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domingo, 17 de novembro de 2013

Jarbas Passarinho – A DESCULPA DOS VENCEDORES

Se o que fizemos o foi útil, estulta é a glória !
27 Nov 2
CelsoDaniel3
A DESCULPA DOS VENCEDORES
Em 1962, a guerra  revolucionária,  uma estratégia  de expansão  violenta  do comunismo internacional, erigira regimes comunistas na Europa, na Ásia, na África e em Cuba. No auge da guerra fria grassavam guerrilhas comunistas na América Latina. Brasileiros, ainda nos Governos Jânio e Jango, foram enviados à China para treina- mento de guerrilha. Prestes, agradecendo homenagem do Governador Miguel Arraes, no Recife, disse: “Nós, comunistas,  estamos no Governo, mas ainda não no Poder.” Um recado para o Exército, que não esquecera  a Intentona Comunista de 1935 e estudava,  como de sua obrigação, os tipos de guerra revolucionária bem-sucedidos.
O que vimos como ameaça concreta, diz-se hoje, era paranóia anticomunista. Em seguida, ocorreram os motins. Sargentos ocuparam, em ação armada, par-
te de Brasília, prenderam  ministro  e foram vencidos à bala. Marinheiros, no Rio, abandonaram navios de guerra, desembarcaram, foram homiziados no sindicato dos metalúrgicos  do Rio. Fuzileiros navais, enviados para prendê-los,  confraternizaram com eles. No Congresso, veementes  discursos ligavam os fatos a um estado real da guerra revolucionária.  As mulheres,  terços  à mão, ombrearam com 1 milhão  de paulistas  alarmados, na passeata  de São Paulo, rezando por Deus e pela liberdade. Epidemia paranóica? Da grande imprensa também, que se permitiu bradar “basta!” ao Presidente Jango. E a paranóia levou o Bispo D. Paulo Evaristo Arns a ir ao encontro das tropas do General Mourão, que desciam de Juiz de Fora, para abençoá-las contra o imaginado perigo comunista,  e ajudou a depor um presidente  constitucional.
Desse alarme generalizado,  censurado hoje como pretexto,  nasceu o 31 de
Março de 1964.
No Poder, cometemos o erro de reerguer a combalida economia brasileira, início do “milagre brasileiro”. Em 1965, comunistas  reagruparam-se na nobre mis- são de derrotar a perversa ditadura militar e erigir a ditadura do proletariado,  a do
paraíso soviético. Dividiram-se em muitas facções. Do contrário,  teriam assumido o Poder no Brasil os valentes militantes comunistas Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Amazonas Pedroso, José Dirceu, Apolônio de Carvalho e outros  valiosos quadros. Prestes e Brizola, não.
Aquele, porque contrário à saga da luta armada; este, rejeitado por fracassar a guerrilha  de Caparaó, vergonhosamente  presa sem dar um tiro,  desperdiçando milhões de dólares de Fidel Castro. Bravamente, nossos comunistas  seqüestraram diplomatas, a começar pelo embaixador dos Estados Unidos, país de quem, “lacai- os, havíamos cumprido a ordem de derrubar  Jango”. Não só isso, como ainda,  em seu lugar, pôr o General Castello Branco, exigência de que teria  sido emissário o adido americano,  General Vernon Walters, que ficara amigo de Castello Branco na FEB, na Itália.
Centenas do lado da ditadura  foram mortos – como deviam ser –, pois eram “antipatriotas e antipovo”. Lamarca matou logo dois: um segurança de banco e um tenente da PM paulista, seu refém. Agente da famigerada CIA e financiadores  da repressão foram “justiçados”. Sentinelas,  o corpo destroçado por explosivo aciona- do por ousados terroristas,  foram o preço inevitável  da luta  popular e patriótica.
Perderam os comunistas  intrépidos  combatentes  na luta  armada,  mas não morreram em vão. Aos seus descendentes, o governo de esquerda indenizou com R$ 150 mil cada. 
Ruas têm hoje seus nomes. Monumentos são projetados para perpetuar sua memória. Os sobreviventes,  quando não indenizados,  foram promovidos ao posto mais alto,  receberam os atrasados  em ressarcimento  de preterição,  ampliando  a anistiazinha  concedida  por lei pelos militares.  A última  extensão,  no atual governo, está reparando a violência contra centenas  de marinheiros e fuzileiros,  legitimando  o motim que foi um dos pretextos  para  o golpe de 1964. O presidente  da comissão especial que já indenizou 280 famílias de vítimas do regime militar, com R$ 100 mil ou R$ 150 mil cada, “vê com bons olhos a ampliação” dos trabalhos,  para contemplar outras vítimas, enquanto  Lula, se for eleito presidente, acaba de prometer publicamente  estender  as indenizações e reinterpretar a lei de anistia  para punir os torturadores, que se beneficiaram da anistia  recíproca. Eis a versão dos vencidos.
Diante disso, os vencedores pedem desculpas em nome das centenas  dos que morreram certos de lutar pela Pátria e cujas famílias não mereceram receber indenizações. Em nome, igualmente,  da memória dos covardemente  assassinados; dos que tombaram no atentado terrorista  no aeroporto do Recife; do soldado sentinela do II Exército cujo corpo se fragmentou,  despedaçado pelo explosivo dos terroristas, que dessa ignomínia se vangloriam em livro premiado em Cuba; do tenente da PM paulista,  refém de Lamarca, o crânio esfacelado a coronhadas; dos seguranças brasileiros de embaixadores estrangeiros;  dos vigilantes de banco privado; do major alemão,  aluno  da Escola de Estado-Maior do Exército, abatido  no Rio “por engano”. Tomando de Cecília Meireles os versos “são doces mortes livres do peso de prantos”,  esses que para os assassinos não tinham  pai nem mãe, nem geraram filhos, pois eram o lixo da revolução leninista.  Pedem desculpas, ainda, os que tive- ram a carreira militar interrompida,  ou cassados seus títulos  acadêmicos, devido à acusação não comprovada de tortura, baseada numa única testemunha facciosa; os que na história  reescrita  pelos vencidos, amplamente  divulgada nas escolas, são meros golpistas usurpadores  do Poder movidos pela paranóia  anticomunista.
São quase mortos-vivos a sofrer o “revanchismo” dos que, derrotados  pelas armas, são vitoriosos pela versão que destrói  os fatos,  nutrida  no governo de esquerda  moderada.
Todos pedem desculpas  aos comunistas  que combateram  e venceram,  até porque há 300 anos se diz que, na vida, não há como escapar das injúrias do tempo e das injustiças  dos homens.
Jarbas Passarinho
(ref. 1964 – 31 DE MARÇO: O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO E A SUA  HISTÓRIA -   – Bibliex –coord. Gen Aricildes de Moraes Motta)
JARBASPASSARINHO