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quarta-feira, 11 de abril de 2007

Associação Bancada Militar

SENTIMENTO DA TROPA

Os companheiros Sargentos da Aeronáutica controladores de vôo estão no foco da mídia nacional e internacional por conta da crise que tem nome de apagão aéreo, a qual teve sua origem no pior acidente da nossa aviação civil: o do Boeing da gol e do jato Legacy, que vitimou 159 pessoas em setembro de 2006 e que a partir daí tem todo um desdobramento cronológico até o presente momento Tais fatos vêm expondo as vísceras da situação político-administrativa da aviação civil, que se encontravam ocultas, mas que mostram o total desinteresse deste e de outros governos no que concerne à política de investimento e gerenciamento nos vários setores da administração pública, notadamente na área de segurança nacional

A ABM não poderia deixar de prestar solidariedade aos companheiros Sargentos Controladores de Vôo neste momento crítico, por entender que é mais um episódio que vem demonstrar que precisamos estar inseridos nos diversos fóruns do parlamento nacional através de uma “Bancada Militar Permanente”, para que possamos ser ouvidos e ter o respeito e a dignidade, dada a importância que representamos para a soberania nacional, impondo e mostrando o nosso papel constitucional. Não podemos no futuro permanecer como simples coadjuvantes na tomada de decisões com vistas ao melhor desempenho da máquina pública. Possuímos papel importante na construção destes objetivos e sempre que por culpa, erro, omissão e/ou corrupção, ficamos expostos à critica da opinião pública, como ocorre agora, devemos nos unir e não permitir que nos transformemos em “bode expiatório” . Nossa missão é não permitir que a inércia desse e de outros governos no que concerne a esse setor seja mascarada e somente nós sejamos responsabilizados.

A punição pelo motim em nome da “disciplina e da hierarquia” é prática que ameniza o inconformismo e a justa revolta da sociedade elitizada e dos consumidores de viagens aéreas, mas não encerra o problema em si. Faz-se necessário uma reflexão e uma análise política sobre o problema. É necessário rever os dogmas militares e suas aplicações num regime democrático fora do palco do combate. Com o advento do terceiro milênio, num mundo globalizado e informatizado o mesmo nível de conhecimento de informação é diluído igualmente da cúpula à base de qualquer estrutura dos grupamentos humanos; a internet veicula a notícia em tempo real. Nesse contexto, o mundo todo sabe que a crise do chamado “apagão aéreo” se resolve com política de investimento no setor e não com prisão de Sargento controlador de vôo. Esse episódio pôde mostrar o risco que a sociedade corre devido à falta de vontade política do nosso país para com este setor.

A atitude dos Controladores prestou um serviço tão relevante para a sociedade que, mesmo incorrendo em “erro” segundo a doutrina militar, mereceu o destaque de uma negociação direta por parte do governo com o aval presidencial e obteve promessa de atendimento de suas reivindicações sem aplicação de punições. Sem dúvida um fato inédito, a quebra de um paradigma e, por se tratar de uma notoriedade dos “mudos e surdos” das bases e não da cúpula, só não foi mais brilhante porque este grupo não negociou em nome do todo e utilizou a pressão de uma atividade essencial e não um fórum político de discussão tal qual se propõe a ABM.

Lamentável, todavia, que o clamor da elite e a forte vontade de punir da estrutura militar, tenham forçado o comandante supremo das Forças Armadas a recuar e desautorizar o seu ministro (que não é o da defesa) nas negociações.

Outro fato lamentável é a nota transmitida pelos representantes dos controladores de vôo pedindo o perdão da elite brasileira. Embora salvaguardada a estrutura militar, a altivez da cúpula executiva e a palavra do rei sem palavra, nos perguntamos se com um apagão marítimo, dos portos, das estradas, das fronteiras, do meio ambiente, se iria execrar pelas mesmas razões os companheiros Sargentos da Marinha, do Exército, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Florestal etc.

Não é demais lembrar que as greves do INSS deixam milhões de pobres e miseráveis sem benefícios, nas greves nos hospitais públicos morrem dezenas de pobres e miseráveis nas filas, nas greves dos transportes milhões de pobres e miseráveis ficam sem locomoção, nas greves da educação milhares de crianças pobres e miseráveis ficam sem aula, nas greves da polícia os pobres e miseráveis ficam expostos ainda mais ao banditismo; e nenhum grevista até hoje pediu desculpa aos pobres e miseráveis. O grande erro dos Sargentos foi que a greve dos controladores não atingiu os pobres e miseráveis, atingiu as elites, os políticos, e os empresários. Todavia, e apesar de tudo, foi rompido o silencio da “hierarquia e disciplina” e não sua quebra, como está sendo alardeado. Concluo lembrando que se esse silêncio tivesse sido rompido antes, talvez não existisse um saldo de 159 mortes com os verdadeiros culpados sem punição.

Jorge Page

Sub-Oficial RM1

Presidente da ABM