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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Insensatez e Amazônia

por Armando Soares (*)

Barbara W. Tuchman diz com muita propriedade em seu livro que o repúdio da razão é a primeira característica da insensatez.

No seio do governo brasileiro, quando se trata da Amazônia, a razão foi substituída pela insensatez e pela irresponsabilidade quando se usa a região e 21 milhões de pessoas como cobaias de uma experiência de troca de modelo econômico, decisão que pode inviabilizar a vida de várias gerações.

O pensamento racional lembra Tuchman, claramente aconselhava os troianos a suspeitar de um ardil quando acordaram verificando que todo o exercito grego desaparecera, deixando apenas estranho e monstruoso prodígio à frente das muralhas da cidade. O procedimento racional esclarece a escritora, deveria ter sido ao menos, examinar o cavalo em busca de inimigos, tal como foram veementemente aconselhados, lamentavelmente essa alternativa esteve presente e bem viável, mas foi posta de lado em favor da autodestruição.

Esse fato histórico do presente grego inusitado do cavalo que agasalhou o exército invasor levado hoje para a Amazônia é representado pelas ONGs, presente de nossos inimigos - os EUA e principalmente a União Européia - que querem e usam de todos os meios para concretizar o domínio econômico e territorial da região, células que se apresentam com a capa de defensores do meio ambiente, mas que na realidade encarnam os exércitos modernos, que não usam armas, tanques e aviões bombardeios, mas a sutiliza, a inteligência, uma engenharia de ocupação extraordinária, a ponto de, via uma rede de informação eficiente, para convencer governos e ministros que querem o bem da Amazônia e dos nossos índios, desafiando e menosprezando nossa inteligência e a advertência de George Washington, presidente americano, quando em momento brilhante advertiu: "Deveis ter sempre em vista que é loucura esperar de uma Nação favores desinteressados de outra e que tudo quanto uma Nação recebe como favor terá de pagar, mais tarde, com uma parte de sua independência. Não pode haver maior erro do que esperar favores reais de uma Nação a outra."

Brasileiros, particularmente os do sul e sudeste, acostumados a considerar a Amazônia como "fundo do quintal do Brasil", preocupados mais com seus negócios, divorciados do sentimento de brasilidade, anestesiados por uma mídia mercantilista que só enxerga o vil metal, e lamentavelmente por amazônidas que não aprenderam a lição da história, quando a Amazônia foi perversamente estagnada por um governo elitista que trocou café por borracha, ainda não examinaram como deviam o presente grego moderno – as ONGs – permitindo assim que a liberdade e a soberania fosse autodestruída, talvez imaginando que do engessamento territorial e econômico da região Amazônia, nasça, por um passe de mágica, um espetacular desenvolvimento, ou, o que seria pior, consideram, por estarem com suas renda garantida, que a Amazônia deve continuar como laboratório de experiências, região de saque e sob a tutela de estrangeiros, que através da pirataria histórica conseguiram o desenvolvimento, a prosperidade e do domínio do mercado.

Em recente evento promovido pelo Museu Emílio Goeldi, o moderador, pertencente aos quadros da instituição, de quando do debate sobre desmatamento e modelo econômico, na tentativa de justificar o injustificável, a proposta da substituição do modelo de mercado cartesiano pelo modelo de desenvolvimento sustentável, desconhecido no mundo, confirmou a ausência do modelo no mundo rico e pobre, mas afirmou com a cara mais cínica que a Amazônia pode provar ao resto do mundo a eficiência do modelo criado por Maurice Strong, o gerente da governança global, com objetivo de conter qualquer tentativa de desenvolver a região. Fica claro e confirmado, pela atitude do representante ambientalista do Museu Goeldi que a região amazônica é laboratório de uma experiência única no mundo, que vai utilizar como cobaias 21 milhões de pessoas, sem conhecer das conseqüências desse ato irresponsável. O insucesso dessa experiência, o que é mais provável, além de destruir a economia amazônica, como já vem acontecendo, deixará como herança a estagnação e milhões de indigentes.

Fazer experiências com insetos, cobras, macacos, morcegos ou pequenos animais é uma coisa, mas fazer experiências com 21 milhões de pessoas é no mínimo irracionalidade criminosa e, em caso de insucesso, pois não há nenhuma garantia que venha a dar certo, os mentores da idéia e as ONGs irão imediatamente desaparecer da Amazônia, como fazem os ratos quando o barco começa a afundar.

Está na hora do povo amazônico reagir com autoridade e responsabilidade e não aceitar o presente grego, sob pena de se autodestruir. Poder nas mãos de pessoas insensatas, despreparadas, sem grandeza, sem bússola e visão estadista, gera no tempo, sofrimento, pobreza e atraso econômico. É isto que queremos para a Amazônia e o Brasil?

(*) Economista e Diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará
asoares37@yahoo.com.br