O novo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), eleito
por deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal no
último sábado (17), fez doações na campanha de 2006 a
parlamentares que o elegeram para ocupar o comando da
capital federal. Segundo dados das prestações de contas do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosso, que concorria a uma vaga
de deputado federal naquele ano, declarou ter doado pelo menos
R$ 398,8 mil a candidatos distritais. Três beneficiados, Benício
Tavares (PMDB), Eurides Brito (PMDB) e Odilon Aires (PMDB), são
citados por Durval Barbosa como supostos envolvidos no esquema de
pagamento de propinas revelado pela Operação Caixa de Pandora, da
Polícia Federal, conhecido como mensalão do DEM.
Tavares, que recebeu R$ 220,3 mil (67% de sua arrecadação total), e
Eurides, beneficiada com R$ 60 mil (29% da sua receita), votaram em
Rosso. Já a distrital Jaqueline Roriz (PMN), que optou por Wilson Lima (PR)
na eleição para governador “tampão” até dezembro, também foi beneficiada
por Rosso em 2006. A filha do ex-governador Joaquim Roriz (ex-PMDB)
recebeu R$ 38,5 mil, valor que representou 10% da receita de sua campanha.
A contribuição aos parlamentares foi incluída nas despesas da campanha de
Rosso a deputado federal. Ele não se elegeu, mas ficou entre os suplentes
da sigla na Câmara dos Deputados. Segundo a contabilidade oficial registrada
no TSE, Rogério Rosso arrecadou quase R$ 1,5 milhão e gastou praticamente
a mesma quantia.
Para o cientista político Antonio Flávio Testa, a informação de que Rosso doou
recursos a deputados que votaram nele mostra que o mesmo grupo político,
na prática, continua no comando do GDF. Segundo ele, a diferença agora é
que há outros rostos, de perfil aparentemente mais técnico. “Mas a forma de
fazer política não mudou. Basta olharmos a migração intensa de votos,
pretensamente para Wilson Lima [ex-governador e candidato ao cargo],
que foram destinados, em poucas horas, para Rosso. Como se consegue
um milagre desses em política, e na boca da urna? Difícil responder, não?”,
questiona.
Testa acredita que o governo de Rosso será a continuidade da gestão Arruda.
“Ele já declarou isso e é esperto o suficiente para tirar proveito das
inaugurações de muitas obras, regadas a muita publicidade”, diz. O cientista
político disse ainda que até as eleições deste ano haverá “muitas mudanças
e tensões políticas”. governador do Distrito Federal afirmou, por meio de
sua assessoria, que as doações em 2006 foram feitas para distritais do mesmo
partido. Segundo ele, é natural que candidatos a cargos federais apóiem os
que competem em um cenário menos expressivo. “Quanto a um eventual
conflito de interesses, entre os que receberam doações e votaram em
Rosso, o governador acredita não haver nenhum problema.
A prioridade da nossa gestão é fazer nomeações técnicas para compor
a equipe de governo”, disse a assessoria.
A distrital Eurides Brito afirmou à reportagem que não há qualquer problema
quanto ao recebimento da doação em 2006 e a votação em Rosso neste
ano. “Não há nenhum impedimento legal. Além disso, em 2006, havia um
apoio simultâneo entre as nossas candidaturas. Éramos da mesma chapa”,
afirmou. O distrital Benício Tavares não retornou os contatos feitos pela reportagem.
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