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quarta-feira, 16 de maio de 2007

INTERPRETANDO O PAPA

15/04/2007

Penso não caber dúvida quanto à capacidade intelectual do papa Bento VXI, que há pouco nos visitou. Quem tem a oportunidade de ler seus livros, seus discursos e seus pronunciamentos, como eu, sempre fica encantado com o verdadeiro manancial de cultura e sabedoria que sua obra deixa transparecer, calcada em grande erudição. Na sua declaração de domingo contra as ideologias – nominalmente o marxismo e o capitalismo – parece todavia ter gerado grave incompreensão, especialmente por parte daqueles que se tornaram militantes anti-católicos e não perdem a oportunidade de macular a Igreja e seu chefe, o papa. O mínimo que ouvi é que Bento XVI seria um homem restaurador das trevas e contrário à economia de mercado, decidido a reimplantar a ordem medieval entre nós. Nada mais falso.

Da mesma forma, Lula e o PT não perderam a oportunidade para dizer ao papa que são favoráveis ao Estado laico, à separação entre o poder de Estado e o poder da Igreja, como se essa questão tivesse sido colocada em algum momento e como se Bento XVI quisesse consagrar Lula como um bispo católico. A simples declaração nesse sentido foi uma enorme descortesia de nosso governo para com o Sumo Pontífice. A declaração de Lula só pode ser compreendida como peça de propaganda em face da evidente vitória moral do papa em sua cruzada contra os que militam contra a dignidade da vida humana, os abortistas, os que propõem a eutanásia e experimentos com embriões. Claramente foi um argumento para desviar a opinião pública da questão substantiva, a de que nosso governo milita ativamente contra os valores do Cristianismo em geral e do catolicismo em particular e que tenta continuamente moldar o ordenamento jurídico às suas idiossincrasias satânicas.

Em se conhecendo a competência específica do papa como teólogo e mesmo filósofo é ridículo duvidar de seu discernimento. Por isso resolvi escrever esta nota para pôr os pingos nos “is”, pelo menos mostrar o que deve ser corretamente compreendido na admoestação papal, de grande valor pastoral.

Obviamente o papa não é contra a economia de mercado e seria um tolo se o fosse. E toda a gente sabe que ele não é tolo. O que seus detratores escondem é que a palavra capitalismo usada no contexto foi empregada para designar um conjunto ideológico muito bem definido, de ateus e agnósticos que entendem poder o mercado substituir a Revelação como fundamento da moralidade e dos valores superiores da civilização, a exemplo dos seguidores de Ayn Rand e de todos os que adotaram os valores do Iluminismo que contariam a tradição cristã. Fazer apologia ao capitalismo não é o mesmo que pregar o Reino do Céu. O mercado não é o caminho da perfeição.

Então dizer que o papa é contra a economia de mercado por utilizar a expressão capitalismo dentro desse contexto é má fé, pura mendacidade coberta de malícia. Em alguns casos, como nos comentários de Clóvis Rossi e de Fernando de Barros e Silva, ambos jornalistas da Folha de São Paulo, também há alta dose de ignorância, pois estou certo de que esses dois são incapazes de fazer a distinção que mostro aqui. Mal sabem do seu credo marxista.

Em resumo, o papa disse que a mensagem de salvação não está nas ideologias, inclusive naquelas de teor capitalista, que podem eventualmente conter uma opinião verdadeira sem conter no entanto a verdade integral. Que a salvação só pode se dar pela Palavra de Deus. E mais não disse porque não precisava dizer.

Nivaldo Cordeiro
www.nivaldocordeiro.net