Mais detalhes sobre a propina que abasteceria Hélio Costa, Dilma e Erenice
Quícoli é ligado à empresa de energia ERDB, que tentava aportes do governo, e, ao negar pagar a propina, teria tido seu pedido de empréstimo de R$ 9 bilhões barrado no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
- O Marco Antonio, junto com o Vinícius, chegou para mim e pediu R$ 5 milhões, que a Dilma estava precisando para pagar, para poder viabilizar uma dívida. O Marco Antonio pediu o dinheiro para apagar fogo da Dilma, da Erenice e do Helio Costa, candidato lá, do governo em Minas, hoje - disse Quícoli, em entrevista ao GLOBO.
De acordo com Quícoli, a transação deveria ser feita em nome da empresa Capital Assessoria, de propriedade de um dos filhos de Erenice Guerra, Saulo, e da mãe de Vinícius.
- Eu falei: preciso de uma empresa para vocês poderem receber. Para eu poder, pelo menos, qualificar ela como uma consultora minha. Ele (Marco Antonio) mandou o email, com o nome da empresa, era a empresa que está no nome do Saulo.
O caso teria ocorrido há cerca de quatro meses, depois que Quícoli, representante da ERDB, teria se negado a pagar R$ 40 mil mensais ao grupo e uma comissão de 5% em caso de aprovação do empréstimo de R$ 9 bilhões para a construção de usinas de geração de energia eólica no Nordeste. Os contatos com Marco Antonio, segundo Quícoli, começaram em outubro do ano passado. Em 17 de junho, ele foi demitido do cargo de diretor de Operações dos Correios. A vaga foi ocupada pelo coronel Artur Rodrigues, dono da Martel, consultoria supostamente ligada à MTA (Master Top Linhas Aéras), empresa acusada pela revista Veja de ter sido beneficiada pelos Correios.
Apesar de negociar com a Capital, Quícoli afirmou que nunca encontrou-se com os irmãos Saulo e Israel Guerra, filhos de Erenice. Mas disse que participou de inúmeras reuniões na Casa Civil, sendo que a primeira, com a então secretária do ministério, Erenice Guerra:
- Conheci o Marco Antonio no Rio de Janeiro. Ele me foi apresentado por um amigo em comum. Esse Marco Antonio gostou do projeto, levou o projeto para o Vinícius, para viabilizar um encontro com a Dilma (então ministra da Casa Civil). A Dilma não pode atender, a Erenice que atendeu. A Erenice encaminhou para a Chesf_ disse o empresário, ironizando a afirmação da ex-ministra de que nunca o teria encontrado:_ Eu sou o homem invisível para eles agora?
Quícoli disse não saber se os R$ 5 milhões pagariam dívidas de campanha ou se Dilma e Erenice sabiam do pedido milionário.
- Não me disseram que era (para cobrir) um rombo da campanha. Acho que eram dívidas particulares. Alguma coisa assim que o partido não tinha como sustentar. Acho que eram coisas particulares e não tinham nada a ver com o partido, em si. Ele (Marco Antonio) me disse que era dos três, na verdade, Dilma, Erenice e Helio Costa. Esse encontro foi há três, quatro meses, em Brasília. Ele ainda era o diretor dos Correios.
- Não tenho documento sobre os R$ 5 milhões, mas tenho o documento que eles me passaram depois, da empresa, para poder faturar. Lá no email está especificando justamente que a quantia é para faturar naquela empresa (Capital).
Quícoli, que disse ter sido filiado ao PSDB e ao PDT, disse também que votou no presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas duas últimas eleições. Para este ano, seu voto, segundo ele, é do ex-governador José Serra (PSDB). Ontem, gravou depoimento sobre o caso para o programa do tucano. Ele responde a dois processos na Justiça, um deles por ter recebido notas falsas em seu posto de gasolina e outro por interceptação de carga roubada. Sobre as notas falsas, diz que a recebeu seu saber, em seu posto de gasolina, em Campinas. Sobre a carga, disse que é inocente.
Hoje, a empresa ERDB afirmou, em nota à imprensa, que Quícoli não está qualificado para falar em nome da empresa. Ele não consta como funcionário ou sócio da companhia nem das empresas que a formaram. Os dois sócios são Aldo Wagner e Marcelo Scarlassara. O empresário do setor energético Ivo Rischbieter também foi sócio da empresa, mas deixou o negócio, segundo Quícoli, há cerca de um ano.
Quícoli admitiu que não é sócio da ERDB, mas afirmou que tem um contrato registrado de parceria. Questionado sobre o contrato ser de gaveta, respondeu:
- Eu tenho um contrato, de que tudo que é da área ambiental da ERDB, eu tenho 50%. É formal, de gaveta, e registrado. Estou na frente desse evento porque eu sou a pessoa encarregada (da ERDB) para poder viabilizar toda a parte de aporte para desenvolvimento sustentável que a ERDB tem patentes.
Perguntado sobre sua motivação e a data escolhida para fazer a denúncia, publicada ontem pela Folha de S. Paulo, o empresário respondeu:
- Todo tipo de denúncia você agrega informações, se calça, se preserva, para poder viabilizar uma informação. Como aconteceu esse evento, de vir essa semana toda criticando a Casa Civil por envolvimento de propina, sabe, de pessoas que não pertencem ao governo serem cogitadas, nepotismo. Como uma ministra coloca os filhos dela lá para viabilizar aporte de R$ 9 bilhões? Quando eu vi que o contrato que eu tinha, da empresa (Capital), era a mesma, eu conversei com a empresa e falei: vou me manifestar. Primeiro eu chequei no BNDES e deu que o meu projeto estava totalmente anulado. Daí, deu a entender que, realmente, o poder deles, por eu não ter assinado o contrato, foi de vetar. Foi o estopim para mim.
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