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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

PALAVRAS DE UM GENERAL DA ATIVA

Pelo Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva

Passei a semana lendo a respeito de duas modificações no Ministério da Defesa. Como foram as medidas. A quem elas atingiram.
Quais os seus propósitos. E, também, eventuais repercussões na imprensa, no Congresso, no Exército Brasileiro (principal atingido na figura de dois oficiais-generais de quatro estrelas, um da ativa e outro da reserva remunerada). Não consegui formar uma opinião sobre a aceitação ou, simplesmente, sobre o descaso da opinião pública em relação ao que se passou.
Por serem meus conhecidos de longa data e, em circunstâncias distintas, meus subordinados imediatos, liguei-me aos generais Bini e Santa Rosa, para hipotecar-lhes minha solidariedade, por considerar que seus afastamentos caracterizam mais uma indelicadeza, para com o Exército Brasileiro, desse falsificador confesso da Constituição Brasileira, que agora ocupa - não por méritos ou conhecimentos indispensáveis, mas por maquinações políticas do apedeuta Presidente da República - o cargo de Ministro da Defesa. Da prudência com que se portaram em nossas conversas - e nem seria lícito esperar outra coisa de dois homens da mais alta hierarquia da Força Terrestre - não pude concluir, senão, que se tratava de duas medidas de caráter puramente político, com as quais o fanfarrão jobim (quem se fizer de revisor, em eventual transcrição deste artigo, não ponha maiúscula no jota) pretende pavimentar caminho para candidatura presidencial. Se o ameaçador ministro esperava reação, a decepção deve ter sido grande, até porque - acredito - nenhum dos dois generais devia estar à vontade servindo sob ordens diretas de pessoa não confiável.
Não estando subordinado a essa figura – que, no Supremo Tribunal Federal, ousou até advertir um ministro daquela excelsa corte, em pleno exercício do direito de votar, abrindo um precedente odioso - devo dizer-lhe, com todas as letras o que significa chegar à quarta estrela de general. É um longo processo de avaliação e capacitação. Capacitação que está bem caracterizada numa belíssima frase gravada num dos pátios da Academia Militar das Agulhas Negras: "Cadete, ides comandar, aprendei a obedecer". Assim se forjam os chefes militares. Ninguém chega a capitão se não tiver sido tenente. Ninguém chega a general se não foi coronel. Não há DAS, nem outras facilidades. Ninguém entra pela janela, sem concurso. Só porque é do PMDJ, PMDS, PMDH, PMDZ, ou que outro P seja. Muito estudo em cursos obrigatórios e facultativos (sem colas, nem falsificações), transferências que dão vivência nacional, observação constante e conceituação honesta dos superiores, além da implacável avaliação dos subordinados (que avalia os verdadeiros líderes) que também, indiretamente, se reflete na formação do perfil dos futuros generais.
Assim, com todos os indispensáveis requisitos chegaram meus amigos Bini e Santa Rosa ao mais alto posto da hierarquia terrestre. Bini, já na reserva, foi convidado a permanecer no Ministério da Defesa por suas qualidades, por sua experiência, por sua integridade. De repente, a Secretaria de Estudos e de Cooperação que ele chefiava foi extinta; em seu lugar, o ameaçador ministro criou uma Secretaria de Aviação Civil e, nela, colocou uma senhora na chefia. Ora, se o Departamento de Aviação Civil, que sempre era chefiado por um experiente e honrado oficial-general da Força Aérea Brasileira, foi considerado dispensável e substituído pela tal de ANAC (desnecessários comentários quanto a sua eficiência...), por que, agora, criar uma secretaria, sem extinguir a agência reguladora? Na luta entre as pernas compridas do ministro e as poltronas da aviação comercial, cria-se mais uma coisa dispensável, cabide de cargos, instrumento de pressão para forçar o senhor Zuanazi a se afastar, mesmo se protegido pela poderosa ministra Dilma, da Casa Civil?
Quanto ao Santa Rosa, conheço-o desde 1966, quando fui comandar a Companhia de Cadetes de Infantaria, em Agulhas Negras. Por dois anos, participei de sua formação para ser oficial da Rainha das Armas. Compenetrado, estudioso, sério, respeitado e querido por seus companheiros, diplomou-se entre os primeiros de sua turma. Emocionei-me quando ele foi promovido a general-de-exército, porque sabia que o Exército reconhecia os méritos de quatro décadas de dedicação, revestidas de modéstia por todos apreciada. Qualquer posição que tome, qualquer pronunciamento que faça, qualquer reação que esboce a possíveis empregos de tropa do exército, serão sempre em benefício da Pátria Brasileira. Tenho certeza de que, como não se calou diante da fúria insaciável das tais organizações não governamentais (ONG) que só se nutrem dos dinheiros governamentais ou de fontes que são contrárias aos interesses nacionais, não se calará diante de outras tentativas dos que querem prejudicar ou se aproveitar do Brasil. Talvez o falastrão de pernas compridas tivesse a esperança de que o ínclito general pedisse seu boné e fosse para casa. Seria um obstáculo a menos para planos políticos demagógicos de muita gente. Volta para a Força Terrestre, com sua dignidade na plenitude, com o respeito de seus pares e subordinados, com a indispensável autoridade para desempenhar qualquer uma das funções compatíveis com sua alta patente.
Patente de oficial-general, que lhe é outorgada pela Nação Brasileira, como consta, literalmente, na carta-patente que é expedida e firmada pelo Presidente da República que estiver em exercício. Não será um ministro de ocasião quem vai macular diploma tão importante.
Desde a posse, esse senhor mostrou-se destemperado. Seu discurso inicial já foi alvo de críticas pela inoportunidade e, até, pela grosseria. Seu posicionamento, quando do lançamento de um livro feito por comunistas derrotados e ressentidos por não terem implantado o comunismo no Brasil, ameaçando quem se pronunciasse contra, foi simplesmente ridículo, pela tentativa de intimidação dos chefes militares. Em momento algum, foi levado a sério, nem mesmo pelos esquerdinhas mais ferrenhos. Sabe-se, mas a prudência dos chefes militares não permite que se confirme, que andou levando uns trancos e se aquietou. Já é hora de mandar esse cara a ... bom, deixa pra lá...
Brasília, DF, 23 de setembro de 2007.

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