O
Movimento Conservador
Por Márcio C. Coimbra
Cientista Político em Washington, DC
30 05 14
A política cria situações interessantes. Estamos vendo no Brasil o
crescimento de um movimento de viés conservador nos últimos anos. Isto não quer
dizer que o País esteja se descobrindo conservador. Pelo contrário, na minha
opinião somos uma nação onde estes traços estão bem definidos, o que explica,
em certa medida a cautela e o ritmo com que são feitas mudanças no cenário
político. Conservadorismo nada tem a ver com intolerância ou radicalismo. Só
defende isso quem desconhece o assunto. Para situar-se deveriam ser apresentados
aos livros de Edmundo Burke ou Russell Kirk. Mas vamos adiante.
O renascimento de um movimento consistente conservador no Brasil de hoje
está diretamente associado a fadiga de material apresentada pelo projeto
petista que iniciou com a eleição de Lula e hoje está nas mãos de Dilma. Isto
não quer dizer que os tucanos encarnem os sonhos dos conservadores, tampouco os
socialistas ou ambientalistas do terceiro projeto. Os conservadores, ao
contrário do que se diz por aí, estão órfãos nesta eleição, como estavam em 2010
e em muitos outros pleitos. Hoje, estão juntos dos liberais em uma cruzada
contra o petismo, mas isso não quer dizer que convirjam totalmente no plano das
idéias.
O conservadorismo geralmente está ligado aos partidos de direita, o que no
Brasil também virou nome feio. Em nosso país, a idéia de direita está ligada
aos governos militares e a supressão de liberdades civis. Nada disso. Governos
que suprimem as liberdades podem vir tanto da direita, quanto da esquerda. Na
direita conservadora encontramos líderes como José María Aznar na Espanha,
Margaret Thatcher no Reino Unido, Angela Merkel na Alemanha, Anders Fogh
Rasmussen na Dinamarca, Ronald Reagan nos Estados Unidos, John Howard na
Austrália, Álvaro Uribe na Colômbia, Junichiro Koizumi no Japão, Stephen Harper
no Canadá, José Manuel Durão Barroso em Portugal, Victor Orban na Hungria,
Donald Tusk na Polônia, Nicolas Sarkozy na França, entre muitos outros, alguns
ainda no comando dos seus países. Nestes governos encontramos uma direita
conservadora, geralmente aliada aos liberais, responsáveis por reformas
estruturais que mudaram a face de suas nações para melhor.
No Brasil ainda não existe um partido conservador de densidade nacional. O
poder está divido entre as esquerdas, de visão socialista ou social-democrata
em sua maioria, que dividem o palco desde a eleição do Presidente Fernando
Henrique. A agenda brasileira está hoje nas mãos destes grupos e não existe
tendência de reversão no curto prazo. De qualquer forma, a chegada dos
conservadores, com agenda, nome, articulistas em jornais e grupos nas
universidades é um sopro muito satisfatório em nossa democracia, que pode
encontrar nesta nova geração um importante contraponto aos líderes e partidos
tradicionais.
Conservadorismo é acima de tudo limitação do poder do Estado e a aceitação
de mudanças em caráter gradual. É o império da Lei sobre os homens na geração
de meritocracia e a responsabilização do indivíduo como motor da sociedade. Na
década de 60, Barry Goldwater, pai do conservadorismo político moderno
norte-americano, foi derrotado por larga margem nas eleições presidenciais. Mas
ali foi plantada uma semente. Os conservadores dizem que Goldwater não perdeu,
apenas seus votos demoraram 16 anos para serem contados, quando Reagan foi
eleito Presidente. Os conservadores que se organizam politicamente no Brasil
hoje devem entender esta lógica política, largamente compreendida pela
esquerda: eleições não passam, elas reverberam. Com a palavra, a nova geração
conservadora do Brasil.