Por Reinaldo Azevedo
Dilma, ao fazer digressões político-sentimentais, é tão precisa nos fatos históricos como a média da imprensa brasileira — sim, há exceções — quando trata do golpe militar de 1964, a tal fábula dos Chapeuzinhos Vermelhos contra o Lobo Mau.
Leiam o que informa Lauro Jardim, no Radar:
Dilma Rousseff cometeu uma gafe, mais uma, hoje durante a cerimônia de transferência do Galeão para a iniciativa privada. Lá pelas tantas, emocionada, declamou o belíssimo Samba do Avião, de Tom Jobim. E disse:
“Esse ‘Samba do Avião’ faz uma ligação entre o Brasil de hoje e o Brasil de ontem porque o ‘Samba do Avião’ descreve a chegada no Brasil, e em especial no Galeão, dos brasileiros que voltavam ao Brasil após a Anistia, alguns após 21 anos de exílio, outros menos do que isso, mas essa é a realidade; o ‘Samba do Avião’ é isso. É de fato, e nessa semana é um momento especial, uma homenagem aos exilados…
Dilma embargou a voz, encheu os olhos de lágrimas com justa emoção. Só que o ‘Samba do Avião’ foi lançado em 1962, dois anos antes do golpe – nada tem a ver com exilados.
 A canção de Tom que remete aos exilados é ‘Sabiá,’ parceria dele com Chico Buarque, de 1967. Diz a letra: “Vou voltar/Sei que ainda vou voltar/Para o meu lugar”. Além disso, os exilados não voltaram ao “Brasil após 21 anos de exílio”. Negativo. A Anistia é de 1979, quando a quase totalidade dos exilados retornou – ou seja, quinze anos após o golpe. Nos discursos de improviso o risco de gafe é enorme. Mas não custava a assessoria de Dilma tê-la preparado melhor.
Retomo Na mosca! Não pensem que a história daqueles dias é contada com muito mais precisão por aí, a começar das escolas. Num país em que Marighella e Lamarca viram heróis, convenham, a ignorância sobre o “Samba do Avião” chega a ser quase lírica.

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