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terça-feira, 6 de maio de 2008

BRIGA DE COMADRES E VERDADES

FOLHA DE SÃO PAULO 5/5/2008

Clóvis Rossi

Convido o leitor a dissecar comigo a mais recente polêmica no mundo político, desta vez envolvendo correligionários, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, ambos do PT. Para Genro, é incorreto proibir a Polícia Federal de filmar nas dependências da Câmara, porque poderia induzir malfeitores a procurá-la para tramar trambiques. Dissecação:
1 - Ele só pode estar dizendo que a Casa das Leis (como antigamente era a Câmara dos Deputados) não é ambiente suficientemente asséptico para afastar trambiqueiros. Note, caro leitor, que estou sendo de uma elegância infernal.

Afinal, qualquer bobinho seria capaz de imaginar uns 1.500 outros lugares bem mais tranqüilos para tecer tramóias.

2 - O ministro está dizendo que o pais da pátria são suscetíveis a conversas não muito santas (essa elegância verbal ainda me mata). Afinal, ninguém iria tramar trambiques na Câmara com o faxineiro ou o garçom do restaurante do Senado, certo? O buraco, nesse caso, é obviamente mais em cima.

Chinaglia, ofendido, diz que, se a Polícia Federal estiver em ação na Câmara, o cidadão de bem que queira levar uma denúncia ou queixa a um parlamentar tende a se sentir inibido. Dissecação, de novo: Chinaglia só pode estar dizendo que a polícia inibe cidadãos de bem (no caso, a PF, subordinada a Genro).

Se eu ainda acreditasse em Papai Noel, diria que o presidente da Câmara poderia utilizar a posição de segundo homem na linha sucessória da República para, em vez de afastar a polícia, ajudar a fazê-la trabalhar de tal forma que o cidadão de bem se sinta protegido, e não intimidado por ela, certo?

Vê-se, pois, que as instituições da pátria não são "investment grade".

Não sou eu quem diz, mas dois de seus expoentes.