Na alvorada de março de 1934, vindo de Buenos Aires portando passaporte americano, desembarcara no Rio de Janeiro um sujeito de nome Harry Berger.
Preso pela polícia carioca no natal de 1935, logo revelou-se a identidade secreta do viajante.
Chamava-se o misterioso elemento, Arthur Ernst Ewert, judeu alemão, fichado em seu país de origem, no qual era ex-deputado, como espião. Constava também processo por "alta traição".
Berger era o agente do Komintern, especialista em golpes subversivos, enviado para o Brasil com a missão de dirigir intelectualmente o plano traçado em Moscou, que objetivava a instauração de uma ditadura de tipo estalinista no País, por meio de levante armado.
Sob ordens de Berger, lá estava Luiz Carlos Prestes, homem escolhido para encabeçar um "governo popular nacional revolucionário", segundo relatório do próprio Berger para o Komintern.
Prestes angariou simpatia no meio comunista, pela sua participação na famosa coluna militar, que marchou pelo interior do País, nos agitados tempos do movimento tenentista. Pouco depois, após a conversão de Prestes à doutrina marxista-leninista por Astrogildo Pereira, a hábil propaganda vermelha batizou esse destacamento com seu nome, ainda que para isso tivesse de cometer a injustiça histórica de omitir e relegar ao esquecimento a figura do comandante Miguel Costa, principal líder militar da Coluna, ao qual Prestes esteve sempre subordinado .
Pela experiência do período, Prestes recebeu a incumbência de chefiar a ação armada dos comunistas no Brasil. Não poderia haver falhas. O plano deveria ser executado de forma rápida e eficaz, sem oferecer ao governo o tempo necessário para o esboço de uma reação.
Para tanto, visando garantir o apoio logístico e os recursos financeiros necessários para tão arriscada empreitada, Moscou fundara em Montevidéu, clandestinamente, o seu Secretariado Latino Americano, órgão cuja finalidade era aproximar as organizações comunistas latinas, a fim de impulsionar o movimento vermelho na América do Sul. Foi este o fato que gerou, ainda em fins de 1935, após o malogro da tentativa de assalto comunista ao poder no Brasil, o rompimento das relações diplomáticas do Uruguai com a União Soviética.
A Intentona Comunista de 1935, portanto, fora concebida e preparada em Montevidéu, como bem atestaram os jornais da época no Brasil, entre os quais, o Globo.
Durante os preparativos para o golpe, visando despistar quaisquer suspeitas a respeito de seu enviado revolucionário, destaca Moscou, como esposa de Prestes, a judia alemã Olga Benário (Olga Ben-Ario), conhecida já em seu país pelas suas ações subversivas. Cumpre destacar, nesse ponto, fato desconhecido da grande maioria dos brasileiros sobre a chamada Intentona: a do envolvimento direto de grande número de israelitas (infiltrados no País) na conspiração comunista de 1935.
De fato, como fartamente registraram os jornais, poucos dias após a supressão do levante no Rio de Janeiro, a eficiente polícia carioca, na jurisdição dos 13° e 14° distritos policiais, deteve 23 comunistas de origem judaica (longo ficaria citar a relação dos nomes), todos ligados à Brazcor, organização revolucionária comunista, mantida e orientada pelo PCB. Essa associação mantinha uma biblioteca popular israelita de nome Schelomo Alcichem, instalada à Rua Sen. Euzébio n° 59, bem como, uma cozinha proletária comunista, que servia refeições na Rua Visconde de Itaúna. Publicava a revista de cultura moderna Volkekultur.
Quando assistimos ao filme Olga, de Jaime Monjardim, inquietou-nos não somente a lamentável omissão destes relevantes fatos, como também, a superficial abordagem sobre as sublevações comunistas em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro.
Querer romantizar as figuras de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, criando um clima nupcial ao longo de todo o filme e, por tabela, apresentá-los como porta-vozes e defensores da liberdade humana e da democracia é, no mínimo, insensatez e cinismo puros.
Esquecer (ou omitir tendenciosamente) o assalto à Escola de Aviação, em Marechal Hermes, onde oficiais brasileiros foram assassinados por companheiros de farda enquanto dormiam, ignorar o covarde ataque-surpresa ao 3° Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde a ordem só foi restabelecida após uma manhã inteira de combates; desdenhar dos cinco dias em que revolucionários comunistas, em Natal, estabeleceram um governo que promoveu a ação de arruaceiros, assassinos, estupradores e assaltantes; sugerir que a inocente menina Elza Fernandes (trucidada segundo ordens do Cavaleiro da Esperança, com consentimento de Olga) era a responsável pelo desastre que somente a incompetência de Prestes provocou.
Menosprezar tudo isso é risco muito grande. É aceitarmos e legitimarmos perante a história o crime, o fanatismo e o unilateralismo político, a ditadura.
Luiz Carlos Prestes e Olga Benário não defendiam democracia de nenhuma espécie para o Brasil, tenhamos isso sempre em mente. Pelo contrário, caso lograssem êxito em sua missão, teríamos nosso País reduzido a simples colônia de Moscou e conviveríamos com uma ditadura ferrenha, que em nome da "liberdade humana", cometeu os maiores crimes e atrocidades da história da humanidade. Comunistas estrangeiros traçaram lá fora este destino para o Brasil, contando para isso com o apoio de brasileiros desprovidos de senso patriótico, somados a um punhado de ignorantes.
Se nós, brasileiros, em algum momento de nossa história, vivêssemos de fato uma ditadura comunista, o filme Olga, se viesse a ser produzido, tenhamos a certeza, contaria história bem mais trágica.
* LUIZ GONÇALVES ALONSO FERREIRA é bacharel em História pela Universidade Católica de Santos."; Publicado em "A Tribuna de Santos", em 07.09.2004.