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quarta-feira, 27 de abril de 2011


Deputada venezuelana acusa Chávez de radicalizar ações contra a iniciativa privada

Tatiana Farah
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Maria Corina no IFHC, em São Paulo: deputada de oposição mais votada - Marcos Alves/ O Globo
SÃO PAULO - Deputada de oposição mais bem votada na Venezuela, Maria Corina Machado desponta como um dos possíveis nomes para enfrentar Hugo Chávez nas eleições do próximo ano e o acusa de, por trás de um discurso mais ameno, endurecer as medidas contra os parlamentares e a iniciativa privada. No Brasil para uma série de atividades políticas, Maria Corina diz que o presidente venezuelano está fragilizado tanto interna quanto externamente. Em evento na terça-feira no Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), Corina criticou o silêncio de países vizinhos, incluindo o Brasil.
O GLOBO: Hugo Chávez tem perdido influência na América Latina, recebendo críticas de líderes que já foram próximos a ele, como o peruano Ollanta Humala. Seus aliados têm se resumido a Bolívia e Equador. Por quê?
MARIA CORINA MACHADO: O mais importante é que Chávez não tem perdido sua influência apenas na região, mas tem perdido respaldo dentro da Venezuela. Em 2012, daqui a 586 dias, não só mudaremos o governo, mas começará uma nova era para a América Latina.
O GLOBO: Chávez tem passado a imagem de que está abrandando o governo, diminuindo a pressão sobre a TV e libertando uma de suas adversárias políticas. Isso é verdadeiro?
CORINA: Mais brando em seu discurso apenas. Temos de ter muito cuidado. Ele sabe que é minoria. E isso é, obviamente, uma estratégia eleitoral. Porque as medidas que tem tomado nos últimos meses são muito mais severas. Nas eleições de setembro, apesar de ter mudado as regras, nós obtivemos maioria. Desde então, ele radicalizou suas ações contra a propriedade privada, empresas e pequenos negócios, além de uma ofensiva contra os empreendimentos imobiliários. Ele aplicou praticamente um golpe de Estado sobre a Assembleia Nacional, obrigando-a a aprovar todas as leis do chamado poder popular, criando a figura das comunas. Onde há figuras semelhantes? No Livro Verde de Kadafi.
O GLOBO: O que pensa sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul?
CORINA: Chávez tem dito há cinco anos que vai entrar no Mercosul e nada aconteceu. Realmente, há contradição profunda, gigantesca, entre o Mercosul e Chávez. O Mercosul fala em promover investimentos e o comércio recíproco; Chávez põe controles e travas à importação e à exportação. O Mercosul fala em promover acordo amplo na OMC, Chávez quer excluir-se de todo acordo com a OMC. O Mercosul tem um tratado de livre comércio com Israel, Chávez rompeu relações diplomáticas com Israel, entre outras. O obstáculo para o Mercosul é Chávez.
O GLOBO: Qual a proposta da oposição venezuelana?
CORINA: Um novo modelo de desenvolvimento para a Venezuela, que busque a inclusão real e não a perseguição aos que pensam diferente, com instituições democráticas. Buscar um crescimento econômico da população, com um país de empreendedores, para acabar com a pobreza e não para exaltá-la e utilizá-la como um mecanismo de chantagem política, como faz esse governo. Essa é sua grande tragédia. E devemos buscar um verdadeiro modelo de integração regional, porque não nos enganemos: Chávez não defende a integração. A relação da Venezuela com o Brasil é danosa para os dois países.
O GLOBO: A senhora será candidata nas primárias da oposição?
CORINA: Estou concentrada agora em fortalecer a oposição em nível nacional. O que o país exige de nós é que demonstremos nossa disposição em servir à Venezuela. Estou decidida a servi-la e o farei onde for mais útil, seja qual for o lugar.
O GLOBO: A senhora é criticada por ter vindo de uma ONG, a Sumate, que seria financiada pelo governo dos Estados Unidos. Não seria uma intervenção?
CORINA: Em todos os países existem programas de cooperação internacional. Por que se busca financiamento externo? Para ser independente dos grupos econômicos locais e para ser independente do governo. Fui da Sumate por muitos anos. Recebemos cooperação do Congresso dos EUA e também de outros governos. Aqui há cooperação internacional e é pública.