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Paulo
Edição de 31
de maio 2014
Acordo blinda
fornecedores da Petrobrás na CPI mista
Débora Álvares - O Estado de S. Paulo
31 Maio 2014 | 20h 28
Plano costurado entre tucanos,
peemedebistas e petistas deixam de lado as empresas, responsáveis por cerca de
um terço das doações
Responsáveis
por um terço das doações privadas a campanhas eleitorais nas duas últimas
eleições, fornecedoras da Petrobrás iniciaram uma operação entre os deputados e
senadores que integram a CPI mista instalada na semana passada no Congresso e
já receberam sinais de que a investigação dos negócios da estatal deve se
concentrar em pessoas, e não nas empresas.
Essa
espécie de pacto para que não haja avanço sobre os fornecedores foi costurada
em recentes reuniões de senadores do PSDB com o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), um dos principais defensores dos interesses do Palácio do
Planalto na CPI mista.
Nas
conversas, todas com respaldo de lideranças petistas e da articulação política
do Palácio do Planalto, concluiu-se que agora, neste ano eleitoral, é melhor
fazer uma CPI que explore personagens simbólicos, como o ex-diretor de
Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, acusado de intermediar negócios
da Petrobrás com o doleiro Alberto Youssef, principal alvo da Operação Lava
Jato da Polícia Federal.
CPI MISTA DA PETROBRÁS: TRADICIONAL FOLLOW THE
MONEY SERÁ DEIXADO DE LADOED FERREIRA/ESTADÃO
Assim,
os parlamentares poderão passar ao largo da técnica do 'follow the money' (siga
o dinheiro, em inglês). O propósito é evitar quebras de sigilo generalizadas
que exponham os fornecedores-doadores.
Os
requerimentos apresentados pela oposição na primeira sessão de funcionamento da
CPI mista de quebra de sigilo de construtoras que também são grandes
patrocinadoras de campanha, como Camargo Corrêa e OAS, tendem a ficar na
gaveta.
A
informação do teor das conversas sobre o pacto foi confirmada, sob reserva, por
parlamentares tanto da oposição quanto da base. Mas negadas publicamente por
todos os envolvidos.
A
estratégia já vinha sendo usada na CPI do Senado, instalada no dia 14 de maio e
totalmente controlada pelos governistas e boicotada pelos opositores.
Longe
de representar irregularidades, as doações registradas no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) revelam o potencial de alcance político e econômico da estatal.
Levantamento feito pelo Estado mostra que, dos 32 integrantes titulares da
comissão mista, 15 receberam doações de empresas que assinaram contratos com a
Petrobrás no período de 2011 a 2014, gestão da presidente Dilma Rousseff.
Desses, 13 são da base governista.
Cruzamentos. Como a Petrobrás lida com as maiores empresas do
País, não é difícil encontrar um fornecedor que doou dinheiro de campanha
eleitoral.
O
membro da CPI mista beneficiado com o maior valor é o líder do PMDB na Câmara,
Eduardo Cunha (RJ), que recebeu R$ 500 mil da Camargo Corrêa, empreiteira que
lidera o consórcio responsável por obras da refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, alvo de suspeitas. A empreiteira também contribuiu com R$ 100 mil
ao deputado Hugo Napoleão (PSD-PI).
O
líder do governo no Congresso e relator da CPI da Petrobrás do Senado, José
Pimentel (PT-CE), recebeu R$ 1 milhão da empreiteira, que pagou o mesmo valor à
campanha do líder petista no Senado, Humberto Costa (PE). Ele recebeu outros R$
500 mil da construtora OAS, responsável pela construção de dutos para o
emissário do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), obra da Petrobrás.
A
Camargo Corrêa também contribuiu para as campanhas dos senadores Ciro Nogueira
(PP-PI), com R$ 150 mil, e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), com R$ 500 mil.
Ciro ainda conseguiu R$ 100 mil da Votorantim Cimentos, contratada pela estatal
para fornecer cimento para poços de petróleo.
Na
Câmara, a coincidência passa ainda pelo relator da CPI mista, Marco Maia
(PT-RS), que recebeu R$ 40 mil da Gerdau Comércio de Aço, contratada da
Petrobrás para fornecer material para a produção para construção de plataformas.
Da
oposição, o carioca Rodrigo Maia (DEM) foi beneficiado com R$ 300 mil da UTC
Engenharia, que presta serviço à estatal na construção de quatro plataformas no
estaleiro Inhaúma, no Rio. / COLABORARAM MURILO RODRIGUES ALVES e RICARDO BRITO