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quarta-feira, 9 de maio de 2007

A POLÍTICA DA COOPTAÇÃO

09.05, 13h14
por Sebastião Paixão

Foi anunciada a criação do 37º ministério no governo federal. Para o posto, foi chamado um dos mais ácidos críticos do presidente Lula no primeiro mandato. A crítica virou elogio; a oposição está virando situação. Aos poucos, tudo começa a ser governo, como se o governo pudesse ser tudo ao mesmo tempo. Não pode! Existem limites legais, éticos, democráticos, republicanos e morais. O problema é que legalidade, ética, democracia, república e moral são, para alguns, questões de segunda categoria. O que vale são os interesses do momento e, para tanto, os fins justificam todos e quaisquer meios, lícitos ou ilícitos. Entramos em delicada fase da vida política brasileira. A democracia vem sendo amordaçada por pautas de cooptação que colocam em risco a inerente dialética e contraditório do jogo político. A oposição está aceitando um papel subalterno; contenta-se com migalhas e esquece de fazer seu papel fundamental: vigiar a situação. Da mesma forma, inexiste um discurso propositivo capaz de expor as fragilidades dos atuais mandarins. Aceita-se a política de balcão, esquece-se a coerência e, a oposição definha para, quem sabe, desaparecer. O grupo oposicionista parece anestesiado em seus movimentos de articulação. Está sendo inábil na capacidade de aglutinar forças, cedendo abertamente aos acenos bondosos do poder central. Com isso, ao invés de se diferenciar dos desmandos do poder, passa a ser partícipe no papel principal.Tal agir subalterno e passivo acaba por confundir o eleitor. Diante das graves irregularidades que pululam no centro político, o cidadão sai, naturalmente, a procura de alternativas. O problema é que as alternativas minguam como água em solo do agreste. A paisagem política é árida e hostil. E são cada vez mais escassas as vozes que não se deixam calar. A estratégia é nivelar tudo por baixo, criar um clima total de descrença política, estabelecer a desonestidade como regra da vida pública, desagregar e desestabilizar as instituições republicanas e, com isso, estimular a vã ilusão do “salvador da pátria”. Nesse dia, talvez já tenhamos o 100º ministério, com cargos de confiança infinitos. A receita pública terá implodido. A economia terá sido desarranjada. O desemprego e os problemas sociais aumentarão. A culpa será jogada sobre os políticos do passado e sobre os patrões do capitalismo. A Constituição será tida por ultrapassada e não mais condizente à realidade brasileira. Convocar-se-ão uma Assembléia Nacional Constituinte e daí por diante só o Homem lá de cima sabe... Minha capacidade de imaginação acabou. O que me preocupa é que queria estar dizendo absurdos delirantes. Mas, quando olho a situação política dos hermanos da América Latina, confesso que sinto um frio na espinha.Afinal, a democracia está sendo cooptada pelo autoritarismo crescente.

Fonte: diegocasagrande.com,br