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segunda-feira, 8 de maio de 2006

O lider da América Latina é


Por que essa bofetada em nós?Com a nacionalização do gás da Bolívia, Evo Morales e Hugo Chávez põem em xeque a liderança de Lula na América Latina
Marcelo Musa Cavallari Guilherme Evelin, Isabel Clemente e Matheus Leitão


'Pedimos às petroleiras que respeitem nossa dignidade. Senão, nós nos faremos respeitar à força, porque se trata de respeitar interesses de um país' Evo Morales (à esq., na foto), presidente da Bolívia, ao anunciara nacionalização do gás
Em sua mais recente edição, a revista Time publicou a lista das cem personalidades mais influentes do planeta. Para a Time, só há um líder latino-americano digno de menção. E não é o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O latino-americano mais influente é o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Em sua mais nova investida, Chávez resolveu apadrinhar a decisão boliviana de nacionalizar o gás, principal riqueza com que a Bolívia, país mais pobre da América do Sul, pode contar. Com o gesto oportunista, Chávez reforçou sua imagem de liderança na América Latina, em um claro desafio ao papel tradicionalmente exercido pelo Brasil.
A escolha da Time reflete o sucesso que Chávez vem obtendo com suas iniciativas populistas pelo continente, financiadas pelo petróleo a US$ 70 o barril. Chávez contrapõe ao modelo de integração continental defendido pelo Brasil, baseado em alianças em torno do Mercosul, sua própria visão de um continente unido, basicamente, pela oposição aos Estados Unidos. A reportagem da Time cita uma frase reveladora do estilo e das preferências de Chávez. Nela, Chávez faz referência à secretária de Estado americana, Condoleeza Rice: 'Eu pico aqueles que me incomodam. Portanto, não mexa comigo, Condoleeza'.
Chávez chegou ao poder pelo voto depois de tentar o caminho das armas. Em 1992, quando ainda era um militar da ativa, tentou um golpe de Estado. Passou dois anos na cadeia e voltou à cena pelas urnas. Com traços indígenas, contrasta com a velha elite política venezuelana, que sempre hostilizou. Sua popularidade lhe permitiu mudar a Constituição do país de modo a obter uma parcela de poder hoje muito difícil de ser diminuída. Carismático, Chávez goza de enorme popularidade entre as camadas mais pobres das cidades de seu país e não se acanha em usar essa população como tropa de choque em grandes manifestações de rua cada vez que enfrenta problemas com a oposição.
A questão da posse do gás é a principal disputa política na Bolívia desde o início do século XXI. O primeiro acordo a discutir a cooperação com o Brasil, chamado Tratado de Roboré, foi assinado em 1938. Durante o governo JK, ele foi atualizado, e grupos privados foram proibidos de explorar o gás boliviano. Em maio de 1974, um novo acordo foi assinado em Cochabamba pelos generais Ernesto Geisel, do lado brasileiro, e Hugo Banzer, do boliviano. Em 1992, os dois países chegaram a um acordo definitivo e, no ano seguinte, foi firmado o contrato entre a Petrobras e a estatal boliviana, YPFB. 'Essas negociações nunca foram de empresa a empresa, mas de governo para governo', afirma o ex-ministro da Fazenda e diplomata Rubens Ricupero, que esteve envolvido nas negociações com a Bolívia.

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