O soberano pode tudo ou não 25ABR2010
Paulo Brossard
Dir-se-á que a Carta de 37 atribuiu ao presidente da República a prerrogativa de “indicar um dos candidatos à Presidência da República”. Mas a “polaca” tinha sua razão de ser, pois logo após o golpe de 10 de novembro, os partidos foram extintos e vedada a atividade partidária. Fez-se um vazio que a Carta autoritária e bastarda ocupou para aquinhoar o presidente da prerrogativa.
Suponho, porém, que as vísceras da Carta de 37 não sirvam de exemplo e muito menos de precedente em relação à Constituição de 1988. Seja qual for o ineditismo bolivariano adotado entre nós, a escolha está feita em termos mussolinianos e a candidata eleita pelo presidente é candidata, ainda que afrontando a lei; e mais, entregando-se à sua propaganda antecipada e ilegal, fez com que o autor dessas licenças merecesse duas sanções da Justiça Eleitoral. Duas multas, de R$ 5 mil e R$ 10 mil. Em termos pecuniários, não compromete o patrimônio do presidente, mas sob o aspecto político e moral é sanção indelével. Contudo, o presidente da República não reagiu assim, pois rebelou-se contra a Justiça em declaração pública e, diante da reação havida, autoridades judiciárias, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, notou que todos estão sob a lei e não acima dela. A reação foi tal, que o presidente veio às falas declarando não ter criticado a Justiça, mas os partidos…
Mudo de assunto e fico a pensar nos bolivarianos que estão a brincar com o Irã, agora a menina dos olhos do presidente Luiz Inácio e, enquanto as nações mostram real preocupação com os rumos nucleares de Mahmoud Ahmadinejad, ele continua blandicioso para o governante de um Estado do qual se pode dizer tudo, menos que seja democrático.
Confesso que não tenho ciência para dizer o que deve ser feito em relação aos amigos do presidente brasileiro. Mas recordo da inutilidade das “sanções” da Sociedade das Nações quando Mussolini invadiu a Etiópia e depois da posição apaziguadora da Europa, e desta forma Hitler se apossou da Tchecoslováquia, por via dos sudetos dizendo ser a sua última exigência. Sem demora, absorveu a Áustria jurando ser sua última vindicação. Foi quando Chamberlain, voltando de Munique, ao chegar à Inglaterra declarou que levava a paz para uma geração, e foi aplaudido. A última das últimas exigências de Hitler durou pouco. Não era a última. Passou a exigir a cidade de Dantzig e dali, com a invasão da Polônia, iniciava-se em setembro de 39 a mais cruenta das guerras, que subverteu o mundo inteiro.
Estes fatos me fazem lembrar que a tolerância ou a complacência ou a leniência com fanatismo armado dificilmente leva a segura paz e paradoxalmente tem gerado a guerra. Não faço previsões, mas transmito ao leitor as minhas efetivas apreensões do modelar a respeito