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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Prepotência petista leva país a um novo apagão

Deputado José Carlos Machado (SE)

A falta de planejamento e investimentos no setor energético brasileiro voltou a pautar a imprensa nacional na semana passada. Em novembro, eu já havia alertado, em artigo publicado neste jornal, sobre a possibilidade de crise que foi agora confirmada pelo diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. A situação ficou muito crítica a partir da diminuição do volume de chuvas (em 2007 foi registrado índice abaixo da média dos últimos 76 anos) que diminuiu a capacidade de geração das hidrelétricas na contramão da volta do crescimento econômico em 2007 - ressalta-se que à reboque do crescimento da economia mundial (confirmando, lamentavelmente, mas peremptoriamente, o único talento administrativo do governo petista que é o de surfar nas ondas favoráveis). Esses fatores foram suficientes para mostrar de forma clara a atual situação de escassez de energia elétrica no Brasil.
O intrigante é que o apagão elétrico protagonizado ainda em 2001 pelo governo FHC foi alvo de críticas do PT e uma das bandeiras da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro mandato, mesmo com a ministra Dilma Roussef à frente do Ministério de Minas e Energia, nada foi feito para minimizar esse problema que se agrava a cada dia. De acordo com o economista José Roberto Mendonça de Barros, em matéria publicada no Estado de São Paulo, "100% dos analistas privados vêem novo problema de energia já em 2009". Ainda segundo Mendonça, "há quatro anos não é iniciada no país nenhuma hidrelétrica de porte. A restrição de energia no horizonte leva os empresários a terem dúvidas na hora de investir".
Dados da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Aboape), que reúne empresas como Vale, CSN, Votorantin e Gerdau, dão conta de que o setor elétrico já opera em ritmo de apagão. Um modelo matemático define o preço da energia no mercado livre, levando em consideração elementos como volume de chuvas e o crescimento econômico. Quanto maior o risco de escassez, maior o preço. O indicador, medido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) alcançou o preço máximo permitido de R$ 569,59 por megawatt/hora para todo o país. O valor é quase 20% maior do que R$ 475,53 cobrados há uma semana.
Na quinta-feira, o novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já admitiu que o preço da energia vai subir e que a conta, como sempre, será paga pelo consumidor. Enquanto isso, a prepotência e arrogância que predominam o jeito de governar do presidente Lula e de sua equipe os impedem de reconhecer o problema e de enfrentá-lo com a intransferível responsabilidade que deve guiar a atuação de um chefe de Estado diante de um problema de Estado. Ao invés disso, na segunda-feira, dia 14, no programa Café com Presidente, Lula preferiu desmoralizar o diretor da Aneel, Jerson Kelman, que fez um alerta público sobre um possível racionamento de energia. Ao ser perguntado sobre o possível risco de apagão, o presidente foi enfático: "Nenhum risco. Nenhum risco. Ou seja, a questão energética vive de boatos, ou seja, todo dia tem boatos de que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo. O dado concreto é que o Brasil está seguro de que não haverá apagão e de que não faltará energia para dar sustentabilidade ao crescimento que nós queremos ter no Brasil", afirmou.
Lula e sua equipe precisam parar de jogar a responsabilidade do problema sobre o governo passado (FHC) e enfrentar os fatos, trabalhar com base em números. Afinal, energia é serviço essencial e responsabilidade do Estado. Esse governo precisa deixar de lado a prepotência e priorizar os interesses dos brasileiros. A falta de respeito ao cidadão, a inoperância e a incompetência do governo do PT resultou na ausência de projetos para o setor energético.
Na verdade, talvez eu - e tantos outros engenheiros e técnicos, acostumados com informações traduzidas por números - esteja apenas sendo cético demais em relação à capacidade administrativa do chefe do Poder Executivo. Mas, o que estou temendo é que Lula venha num futuro próximo nos dizer simplesmente que é "uma metamorfose ambulante" e que então passou a acreditar na existência de uma crise energética quando for tarde e essa crise já tiver causado ao cidadão, ao país, prejuízos irreversíveis.
Deputado José Carlos Machado (Democratas-SE)