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sábado, 3 de março de 2012

Exército Brasileiro – Fortaleza em Falência Fatídica

Correio do Brasil   RJ  2 Mar 2012Autor: Paulo Ricardo da Rocha Paiva   Cel. Inf. Estado-Maior 

“Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra... sem que leve por divisa este V que simboliza a vitória que virá!” 21 de fevereiro de 1945!

Uma divisão de infantaria armada e equipada pelos EUA, a nação não produzia nada como ainda hoje não fabrica grande parte do material bélico adotado para seus soldados, cala baionetas e investe o Monte Castelo. Manejando aquela panacéia de armas, para a época de última geração, pistolas, fuzis, metralhadoras, “bazoocas”, canhões, obuseiros, viaturas e blindados sobre rodas está um soldado competente, corajoso e, sobretudo, de brio inigualável. Flanqueando nossos regimentos de infantaria nada mais nada menos do que a famosa 10ª Divisão de Montanha/USA, mas nossos pracinhas orgulhosos não vão deixar por menos... aqueles “montanheses” vão ver como se faz uma cobra fumar!

“Nossa vitória final, que é a mira do meu fuzil, a ração do meu bornal, a água do meu cantil, as asas do meu ideal, a glória do meu Brasil.” Vitória no final, a glória maior do soldado, mas vitoriosos são os que cumprem a missão. Hoje, agora, não irão alcançá-la. Cumprirão com o seu dever, mas, serão sacrificados no campo de batalha por absoluta inferioridade de meios. 

E agora, por favor, que não se ventile aquele ufanismo falso de “potência regional”. E daí? Se os senhores acham que vamos enfrentar exércitos sul-americanos, francamente, não vai dar nem para iniciar a conversa. Perigo! Não adianta querer se enganar, são os grandes predadores militares que vão nos incomodar quando menos esperarmos. 

Ainda estamos muito preocupados com a fronteira sul. Para que serviriam então o MERCOSUL, a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul Americano? Mas, tudo bem, trata-se de uma região para tropas blindadas/mecanizadas, porém, não adianta comprar o carro de combate LEOPARD na UE se as viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP M/113, aqueles fósseis redivivos/sucateados do Vietnã) não o acompanham em velocidade. 

É de se perguntar: por que o governo ainda não as substituiu pelos CHARRUA, encomendando-os na MOTOPEÇAS em São Paulo? Se desde a década de 1980 estas viaturas tivessem sido encomendadas, hoje, as mesmas estariam atualizadas nas suas versões II ou III. Este simples fato inviabiliza o emprego do binômio infantaria/carros de combate. 

Agora, se formos aprofundar mais, cidadão brasileiro vamos cobrar: pergunte se o equipamento rádio da VBTP é compatível (fala) com o do LEOPARD. Aliás, indague: essas viaturas entram em comunicação com os canhões sobre lagartas da artilharia para se pedir o apoio de fogo? Minha gente: sem coordenação e controle ninguém comanda ninguém!

Interessante, nossa grande região norte, mais ameaçada/cobiçada, está bem mais carente de fuzis novos (o ainda usado é da safra de 1965), mísseis portáteis, material de explosivos e destruições acionados por controle remoto e de minas e armadilhas, do que propriamente o nosso garrão meridional de blindados sobre lagartas. Pobre soldado brasileiro, entregue ao adestramento diuturno do combate na selva. Assinou-se o vil Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e te condenaram a uma guerra na paz. Sim porque quem se adestra na floresta só não leva tiro, todavia, está sujeito a todo o tipo de doença tropical, desde a leishmaniose até a malária. 

E agora uma pergunta de seleção para o ministro da defesa: a quantas anda o planejamento do preparo de nossas “forças subterrâneas e de sustentação”? Mas o que é isto, pergunta um Celso Amorim estupefato? Ora, ora, senhor ministro, elas são de vital importância para quem optou pela estratégia da resistência no lugar de uma outra mais convincente e de resultados imediatos. Sem o apoio delas o Exército dificilmente vai dar conta do recado. E atenção, não são os militares que as compõem, são os civis. 

Não seria o caso da população de Manaus e das outras capitais da Amazônia já irem se conscientizando da participação que vão ter na composição dessas forças? Vossa Excelência só vai pensar nisso quando os “homens” estiverem aqui dentro?

Paulo Ricardo da Rocha Paiva é Coronel de Infantaria e Estado-Maior. Originalmente publicado no “Correio do Brasil/RJ” em 2 de março de 2012.