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domingo, 2 de março de 2014

"31 de Março está chegando e com ele as lembranças gloriosas do passado sempre presente" JCN

EDITORIAL “BASTA!” DO CORREIO DA MANHÃ DE 31 DE MARÇO DE 1964 

Basta! 
Até que ponto, o Presidente da República abusará da paciência da Nação? Até que ponto pretende tomar 
para si, por meio de decretos, leis, a função do poder legislativo? 
Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranqüilidade e insegurança que se verifica presente 
na classe produtora? Até que ponto deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo 
de vida, a classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as Forças Armadas, por meio 
da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável? 
Não é possível continuar neste caos, em todos os sentidos e em todos os setores, tanto no lado 
administrativo, como no lado econômico financeiro. 
Basta de farsa! Basta da guerra psicológica que o próprio governo desencadeou, com o objetivo de 
convulsionar o país e levar avante a sua política continuísta. Basta de demagogia, para que realmente se 
possam fazer as reformas de base. Quase todas as medidas tomadas pelo Sr. João Goulart, nestes últimos 
tempos com grande estardalhaço, mas inexquesíveis, não têm outra finalidade, senão a de enganar a boa fé 
do povo, que, aliás, não se enganará. 
Não é tolerável esta situação calamitosa, provocada artificialmente pelo governo, que estabeleceu a 
desordem generalizada, desordem esta que cresce em ritmo acelerado e ameaça sufocar todos as forças 
vivas do país. Não contente de intranquilizar o campo com o decreto da Supra, agitando igualmente os 
proprietários e camponeses, de desvirtuar a finalidade dos sindicatos, cuja missão é a das reivindicações 
de classe, agora estende a sua ação deformadora às Forças Armadas. Destruindo de cima a baixo a 
hierarquia e a disciplina, o que põe em perigo o regime e a segurança nacional. 
A opinião pública recusa uma política de natureza equívoca, que se volta contra as instituições cuja 
guarda deveria caber ao próprio Governo Federal. Queremos o respeito à Constituição, queremos as 
reformas de base votadas pelo Congresso, queremos a intocabilidade das liberdades democráticas, 
queremos a realização das eleições em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem a capacidade para exercer a 
Presidência da República e resolver os problemas da Nação dentro da legalidade constitucional, não lhe 
resta outra saída senão a de entregar o governo ao se legítimo sucessor. É admissível que o Sr. João 
Goulart termine o seu mandato de acordo com a Constituição; este grande sacrifício de tolerá-lo até 1966 
seria compensador para a democracia. Mas, para isso, o Sr. João Goulart terá de desistir de sua política 
atual, que está perturbando uma Nação em desenvolvimento e ameaçando levá-la à guerra civil. 
A Nação não admite golpe nem contragolpe, quer consolidar o processo democrático para a concretização 
das reformas essenciais de sua estrutura econômica. Mas não admite que seja o próprio Executivo, por 
interesses inconfessáveis, que desencadeie a luta contra o Congresso, censure o rádio, ameace a imprensa 
e com ela todos os meio de manifestação do pensamento, abrindo caminho à ditadura. Os Poderes 
Legislativo e Judiciário, as classes armadas, as forças democráticas devem estar alertas e vigilantes e 
prontos para combater todos aqueles que atentem contra o regime. 
O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual, agora basta! 

Fonte: Correio da Manhã, 31 mar. 1964. p. 1.