Comesão da verdade Japonesa Kagaram no muro(jn)
Ecos da Famigerada Placa na
AMAN
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hiram Reis e
Silva
Senhor, umas casas existem, no vosso reino onde
homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De
manhã, a um toque de corneta, se levantam para obedecer. De noite, a outro toque
de corneta, se deitam obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da vida. Seu
nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico. Seus
pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. A beleza de suas ações é
tão grande que os poetas não se cansam de a celebrar. Quando eles passam juntos,
fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro
de si. A gente conhece-os por militares... Corações mesquinhos lançam-lhes em
rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a
vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa
houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam guardando a
Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua sujeição, eles compram a
liberdade para todos e os defendem da invasão estranha e do jugo das paixões. Se
a força das coisas os impede agora de fazer em rigor tudo isto, algum dia o
fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por
definição, o homem da guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha, à sua
esquerda vai coragem, e à sua direita a disciplina.
(MONIZ
BARRETO - Carta a El-Rei de Portugal, 1893).
- Mensagem do
Coronel Jorge Alberto Forrer Garcia
Prezados amigos, saudações.
O
pior é que vai ficar tudo por isso mesmo. Houve um pedido de desculpas? “Santa
Subserviência”, como diria o Robin do Batman.
Estou pensando em entrar
com uma ação judicial, dessas indenizatórias, pelos “esporros” que levei no
Curso Básico (mudaram a minha personalidade, deixando-me mais ágil e atento às
coisas... mas não deixam de configurar, como se fala hoje em dia, verdadeiro
“assédio moral”). Quantas vezes fizeram-me descer as escadas das alas ao pátio
ainda vestindo minha roupa? Foi ali que me ensinaram que “um cadete calçado é um
cadete vestido”, pois, estando com os sapatos já amarrados, eu vestia o que
faltava a cada lance escadas. Verdadeiro tratamento degradante.
Ainda
antes do Curso Básico, na Escola Preparatória, levei uma prisão de 10 (dez) dias
por chegar atrasado na volta de um licenciamento. O capitão comandante da
companhia não quis saber que o ônibus, um “Cometão”, havia sido parado numa
barreira fiscalizatória do próprio Exército, nas imediações da cidade paulista
de Registro. Era o ano de 1973. Perdemos cerca de três horas na barreira... e eu
perdi o horário de chegada na Prep. O capitão, numa clara atitude
antidemocrática, não considerou meus argumentos e nem me concedeu o direito do
contraditório. Foram 10 (dez) dias na cela. Uma verdadeira tortura, embora assim
me tenha sido mostrado o valor fazer um quadro-horário considerando a pior
hipótese. Quero indenização por esses dez dias preso, afinal fui punido por
causa de uma ação de fiscalização feita por tropas da Ditadura
Militar.
Lembro-me da piscina da AMAN, onde oficiais verdadeiramente
sádicos insistiam em fazer nadar um não nadador (NN) como eu. Afinal, queriam
aqueles oficiais – numa atitude puramente não democrática – influenciar em minha
decisão pessoal de não querer aprender a nadar (como se fosse possível para um
aspirante do Exército receber sua espada sem saber nadar...). Alguns
instrutores, ainda mais sádicos, obrigavam eu saltar da plataforma de 10 (dez)
metros, enquanto, como motivação, acenavam com a espada de oficial. Eu, que
tinha medo de altura (nem sei como saí pára-quedista) era submetido a esse
degradante tratamento. Saltei, mas a contragosto. Quero indenização. Fui
torturado.
Certa vez, oficiais instrutores – sem imaginação –
obrigaram-me a participar de uma semana de exercícios físicos alucinantes –
principalmente pela privação do sono – chamados de Operação FIT. Choveu bastante
e eu ali, vestido com aquele ineficiente poncho, marchando, marchando,
marchando... com os pés pesando 3(três) quilos cada um, por conta da lama
grudada. Era nesse tipo de exercício que eu perdia minha identidade, era
desprovido de minha alma, negando o meu próprio “eu” e obrigando-me a aprender a
trabalhar em equipe. Sem contar que precisei amparar-me em um companheiro na
hora de nadar atravessando uma represa. Sinceramente? Eu preferia ter ficado na
sede, talvez participando de um seminário não presencial de reflexão sobre
direitos humanos.
Pelas verdadeiras agressões físicas por parte de
oficiais da SIEsp (que, não tendo atingido seu intento de eliminar-me, do
exercício, é claro, mostraram que eu podia suportar sofrimento para além do que
eu conhecia sobre mim mesmo...). Lembro-me bem de uma surra que levei com um
rolo de cartas dentro de um caminhão REO. Foi muito deprimente para a minha
condição de cidadão brasileiro. Isso não é a tal “periclitação da
vida”?
Depois, no Curso de Cavalaria, fui obrigado a limpar estrume da
cavalhada; montar cavalos “psicóticos” que deixavam minha “mantissa” machucada,
quando não me mordiam nas costelas ou me levavam – a comando – para lugares
ignotos, fazendo-me sofrer depois o “bullyng” por parte dos coleguinhas. Os
muitos sustos que levei na instrução de explosivos e nos tiros de morteiro. Tudo
isso deformou minha personalidade para sempre.
Outros sofrimentos
deploráveis pelos quais passei foram as repetidas vezes em que me fizeram
dirigir ou ser conduzido naqueles indefesos “jipinhos”, que nem cinto de
segurança tinham. E quando “me jogavam” dentro daqueles carros blindados, ora
para pilotá-los, ora para dar tiros ensurdecedores... Tudo isso prejudicou-me
fisicamente, pois, até hoje, tenho a audição diminuída... e não me digam que é
pela idade avançada. Acho que, pelo tratamento desumano, mereço uma indenização,
já que vivemos a época do “eu mereço”.
Foi na AMAN que me ensinaram uma
História do Exército Brasileiro com a qual convivi cerca de quarenta anos.
Faziam-nos estudar, e, pior ainda, nos cobravam em provas. Embora os professores
fossem oficias de elevado gabarito, acho que me ensinaram uma história falsa,
haja vista que o Exército de hoje recentemente a renegou.
Foi na AMAN que
eu fui forçado a cultuar um letreiro onde estava escrito “Cadetes! Ides
comandar. Aprendei a obedecer”. Acho que certo estava um colega que discordava
desse texto. Ele dizia: “Cadetes! Ides comandar? Aprendei a comandar”.
Infelizmente, esse companheiro não terminou os 4 (quatro) anos de tortura. Saiu
antes do fim.
Resumindo, sofri muito na AMAN devido ao seu arcaico
sistema de ensino. Hoje, sou um subcidadão, de personalidade deformada,
rejeitado por minhas opiniões, e, como demonstra muito bem o recente aumento
salarial que me foi concedido, sou um pária, com uma sensação crescente de
“despertencimento” à Instituição.
Mas com a indenização que vou pedir...
vou me dar bem.
Hiram Reis e Silva é
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva é Pesquisador do Colégio Militar de
Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS); Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS
(AHIMTB - RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul
(IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional. E-mail:
hiramrs@terra.com.br - Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com