REVISTA -
CONSULTOR JURÍDICO
GERAÇÃO MEIA-OITO
Onde estavam personagens do mensalão há 40 anos
DOM, 23/09/2012 - 07:44
HÁ 40 ANOS, JOSÉ
DIRCEU E CELSO DE MELLO MORAVAM JUNTOS!
1968, o
que fizemos de nós é o nome de um belo livro, do jornalista Zuenir Ventura,
lançado em 2008, como sequência de um outro livro ainda mais lindo, 1968, o ano
que não terminou, de 1989. Os dois livros falam de um personagem incomum, o ano
de 1968: “É possível que no século XX, tenha havido ano igual ou mais
importante do que 1968, mas nenhum tão lembrado, discutido e com tanta
disposição para permanecer como referência, por afinidade ou por contraste”,
explica o autor na contracapa do último volume. E diz mais: “A geração de 68,
que dizia não confiar em ninguém com mais de 30 anos, está completando 40.
Ainda dá para confiar nela? Que balanço se pode fazer hoje de um ano tão
carregado de ambições e de sonhos? O que foi feito dessa herança?”
As
questões que o livro de Zuenir procura responder podem ser encontradas também,
em larga escala, no plenário do Supremo Tribunal Federal, todas as segundas,
quartas e quintas-feiras, enquanto se julga a Ação Penal 470, o processo do
mensalão. O livro de Zuenir Ventura pode até não
explicar porque o partido que era apontado como mais ético e mais autêntico da
história da República se tornou patrono do maior escândalo de corrupção do país. Mas ele mostra que boa parte dos principais personagens desse drama
político estavam todos lá em 1968, caminhando e
cantando, e seguindo a canção.
Quem abrir
o livro à página 48 vai encontrar o capítulo - Há
um meia-oito em cada canto. Vai saber que,
nos idos de meia-oito, José Dirceu, acusado de ser o “chefe da quadrilha” do
mensalão, era um dos mais influentes líderes do movimento estudantil. E que o
ministro Celso de Mello, o decano do tribunal que está julgando Dirceu
juntamente com toda a “quadrilha”, era praticamente colega do político. “Em 1968, José Dirceu e Celso de
Mello moravam numa república de estudantes em São Paulo, visitada
frequentemente por agentes do Dops”, conta o livro.
Os dois
trilharam caminhos diferentes. “Dirceu foi para
a militância e Mello para s estudos”. Mas, em suas respectivas
trincheiras, defenderam os mesmos ideais de liberdade. Celso de Mello relembra o momento difícil que
enfrentou como orador da turma de promotores aprovados no concurso do
Ministério Público. “Eu precisava protestar contra o regime ditatorial, e fiz
um discurso que não agradou muito ao chamado establishment; não fui aplaudido.”
Outros
meia-oito ilustres que passaram pelo Supremo Tribunal Federal já estão
aposentados. Sepúlveda Pertence, que deixou o Supremo em 2007, foi
vice-presidente da UNE (1959-1960) e professor da UnB (1962-1965), cargos dos
quais se viu afastado à força pelo regime dos generais. Hoje é integrante da
Comissão de Ética Pública, ligado à presidência, criada justamente para evitar
que novos mensalões aconteçam.
O outro é
Eros Grau, que se aposentou em 2010. Em uma de suas últimas intervenções no
Supremo, foi o relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade que julgou
constitucional a Lei de Anistia. Adepto do Partido Comunista (“nunca tive
carteira, porque o partido não dava carteira, mas eu tinha um comprometimento
com as teses do partido, digamos assim”), foi preso e torturado por sua atuação
na resistência à ditadura.
“A geração
de 68 não chegou a eleger nenhum presidente, ainda que os dois últimos —
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva — considerem ter levado
para o poder ideias e representantes das turmas com a qual reivindicam ter
afinidades eletivas”, diz Zuenir, na abertura do capítulo dos meia-oito. Claro,
o livro foi lançado em 2008, época em que Dilma Rousseff, ex-militante da
VAR-Palmares, ainda não havia sido eleita presidente da República. “Em face de
sua resistência à tortura na prisão, o promotor que a denunciou chamou-a de
Joana D’Arc da subversão”, rememora Zuenir.
Além de
Dilma e Zé Dirceu, são citados, ainda, como representantes da geração meia-oito
que chegaram ao poder na era Lula, o governador da Bahia, Jaques Wagner (então
presidente do diretório acadêmico da PUC-Rio e militante do PCdoB), o prefeito
de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (militante do movimento estudantil e da
VAR-Palmares), o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci
(militante da organização trotskista Libelu, juntamente com o ex-secretário da
presidência Luiz Dulci e o ex-secretário de Comunicação, Luiz Gushiken).
Franklin Martins, que sucedeu Gushiken na Secretária de Comunicação foi do MR-8
e seu secretário executivo Ottoni Fernandes Junior, da ALN. O ministro da
Cultura de Lula, Gilberto Gil não era filiado a nenhum grupo militante, mas só
de cantar, foi preso e proibido de se apresentar, optando por se exilar na
Inglaterra.
Tarso
Genro, ministro da Educação e da Justiça no governo Lula, foi ativista da UNE e
do PCdoB e da dissidência desta, a Ala Vermelha, que pregava a luta armada.
Foram seus companheiros na militância esquerdista, Milton Seligman, hoje
diretor de Relações Corporativas da Ambev, e Paulo Buss, presidente da Fundação
Osvaldo Cruz. Os três compartilharam também as salas de aula da Universidade de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Era uma cidade pequena, e todo mundo se
conhecia. Diante da convocação de uma manifestação, o Dops prendia os de
sempre”. Que eram os três, relembra Seligman em entrevista para o livro de
Zuenir.
Também são
meia-oito os verdes Fernando Gabeira, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro,
e Carlos Minc, outro ministro do governo Lula. Mas não só no PT e no PV que se
firmou o destino de quem viveu as convulsões de 1968. Antes, muito pelo
contrário, como sustenta Zuenir Ventura ao resgatar o nome de dois ilustres
meia-oito que tomaram outra direção. Um é o ex-senador tucano pelo Amazonas e atual
líder na corrida para a prefeitura de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Naqueles
tempos, Arthur Virgilio era militante do clandestino PCB e diretor do Centro
Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito (atual UFRJ). Outro é o ex-prefeito
do Rio de Janeiro, Cesar Maia, que pertenceu à Corrente, uma dissidência do PCB
que pregava a luta armada. Foi preso no Congresso da UNE, em 68 e foi para o
exílio na Argentina e no Chile, onde ficou amigo de outro militante de esquerda
no exílio, José Serra.
Como diz
Zuenir Ventura, “eles estão no poder, na oposição, à esquerda, à direita, e até
prestando contas à Justiça. Há um meia-oito em cada esquina".
Maurício
Cardoso é diretor de redação da revista Consultor Jurídico
"Cría cuervos y te sacarán los ojos"
Pelo profeta lá de Serra Talhada/PE
(...) as manifestações de junho se esvaziaram.
Ações de grupos violentos, de origem desconhecida (há quem acredite que o
próprio governo esteja por trás) conseguiram desencorajar os “bem
intencionados” de sair às ruas. Dilma e sua quadrilha, especialistas em
marketing, se aproveitaram do vazio e partiram para uma ostensiva campanha
eleitoral que só terá fim após garantir a reeleição desse cancro humano e
político que nos desgoverna. (...) a única forma de fazer recrudescer o clamor
contrário da classe média (que ainda é quem elege nesse país) é exatamente
a desmoralização da mais alta corte do país.(...) a partir
daí, os protestos retornem e a imprensa demonstre o que o PT fez para aparelhar
a justiça com juristas de pouca expressão, mas comprometidos ideológica e
politicamente com o partido do governo. Chego a sonhar com aqueles vidros do
STF se desfazendo sob impacto das pedradas dos manifestantes. Vandalismo?
Dane-se, está em jogo a sobrevivência do Brasil. (...) É óbvio
que o STF, como um todo, sairá muito fortalecido, se negar os embargos.
Penso que Barroso e Teori Zavascki receberam uma missão maior do que reverter o
Mensalão: acolher o pleito da OEA (e da OAB) e impor um novo
julgamento sobre a validade da Lei da Anistia. Com os atuais integrantes,
seria fácil revogá-la. Esse é o ponto crucial. (...)
Finalmente gostaria, citando Lord Acton, lembrar: “O poder tende a corromper. E o poder absoluto corrompe absolutamente”.
Por outro lado, gostaria, citando MILLÔR FERNANDES, lembrar: “O poder tende a corromper. E o poder absoluto corrompe MUITO MELHOR”. O Brasil É assim...
ENTENDERAM? NÃO? DECOREM...
GD./BYE