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sábado, 29 de novembro de 2008

Nem de lógica esses comunas entendem...

Lula elogia marinheiro, e Marinha volta a criticar revolta liderada por ele

MÁRIO MAGALHÃES, DA SUCURSAL DO RIO

Na antevéspera do aniversário de 98 anos da Revolta da Chibata, o presidente Lula participou ontem no Rio da inauguração de uma estátua do líder da rebelião, o marinheiro de primeira classe João Cândido Felisberto (1880-1969).

A Marinha se ausentou do ato e, em resposta a perguntas da Folha, voltou a criticar o marinheiro que Lula, o comandante das Forças Armadas, qualificou como "herói". "Precisamos aprender a transformar os nossos mortos em heróis", discursou o presidente na Praça 15, no centro, onde foi instalada a obra do artista Walter Brito.

Duas horas antes, o Centro de Comunicação Social da Marinha afirmou não reconhecer "heroísmo nas ações daquele movimento. Entretanto, nada tem a opor à colocação da estátua, desde que haja o cuidado de evitar inserções ofensivas à Força e às vítimas dos amotinados". O Ministério da Defesa não enviou representante.

Em julho, Lula sancionou a anistia póstuma a João Cândido. O evento de ontem integrou os festejos do Dia da Consciência Negra - o homenageado era negro. O presidente disse que quer transformar o dia 20 de novembro em feriado nacional.

Em 22 de novembro de 1910, sob a liderança de João Cândido, ao menos 2.000 marinheiros se sublevaram contra os castigos físicos. A gota d'água foi o anúncio da punição de 250 chibatadas contra um deles. A revolta durou quatro dias. Morreram quatro oficiais a bordo e duas crianças em terra - a cidade foi bombardeada.

A Marinha disse ontem que se tratou de "um triste episódio da história do país".

Meses depois, João Cândido foi preso com 17 companheiros - 16 foram assassinados. Expulso da Armada sobreviveu na pobreza. Ontem foi chamado de "Almirante Negro". A estátua fica de frente para a baía de Guanabara, onde estavam os quatro navios de guerra que os rebelados tomaram.

Ao citar o "herói" João Cândido, Lula elogiou opositores da ditadura militar (1964-85) e disse que as novas gerações precisam conhecê-los. "[Carlos] Marighella não morreu por ser bandido", disse Lula sobre o guerrilheiro morto em 1969. "Morreu porque acreditava numa causa." Também exaltou o militante comunista Gregório Bezerra.

O noticiário televisivo recentemente deu ênfase à inauguração da estátua do "almirante negro" (a TV Globo chegou, até, a informar que a revolta se dera por uma pena de 250 açoites, a serem aplicados a um marinheiro transgressor). Entretanto, a verdade é, como sempre, um pouquinho diferente e, por mais que tentem reescrever a história do Brasil, a memória sempre fica.

O texto abaixo foi enviado à imprensa e, evidentemente, não será publicado.

Mas, vale a pena ser lido.

Pior é que João Cândido, um marinheiro antigo, de trinta anos, não foi um amotinado naquela revolta. O motim vinha sendo urdido por marinheiros novos, vindos das novas Escolas de Aprendizes do Nordeste, mais intelectualizados e cooptados por políticos. O Marechal Hermes da Fonseca assumira há uma semana. Tinha derrotado Rui Barbosa nas urnas. Trazia de volta os militares ao poder, que haviam perdido desde a saída de Floriano Peixoto, quinze anos antes.

A Revolta dos Marinheiros em 1910 eclodiu no “Encouraçado Minas Gerais”, recém recebido na Inglaterra. Na véspera o Comandante Batista das Neves havia punido um marinheiro com 25 chibatadas, a pena máxima prevista em lei.

Cumpria o doloroso dever dos Comandantes ao julgar um subalterno que havia navalhado no rosto um companheiro dormindo. Como os ânimos estavam exaltados, resolveu dormir a bordo após voltar de um jantar num navio estrangeiro, na bóia, com o navio fundeado na Baía da Guanabara. Dispensou seu Ajudante-de-Ordens no portaló e rumou para o camarote, sendo tocaiado e trucidado por golpes de machado de Controle de Avarias. Era cerca de meia noite.

Instalou-se grande confusão a bordo, com mortos e feridos. Não era um motim de marinheiros contra oficiais. Muitos subalternos lutaram junto aos oficiais. Outros navios, também fundeados, imaginaram que a revolta política havia começado, alguns aderiram. Na verdade, adrede marcada, eclodiria quinze dias depois, como eclodiu no Batalhão Naval, onde hoje está o Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais.

João Cândido entrara para a Marinha em Rio Grande, pelas mãos do então Capitão-de-Fragata Alexandrino de Alencar, de cuja família era cria, com quinze anos de idade. Em 1910, amigo dos Oficiais, principalmente por sua ligação com o ex-ministro Alexandrino, que acabara de deixar o poder, foi encontrado pelos verdadeiros revoltosos, escondido nas entranhas do "Minas Gerais", e forçado a entregar o manifesto da revolta aos deputados que rumavam para o navio numa lancha. Na verdade um só deputado, Oficial da Marinha na Reserva, aceitou a incumbência.

Esse documento, cujo original está arquivado no Serviço de Documentação Geral da Marinha, escrito a mão, por gente letrada, estava pronto e tinha data posterior ao dia da entrega. Nada falava sobre castigos físicos, sim da vida dura da guarnição, rancho ruim, falta de pessoal, soldos baixos, etc

A chibata, deflagradora do motim no "Minas", abortando o movimento, foi o pretexto arranjado pelos políticos, para militarizá-lo e cair fora das conseqüências. Políticos debateram no Senado, que como sabem ficava na Cinelândia, sob a hipótese de bombardeio do Centro da cidade. Os jornais divulgavam as notícias, alarmando a população. O Presidente Hermes da Fonseca fora Ajudante-de-Ordens de seu tio, Deodoro da Fonseca, quase duas décadas antes, quando assistiu à sua deposição em condições semelhantes. Tudo indica que o movimento, de maior abrangência do que foi divulgado, pretendia depô-lo. Mas provas não existem. Após o pesado bombardeio ao Batalhão Naval, comandado pelo General Menna Barreto, cujo Estado-Maior ocupou o Edifício Marquês de Tamandaré, da Marinha, muitos documentos foram destruídos, inclusive depoimentos colhidos nos diversos inquéritos em andamento.

Esta história toda custou a ser estudada, principalmente pela vergonhosa participação da Marinha. João Cândido, negro, analfabeto, filho de escravos, foi usado por décadas como suporte a políticos populistas e ainda está sendo. Gostou do papel glorioso que lhe atribuíram. Assim, a história de sua vida é deturpada. Declarou, no Inquérito, que era nascido na Argentina. Na verdade foi numa fazenda próxima à fronteira no Sul.

Em 1963, quando estava eu na Escola Naval, no navio-hidrográfico "Canopus", o Comandante Varella e seu Imediato Manhães foram assassinados por um Marinheiro julgado e punido na véspera com a pena máxima, dez dias de prisão rigorosa, a golpes de "machado de Controle de Avarias.”

Não acham muita coincidência?

Por essa época, 1963, fazia sucesso o único livro publicado sobre a dita Revolta da Chibata, em tom ideológico, por um jornalista chamado Edmar Morel, comunista conhecido, quase um incitamento à insubordinação de marinheiros. Nessa época João Cândido freqüentava o Sindicato dos Metalúrgicos, a convite, para contar detalhes de sua gloriosa história. Foi nesse sindicato que marinheiros se abrigaram, estimulados pela inoperância do Presidente João Goulart, para desafiar os chefes navais e a Instituição.

O Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, recebeu e rendeu homenagens a João Cândido, já envelhecido, mas envaidecido pelas múltiplas e periódicas homenagens em diversas situações. Considero o valor desse cidadão por ter conseguido manter essa impostura por toda a vida e até depois da morte.

O Almirante Hélio Leôncio Martins, historiador naval ainda vivo, primeiro Comandante do Navio-Aeródromo "Minas Gerais", estudou a fundo a "Revolta dos Marinheiros de 1910", documentou-se e publicou seu trabalho num livro de curta tiragem, na década de 1980. Li-o em 1998, colhido numa estante do Clube Naval. Comparei-o com o do Edmar Morel, de 1963.

Enquanto o último só relata os jornais da época e o que dizia João Cândido, já senil, endeusando-o, o Almirante Leôncio produziu um trabalho encadeado, fartamente documentado, nada emocional, narrando fatos e deixando as conclusões para o leitor.

Hoje tudo que ouço falar e vejo escrito na imprensa sobre o assunto, está pautado no livro de Morel. É pena! Fazer o quê. Recontar as mazelas da Marinha no passado? Faço isto sem prazer.

Algumas vezes mandei estes escritos para a Imprensa. Fui ignorado. Não vende. A história ao contrário sim. Recentemente a família de João Cândido foi indenizada no que foi contado nos jornais como anistia.

Mas como? Ele já foi anistiado três vezes.

A primeira logo após a revolta, pelo Congresso. A Marinha não aceitou, prendeu-o junto com os outros. Teriam que pagar pelo menos pelo assassinato do comandante do navio, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Batista das Neves.

Foi anistiado novamente depois, não seguindo para a Amazônia com os outros, para trabalhos forçados no Acre, na construção da ferrovia Madeira-Mamoré.

E agora, por influência da Ministra Marina Silva, pelo Congresso, com direito à indenização. Detalhe: ele faleceu em 1979.

O verdadeiro líder da Revolta apareceu na década de 1940, no interior da Bahia, contando a história do planejamento, urdido numa casa próxima ao Campo de Santana, no Rio de Janeiro, onde se reunia com civis. Chegou a escrever uma carta anônima para o Serviço de Documentação Geral da Marinha, desmascarando João Cândido. Chamava-se Francisco Martins. Apurou-se que ele não servia no Encouraçado "Minas Gerais", mas em um dos navios engajados. Estranhamente conseguiu dar baixa da Marinha uma semana depois, silenciosamente.

O cabo Anselmo, líder da insubordinação dos marinheiros em 1964 também está vivendo clandestinamente. Vem tentando obter anistia, promoção e indenização. Conseguirá?

Agora vejo transferirem a estátua de João Cândido para a Praça XV. Estava no Museu da República há pouco tempo. Com tristeza.

Gilberto Roque Carneiro

2 comentários:

Jose C disse...

Em minha opinião, a homenagem feita pelo “Comandante” das nossas Forças Armadas foi uma condenável provocação à nossa gloriosa Marinha de Guerra. Uma desnecessária provocação.
Se não houver um pouco de ordem nesta orgia que hoje impera no Brasil, qualquer dia destes vão homenagear com estátuas, medalhas e medalhões esses marginais do MST, quando na verdade deveriam mesmo era receber umas boas chibatadas, por fazerem o que querem, quando querem e como querem. Eles e esses comunas que os incentivam, os mantêm, os paparicam... Esses comunas que não se cansam de nos provocar...
Coronel Maciel
cel_maciel@yahoo.com.br

Jose C disse...

Uma observação: O Cândido não levou chibatadas até onde sei. Foi outro. E não foram 250, como a imprensa tem publicado. Foram 25, pena máxima na época.

Nem de lógica esses comunas entendem...

Já pensou? Quem aguentaria dar 250 cibatadas em algém?

Pior, que aguentaria LEVAR no lombo 250 chibatadas? Talvez a mãe de quem escreve essas asnices... E as mães de quem acredita..

Leia o anexo - pequena coletânea - e guarde, se quiser.

Cheers! GD./BYE