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sábado, 16 de outubro de 2010

Tempo de recordar 4 - faltam 15 dias

19SET2010 o ESTADÃO
EDITORIAL
O mal a evitar
A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como
um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que
tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também
todo o direito de não estar gostando da cobertura que o
Estado,
como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa
deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão
agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta
página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre
"se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa
eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se
não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, oEstado apoia
a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas
pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e
pelo que ele pode representar para a recondução do País ao
desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio
deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor
possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente,
não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a
investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que
degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem,
como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em
função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de
todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se
torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela
invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e,
se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da
companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os
eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro,
não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a
distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e
têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é
se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu
partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos
interesses de sua facção.
Não
precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final
de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes,
alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem
se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa -
iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover
o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm
permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais
de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana.
Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um
país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se
desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de
desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente
frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer
parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja
sujeito e não mero objeto.
Se
a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam
pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se
no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes
políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o
solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a
começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um
chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se
entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o
"cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o
grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode
ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o
mal a evitar.
Texto publicado na seção "Notas e Informações" da edição de 26/09/2010