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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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Ditadura: Dilma quer identificar torturadores
Dilma Rousseff pretende identificar torturadores; agressores não podem ser punidos porque foram anistiados
Evandro Éboli e Maria Lima - O Globo - 09 01 2011
BRASÍLIA. Vítima da tortura durante o regime militar, a presidente Dilma Rousseff está disposta a ir além do que fez o governo Lula em relação ao reconhecimento oficial das violências cometidas pela ditadura. A partir de agora, o Executivo vai se empenhar na aprovação do projeto da Comissão Nacional da Verdade para que os torturadores sejam identificados. Mas o governo sabe que não dá para ir adiante e punir os agressores porque foram todos anistiados. 





E A SOCIEDADE QUER OS TERRORISTAS
      IDENTIFICADOS




- O Estado brasileiro vai ter de deixar claro que houve tortura e nominar que fulano de tal é torturador. É preciso uma manifestação final de quem foi torturador e o que ocorreu nos porões da ditadura - disse um interlocutor do Palácio do Planalto. 
A relação e a história de Dilma com esse passado vai tornar seu governo diferente no trato de temas como abertura de arquivos e busca pela localização de desaparecidos políticos. Em apenas uma semana de mandato, a presidente deu algumas demonstrações que esses assuntos lhe são caros. No discurso de posse, usou o jargão dos anos de chumbo e falou dos amigos que "tombaram no caminho" e que, como ela, ousaram "enfrentar o arbítrio".
Outra manifestação de apreço à causa foi na festa de sua posse, quando convidou diversas colegas que estiveram presas com ela no presídio Tiradentes, nos anos 70, em São Paulo. As antigas militantes foram a atração no coquetel do Itamaraty. Posaram para fotos até com embaixadores de outros países, curiosos em conhecê-las.

Declaração de ministro rende puxão de orelha Nesta semana, Dilma reagiu à declaração do general José Elito Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional. O oficial tocou na ferida ao afirmar que o fato de haver desaparecidos durante o regime militar não era motivo de se envergonhar ou se vangloriar. Dilma o convocou para uma conversa, interpretada como um puxão de orelha.
A iniciativa de Dilma de convocar Elito teve impacto imediato entre suas colegas. Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, a jornalista Rose Nogueira, que esteve presa com Dilma, elogiou o comportamento da colega nesse episódio.
- Diria que foi um cartão de visita de Dilma. Não se pode ser tolerante mesmo com essas posições. O general teve que se explicar e se espera que tenha aprendido a lição. Dilma é assim, dura e firme de um lado, mas doce e conciliadora quando precisa ser - disse Rose Nogueira. - Lula é mais conciliador, mais popular. Os dois têm personalidades bem diferentes.

Jobim quer Comissão da Verdade ''para os 2 lados

Declaração alimenta a tensão no governo por atingir, potencialmente, época de atuação de Dilma como guerrilheira
O Estado de S.Paulo - 08 Jan 2011
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu ontem a tese de que a Comissão da Verdade, destinada a apurar violações aos direitos humanos ocorridas durante o regime militar, investigue não só as ações patrocinadas pela ditadura, mas também a atuação de grupos da esquerda armada que tentavam derrubar o regime. A declaração de Jobim alimenta a tensão no governo por atingir a atuação na época da hoje presidente Dilma Rousseff, que foi guerrilheira.
"Houve uma divergência inicial com o então secretário Paulo Vanucchi sobre a natureza do projeto. O projeto pretendido por ele era unilateral, pretendia fazer uma análise da memória apenas por um lado da história. Nós queríamos que fosse feita uma visão completa do tema - ou seja, as ações desenvolvidas não só pelas Forças Armadas à época como também pelos movimentos guerrilheiros ", declarou em entrevista ao programa Bom dia Ministro, da EBC.
Repreensão. A criação da Comissão da Verdade desencadeou uma pequena crise no Palácio logo no início do governo. Na segunda-feira, em sua posse, o general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, disse que não era motivo de vergonha para o País o desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar. Irritada, Dilma repreendeu o general, que pediu desculpas à presidente pela declaração polêmica.
Torturada durante a ditadura, Dilma afirmou em seu discurso de posse não ter ressentimentos nem rancores. Antes mesmo de assumir, ela chamou os comandantes das Forças Armadas para dizer que não haveria "revanchismo" e pedir que não houvesse por parte dos militares "glorificação" do golpe de 31 de março de 1964, que instituiu o regime que governou o País até 1985.