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segunda-feira, 11 de junho de 2007

O CASO CARLINHOS

Jacornélio M. Gonzaga (*)

O caso Carlinhos é um dos mais conhecidos e misteriosos crimes do país. O garoto de 10 anos, Carlos Ramires da Costa, foi seqüestrado em agosto de 1973 e até hoje, mais de trinta anos depois, ainda não foi encontrado.

Ih! Errei! Não é para escrever sobre o Carlinhos seqüestrado, e sim, sobre o Carlinhos seqüestrador, o grande herói da esquerda brasileira, Carlos Ilitch Lamarca, dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Carlinhos, recentemente promovido a General de contracheque, foi agraciado, em 1995, com a Merdalha Chico Mendes de Resistência e, até a data de hoje, não recebeu a honraria. A comenda foi criada, em 1988, por iniciativa do Grupo Tortura Nunca Mais / RJ, com a intenção de se contrapor à homenagem feita pelo EB, que naquele ano, concedeu a Medalha do Pacificador, a notórios elementos ligados à tortura e ao aparato de repressão. A cerimônia realizou-se nas dependências do DOI I / RJ, local famoso pelas torturas e assassinatos ocorridos durante a cruel, daninha, maldosa, maléfica, ruim, covarde, etc,etc,etc....ditadura.

Com a promoção de Carlinhos, o Fundo Nacional de Pensão dos Anistiados Políticos (FUNPAPOL), por intermédio deste Diretor-Geral - fui reabilitado (é outra história) - propôs fazer a entrega da Merdalha Chico Mendes à família Lamarca, também em uma solenidade militar, no pátio de formatura do 4º Batalhão de Infantaria Leve, em Osasco / SP, de onde o patriarca, na tarde de sexta-feira, 24 de janeiro de 1969, roubou 63 FAL, 3 metralhadoras INA, uma pistola .45 e farta munição.

Houve grita por parte de alguns: Aldebert, Aranha, Augusto César, Brucutu, Bezerra, Buzanelli, Catatau, Costa B da Silva, Ênio, Gêmeos de Intendência, Ioshio, Junqueira, M Barros, Maurício, Morgero, Moezer, Perenha, Ronaldos (2), Silveiro, Walber e outros não aceitaram a homenagem. Eu, particularmente, sou contra toda essa onda favorável à Sra Maria Pavan, já que o Carlinhos mandou Dona Maria para Cuba, com as crianças, para “ficar” com a Iara Iavelberg, uma psicóloga, militante da VPR e casada com um médico.

Para mim, quem deveria ter direito a essa Pensão Militar é o marido abandonado da Iara e não a Dona Maria, pois o instituidor ao virar “de cujus” não vivia mais com ela, nem com a Iara, que recém havia suicidado. Quando muito, pessoalmente, acho que a pensão poderia ser dividida, mas como Dona Maria é sócia antiga do FUNPAPOL e das que mais contribui, tenho que raciocinar como dirigente do Fundo e dar-lhe total apoio.

Estamos aguardando o posicionamento do Ministro da Justiça e do Noço Guia para desencadearmos a cerimônia no quartel do 4º BIL, Batalhão Raposo Tavares, Lembro aos leitores que, o FUNPAPOL já encaminhou ao Comando do Exército uma proposta de mudança da denominação histórica, de modo que aquela Unidade do EB passe a ser conhecida como BATALHÃO COMANDANTE LAMARCA, cujo estandarte histórico terá a seguinte descrição heráldica:

“Forma retangular, tipo bandeira universal. Campo de verde, cor representativa da Arma de Infantaria. Ao centro do campo, uma elipse de roxo, representativa da desesperança e da desonra, com uma hiena de preto, símbolo da fraqueza, da traição e da covardia, carregada de três respingos de fezes, alusivos aos assassinatos cometidos covardemente pelo desertor Carlos Lamarca. Uma orla de cor branca contorna a elipse na metade de sua parte superior e contém o dístico “BATALHÃO COMANDANTE LAMARCA”, em letras verdes e debruadas de amarelo-diarréia”.

Demos início aos preparativos do “script” da cerimônia, tomando por base uma festa comemorativa do Dia da Infantaria, ocorrida no 20º BIB, Curitiba / PR, em 1979. Naquela ocasião, o responsável pela formatura, fê-la baseada nos três ferimentos sofridos pelo Brigadeiro Sampaio, quando da Batalha do Tuiuti. Aqui entre nós, foi a mais demorada e sacal que vi na minha vida, fiquei a imaginar como seria se Sampaio tivesse sido atingido por uma rajada de metralhadora?

“Script”:
- Dão entrada no Pátio de Formatura do 4º BIL as seguintes autoridades:

- Sra Dilma Vana Rousseff, militante da Política Operária (POLOP), do Comando de Libertação Nacional (COLINA) e fundadora da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P); atualmente é Ministra-Chefe da Casa Civil do Noço Guia e sócia do FUNPAPOL;

- Sr Franklin de Souza Martins, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), da Dissidência Guanabara (DI/GB) e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro-8. Foi presidente do DCE/UFRJ e vice-presidente da UNE. Como integrante da Direção-Geral do MR-8, em 1969, participou do seqüestro do embaixador dos EUA; atualmente é o Ministro da Comunicação Social do Noço Guia e sócio do FUNPAPOL;

- Sr Aloysio Nunes Ferreira Filho, militante do PCB e da Ação Libertadora Nacional (ALN). Participou do assassinato do Capitão do Exército dos EUA, Charles Rodney Chandler e do seqüestro do Embaixador americano Charles Burke Elbrick. Foi motorista particular de Carlos Marighela, líder da ALN. Aproveitando seu “exílio” em Paris, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Na Argélia, negociou com as autoridades daquele país para que comunistas brasileiros recebessem treinamento militar. Pelo PSDB elegeu-se deputado estadual, vice-governador de São Paulo e deputado federal. No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi Secretário Geral da Presidência da República e Ministro da Justiça; atualmente é o Secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo e sócio do FUNPAPOL; e,

- Fernando Damatta Pimentel, militante da COLINA, VAR-P e VPR. Aos 19 anos chefiou o assalto a um carro forte do Banco do Brasil e participou da fracassada tentativa de seqüestro do cônsul dos EUA, em Porto Alegre / RS; atualmente, é o Prefeito de Belo Horizonte, pelo PT.

- A presente cerimônia tem como finalidade realizar a solene entrega da Merdalha Chico Mendes “in Memorian” ao bravo militar desertor Carlos Lamarca.
- Serão prestadas as honras militares à Exma Sra Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Vana Rousseff.
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- Leitura do Curriculum Vitae do agraciado, o Desertor Lamarca:

Carlinhos nasceu em 27 de outubro de 1937. Carioca experto, cresceu no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, de onde saiu, em 1955, após ter sido reprovado em dois concursos, para a Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre. Seus professores bobearam e, três anos depois, estava matriculado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

Burrinho, mas muito forte, bem dotado fisicamente, descontava nas corridas o que não conseguia nos estudos; assim sendo, conseguiu não ser o último classificado e foi, para a vergonha da Turma de 1960, declarado aspirante-a-oficial da Arma de Infantaria, em dezembro daquele ano, tendo sido designado para servir no quartel do 4º Regimento de Infantaria (4ºRI), em Quitaúna / SP.

Numa noite de um sábado de dezembro de 1964, já na 6ª Cia PE Porto Alegre / RS, quando de oficial-de-dia, Carlinhos facilitou a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, que estava preso por subversão. (Como curiosidade, o capitão “araújo” fez sua proposta para ser sócio do FUNPAPOL, em 30/09/2002. A proposta sempre é devolvida).

Retornando a esta casa (4º RI), em dezembro de 1965, o futuro desertor reencontrou seu amigo e nosso sócio, o Sargento Darcy Rodrigues, com quem montou uma célula clandestina da VPR no quartel, em 1968. Neste mesmo ano, na formatura matinal de sua Companhia (acho que era a CPP 2), na fatídica quarta-feira, 26 de junho, nosso herói chorou diante de seus subordinados pela morte do Sd Mário Kosel Filho, que tinha sido vitimado por uma ação terrorista da VPR. Esse cara era muito FDP (desculpem)!

Após ter aliviado a reserva de armamento de sua subunidade, na tarde de 24 de janeiro de 1969, Carlinhos foi para a casa do ex-Sgt Onofre Pinto, dirigente da VPR, a fim de despedir-se de sua irmã adotiva Maria Pavan - com quem tinha casado ainda cadete, por tê-la engravidado - e de seus dois filhos, que embarcaram naquela mesma noite para Cuba, abrindo caminho para Carlinhos ir viver um “affair” com sua amante Iara Iavelberg.

No 4º RI, embora Carlinhos não fizesse parte do time dos mais simpáticos, em função de seu mau-caráter, de sua falta de companheirismo e também pela sua incompetência profissional, houve mais de uma ocasião em que os oficiais se reuniram, fizeram uma “vaquinha” e o ajudaram a sair de dificuldades financeiras.

Falando de sua “competência” profissional, não podemos deixar de citar avaliações feitas por seus subordinados na VPR:
"... era teoricamente despreparado e politicamente sem experiência... tinha frieza e intuição... era autoritário e não gostava de ser contrariado..." segundo Ariston Oliveira Lucena - que com ele participou do assassinato do Tenente Mendes, em Registro, publicadas em entrevista no "Jornal do Brasil" de 22 de setembro de 1988;

“O Cap Lamarca não possui um QI satisfatório, à altura de ser um líder revolucionário. É um elemento de caráter volúvel, não tem posição definida, suas decisões são tomadas seguindo suas tendências emocionais. Suas qualidades militares são limitadas, tem limites de aproveitamento prático do conhecimento técnico que possui. É pouco engenhoso. O valor político que possui para ser um líder de esquerda lhe foi dado pela imprensa (interessada ou não). As suas façanhas são limitadas e são raras, todavia é elemento audacioso.” Escrito de próprio punho por José Araújo da Nóbrega, ex-sargento do Exército e militante da VPR, em maio de 1970.
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Qual a relação dos três ferimentos de Sampaio com a formatura do Carlinhos? Simples. Pensei relatar - tal qual naquela solenidade sacal, onde as três agruras do velho Brigadeiro foram exaustivamente exploradas - os três frios e covardes assassinados perpetrados pelo traidor Carlos Lamarca. Mas desisti, preferi deixar um relato sucinto:

Assassinato nº 1: Na tarde de 09 de maio de 1969, durante um assalto a banco o traidor matou o guarda-civil, Orlando Pinto Saraiva, com dois tiros, um na nuca e outro na testa.
Assassinato nº 2: Em 10 de maio de 1970 o infame cafajeste presidiu um “tribunal revolucionário", que condenou à morte e executou a coronhadas o refém Tenente Alberto Mendes Junior.
Assassinato nº 3: Na manhã de 07 de dezembro de 1970, durante o seqüestro do Embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, o desertor Lamarca atirou nas costas do Agente da Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo, que veio a falecer três dias depois.

Tive que deixar os preparativos da solenidade, pois fui chamado às pressas à Direção-Geral do FUNPAPOL para tratar de uma nova demanda. Nossos advogados estão entrando com um processo na Comissão de Anistia, a fim de conseguir uma reparação do Estado, a conseqüente pensão e a promoção na reserva de um ex-militar, o Sr Marcelo Soares de Medeiros, também conhecido como Marcelo PQD.

O meu telefone não pára, diversos militares estão me ligando, indignados com a posição do FUNPAPOL no Caso Carlinhos. Nada posso fazer. Chegaram, inclusive, a citar que, com os desmandos e as provocações que estão acontecendo, este Governo vai acabar reabilitando Virgulino Lampião, visto que sua bisneta foi uma das transportadoras da tocha do PAN, em Alagoas. A todos respondi, lembrando as sábias palavras de uma ministra do Noço Guia:
- Já que ela (a bisneta) a tocha traz, relaxa e goza!

(*) Jacornélio é um desesperançado boquiaberto brasileiro, paracaidista boliviano do 3º Batalhão (não salta nem da torre), ex-cangaceiro e Diretor-Geral do Fundo Nacional de Pensão dos Anistiados Políticos (FUNPAPOL).

Revisão: Paul Word Spin Org Writer

Brasília, 17 de junho de 2007.

e-mail: jacornelio@bol.com.br e jacorneliomg@hotmail.com