Não há disfarces, constrangimentos nem meias palavras. A campanha eleitoral de Dilma Rousseff abriu a temporada de distribuição de lotes na administração federal a políticos e partidos aliados para assegurar a fidelidade de deputados e senadores à candidata.
Como quem diz: o fisiologismo grassa no governo Luiz Inácio da Silva e suas excelências podem ficar tranquilas que continuará grassando desbragadamente se Dilma for eleita presidente.
É um dando que se recebe estilizado, por antecipado. Agora o parlamentar dá sua contribuição à campanha empenhando-se na eleição de Dilma e mais à frente, quando (e se) ela for eleita presidente, recebe a sua parte em cargos e/ou boa vontade do Executivo na liberação do dinheiro das emendas ao Orçamento da União.
Não há outra maneira de interpretar duas reuniões ocorridas nesta semana em Brasília, uma com senadores outra com deputados federais, ambas com a presença de ministros de Estado sob a coordenação do ministro das Relações - note-se - Institucionais, Alexandre Padilha.
O objetivo dos encontros foi o mesmo: conectar as demandas dos parlamentares ao engajamento de cada um à campanha de Dilma. As reuniões foram feitas na hora do almoço a fim de que a máquina pública fosse usada sob os auspícios do cinismo, mas de consciências tranquilas.
Do encontro dos mais de 100 deputados com 13 ministros pouco transpirou. Apenas o suficiente para se delinear o quadro: reclamações de liberações de verbas, queixas sobre convênios e garantias de que as coisas nessa seara transcorrerão mais escorreitas.
Já do almoço dos senadores se soube mais. Pela voz do candidato a vice e presidente da Câmara, deputado Michel Temer, foi anunciada a "integração absoluta" entre ministros e senadores que recebiam naquele momento a tarefa de tocar a campanha de Dilma nos respectivos Estados, mediante um compartilhamento governamental mais adiante.
A frase literal foi a seguinte: "Isso aqui é uma integração absoluta, uma troca de informações entre o governo que está e o governo que estará. Estamos aqui partilhando o pão e queremos compartilhar com vocês o próximo governo."
Depois, quando o candidato do PSDB, José Serra, o chama de "mercadoria" Michel Temer acha ruim. Reclama da "grosseria inominável".
E o cidadão que vê uma coisa dessas acha o quê, uma manifestação de elegância cívica?
O deputado - note-se - presidente da Câmara pregando no altar de São Francisco ("é dando que se recebe") já com a autoridade de protagonista. Conforme, aliás, ele mesmo definiu o papel do PMDB caso Dilma venha a ser eleita.
E isso porque a eleição ainda está equilibrada e só acontece daqui a dois meses. Se ocorrer realmente a vitória, o plano engendrado pelo partido é repetir o governo José Sarney.
Para os mais jovens, uma explicação: Sarney não apenas inaugurou o primeiro governo civil (eleito indiretamente) pós-ditadura, como estreou a sistemática do fisiologismo deslavado a título de "governabilidade". Ali (1985) o PMDB imprimiu sua nova marca, passando de partido de luta contra a ditadura para uma agremiação com fins lucrativos no que tange à ocupação de espaços governamentais.
Pelo jeito, prepara uma nova edição da mesma obra, a tutela fisiológica.
Sopão. Sob inspiração do presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), presidente do PR mineiro e vice-governador de Minas no primeiro governo de Aécio Neves, Clésio Andrade, será instalado em Belo Horizonte um comitê único de apoio a Dilma Rousseff, Hélio Costa, Aécio Neves e Fernando Pimentel.
Será na próxima segunda-feira. Oficialmente o nome é comitê suprapartidário, mas na prática é uma maneira de constranger publicamente o ex-governador Aécio Neves e o caminho mais curto para enfurecer Itamar Franco.
Mesmo tendo candidato ao governo, Antonio Anastasia, Aécio não pode recusar apoio, acreditam os idealizadores do comitê que será chamado de "o melhor de Minas" e exclui Itamar, candidato ao Senado, desse rol. |