Translate

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Minhas irritações com a presidente

Comentário serio e ponderado de uma pessoa de destaque.
Ives Gandra Martins:
Minhas irritações com a presidente
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 79, advogado,
é professor emérito da Universidade Mackenzie,
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
 e da Escola Superior de Guerra

Em 16 de março de 2011,
publiquei nesta Folha um artigo
 em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer – meu confrade em duas Academias
 e companheiro de conferências universitárias –
pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção
 e a promoção do desenvolvimento nacional.

Como mero cidadão,
não ligado a qualquer partido ou governo,
tenho, quase quatro anos depois,
o direito de expressar minha irritação
com o fracasso de seu governo
e com as afirmações não verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que
seu governo é o paladino da luta contra a corrupção.

Começo pela corrupção.
Não é verdade que, graças a ela,
os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil,
estão sendo rigorosamente investigados.

Se quisesse mesmo fazê-lo, teria apoiado a CPI para
 apurar os fantásticos desvios, no Congresso Nacional.

A investigação se deve à independência e
à qualidade da Polícia e do Ministério Público federais
que agem com autonomia e não prestam vênia aos detentores do poder.

Nem é verdade que demitiu o principal diretor envolvido.

Este, ao pedir demissão,
recebeu alcandorados elogios pelos serviços prestados!

Por outro lado, não é verdade que a economia vai bem.
Vai muito mal.
Os recordes sucessivos de baixo crescimento,
culminando, em 2014, com um PIB previsto
em 0,3% pelo FMI,
demonstram que seu ministro da Fazenda
especializou-se em nunca acertar prognósticos.

Acrescente-se que também não é verdade
 que controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse
 de austeridade fiscal, estaria ela sob controle.

O teto das metas,
arranhado permanentemente,
demonstra que a presidente gerou
um baixo PIB e alta inflação.

Adotando a pior das formas de seu controle,
que é o congelamento de tarifas,
afetou a Petrobras e a Eletrobras,
fragilizando o setor energético,
além de destruir a indústria de etanol,
sem perceber que desde
 Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.)
 o controle de preços,
que fere as leis da economia de mercado, fracassou,
 como se vê nas economias argentina e venezuelana,
que estão em frangalhos.

O mais curioso é que o Plano Real,
que tanto foi combatido por Lula e pelo PT,
é o que ainda dá alguma sustentação à Presidência.

Em matéria de comércio internacional,
os governos anteriores aos atuais
conseguiram expressivos saldos na balança comercial,
que foram eliminados pela presidente Dilma.

Apenas com artimanhas de falsas exportações
 é que conseguiu obter inexpressivos saldos.

O "superavit primário"
nem vale a pena falar,
pois os truques contábeis são tantos,
que, se qualquer empresa privada os fizesse,
teria autos de infração elevadíssimos.

Seu principal eleitor
(o programa Bolsa Família)
consome apenas 3% da receita tributária.
Os 97% restantes são desperdiçados
entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios,
obras superfaturadas,
na visão do Tribunal de Contas da União,
e incompletas.

Tenho, pois,
como cidadão que elogiou Sua Senhoria,
no início – para mim Sua Excelência é o cidadão,
a quem a presidente deve servir –,
o direito de, no fim de seu governo,
mostrar a minha profunda decepção
com o desastre econômico que gerou e que
 me preocupa ainda mais,
por culpar os que criam riqueza e empregos
em discurso que pretende, no estilo marxista,
promover o conflito entre ricos e pobres.
Gostaria, neste artigo –
ao lembrar as palavras de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase quatro anos atrás –,
dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu o país a um mero exportador
 de produtos primários,
tornando este governo um desastre econômico.