ou seja, a ironia da
história é que a maior ação administrativa do governo Dilma não foi no Brasil,
mas em Cuba.
Os
investimentos de longo prazo foram caindo, os gastos para o desenvolvimento de
educação, ciência e tecnologia são inferiores às necessidades de um país com as
nossas carências. Não há uma área no governo que tenha cumprido suas metas, se
destacado pela eficiência e que o ministro — alguém lembra o nome de ao menos
cinco deles? — tenha se transformado em referência, positiva, claro, pois
negativa não faltam candidatos.
O
irresponsável namoro com o populismo econômico levou ao abandono das contas
públicas, das metas de inflação e ao desequilíbrio das tarifas públicas. Basta
ver o rombo produzido no setor elétrico. A ação governamental ficou pautada
exclusivamente pela manutenção do PT no poder. As intervenções estatais
impuseram uma lógica voluntarista e um estatismo fora de época. Basta citar as
fabulosas injeções de capital — via Tesouro — para o BNDES e os generosos
empréstimos (alguns, quase doações) ao grande capital. E a dívida pública, que
está próxima dos R$ 2,5 trilhões?
No campo
externo as opções escolhidas pelo governo foram as piores possíveis. Mais uma
vez foi a ideologia que deu o tom. Basta citar um exemplo: a opção preferencial
pelo Mercosul. Enquanto isso, o eixo dinâmico da economia mundial está se
transferindo para a região Ásia-Pacífico.
Ainda não
sabemos plenamente o significado para o país desta gestão. Mas quando
comparamos os nossos índices de crescimento do PIB com os dos países emergentes
ou nossos vizinhos da América Latina, o resultado é assustador. É possível
estimar que no quadriênio Dilma a média sequer chegue a 2%. A média dos
emergentes é de 5,2%, e da América Latina, de 3,2%. E o governo Dilma ainda tem
mais sete meses pela frente. Meses de paralisia econômica. Haja agonia.
Marco
Antonio Villa é historiador
Créditos total O GLOBO