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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

" JABOTI /PSB. "eternos enquanto duram".


Artigos do Puggina

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UMA SERINGUEIRA EM ÁREA DE LAVOURA

por Percival Puggina. Artigo publicado em 


 O eleitor comum é um sujeito com o coração no lugar do cérebro e o cérebro

 dividido entre a geladeira e o contracheque. Foi assim que elegeu Lula duas

 vezes e colocou uma tartaruga no poste em 2010.

No entanto, tem razão Bob Marley: "You may not be her first, her last, or her

 only. She loved before, she may love again". Ocorre o mesmo com o amor de

 eleitor. E o coração do eleitor brasileiro pulsou fortemente quando a queda

 de um avião sem dono, sem caixa-preta e sem motivo para cair, entregou

 uma candidatura presidencial à acreana Marina Silva. A esguia senhora, 

que parece saída de uma foto de Sebastião Salgado, entrou em espiral ascendente. O coração do eleitor faz coisas assim. E depois? Ora, quanto ao depois, especulemos.A coligação agora formada em torno de Marina Silva envolve os seguintes 

partidos: PSB, PPS, PRP, PHS, PPL e PSL. Os três últimos não têm um 

único deputado federal ou senador. São legendas e quase nada mais. 

Os três primeiros, têm, respectivamente, 24, 6, e 2 deputados, correspondendo


 a apenas 6% do plenário da Câmara dos Deputados. O PSB tem 4 senadores

. Mesmo supondo que a condição privilegiada da candidata socialista no

 momento do pleito de 5 de outubro conceda um upgrade às suas nominatas 

de candidatos proporcionais, é muito improvável que tenha peso significativo

 

no Congresso a base parlamentar natural de um eventual governo do PSB. 

Será mesmo do PSB ou será da Rede? Marina estaria como uma seringueira

 solitária em área de lavoura. Onde iria buscar os outros 250 deputados e

 os 50 senadores que lhe faltarão para compor maioria? Como aprovaria


 ela as medidas que serão necessárias na crise que já se instalou no país e

 que se agravará no ano que vem?Marina fala numa tal Nova Política, que incluiria o fim do instituto da 

reeleição e o emprego de mobilização popular para exercer pressão sobre

 o Congresso Nacional onde ela, como se depreende do exposto acima, teria

 sólida minoria. Marina contaria, então, com o apoio do povo. Por quanto

 tempo, Bob Marley? Até o primeiro arrufo entre namorados?Se ela tiver fé religiosa no elevado espírito público dos senhores congressistas,

 um eventual governo seu terá curto prazo de validade, como demonstra a

experiência histórica. No entanto, ela já deve ter consciência disso, e 

a questão

 se resume em saber quem correria primeiro - se ela para o PMDB ou o PMDB

 para ela. Certo, porém, é que o PMDB e seus abnegados congressistas estariam

 no governo. E quem mais? Tudo indica que dona Marina não nutre qualquer

 simpatia pelo PSDB, o que levaria esse partido para mais um quadriênio de

 elegante retórica oposicionista. Tampouco parece razoável, no plano das 

suposições, que o PSB venha a formar governo com o PT no momento em que

 tiver na mão as ostras e o canivete para sucedê-lo como protagonista principal

 da cena política nacional. Quem resta, então, para servir de coadjutor a um 

projeto governista de dona Marina na legislatura de 2015 a 2019? Virtudes

 cívicas e força política não costumam piar juntas na atual ninhada de siglas

 partidárias do país.Continuo convencido de que o movimento das peças no jogo do poder é 

para profissionais. Quando o eleitorado, como agora, começa a desenhar 

estratégias, votos mudam incontrolavelmente de lado. O PT acelerou o 

caminho para a recessão tentando fugir da recessão. E a crise em que lançou

 o país acelera esses movimentos espontâneos da opinião pública em busca 

de novos amores,

 "eternos enquanto duram"._____________* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do 

site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais 

e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,

 a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.