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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dona encrenca na ANAC





A briga atual Solange desafiou Sérgio Cabral e Aécio Neves

Com as bênçãos do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a economista Solange Vieira assumiu a presidência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em setembro de 2007 quase como uma unanimidade. Pouco mais de um ano depois, parece que o encanto de Solange, que chegou a ostentar o título de musa da Esplanada dos Ministérios, acabou.

Hoje, a quantidade de pessoas que desejam vê-la fora do governo é tamanha que caberia num Boeing e ainda seria necessário lista de espera. Desde que tomou posse, a presidente da Anac, apelidada por funcionários da própria agência de "Dona Encrenca", passou a acumular queixas e polêmicas. De 2007 para cá, Solange já criou frentes de atrito com governadores, como o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, diretores e procuradores da Anac, membros do Conselho Nacional de Turismo, o presidente demissionário da Infraero, Sérgio Gaudenzi, e até parlamentares no Congresso.

O estilo Solange Vieira de comandar pode ser ilustrado por um episódio envolvendo o ex-diretor do órgão, brigadeiro Allemander Pereira. Ele entrou na sala da presidência, e Solange, de cabeça baixa, sem olhar para o visitante disparou: "Brigadeiro, eu não me lembro de ter mandado chamá-lo..."

"Educadamente, ele deu meia-volta Solange Vieira assumiu a Anac como musa e hoje é conhecida como "Dona Encrenca" Sérgio Pardellas C e saiu. Esse fato marcou o clima de arrogância que passou a imperar na nova Anac com a chegada da Solange", conta Claudio Magnavita, membro do Conselho Nacional de Turismo e amigo do brigadeiro, que pediu demissão da Anac três meses depois.

Devido também a desentendimentos com Solange, nada menos do que quatro procuradores-gerais do órgão pediram exoneração da agência no período de um ano. O último a deixar o órgão foi Rogério Emílio de Andrade, no final de novembro, sob alegação de falta de independência do setor jurídico. "Peço exoneração considerando o desaparecimento da relação de reciprocidade e confiança imprescindível ao exercício do cargo que atualmente ocupo", disse Andrade em sua carta de demissão.O presidente demissionário da Infraero, Sérgio Gaudenzi, é outro que atribui a sua saída da estatal - marcada para a sexta-feira 19 - às constantes desavenças com a presidente da Anac.

A mais recente divergência dos dois foi sobre o modelo a ser adotado no processo de concessão dos aeroportos. Solange, com o apoio de Jobim, decidiu entregá-los à iniciativa privada o mais rápido possível, enquanto Gaudenzi, preocupado com os aeroportos deficitários, preferia manter o patrimônio da Infraero nas mãos do Estado, abrindo o capital da empresa pública ao mercado. Nos últimos dias, Solange resolveu abrir uma nova trincheira de luta. A briga agora é pela ampliação dos vôos no aeroporto Santos Dumont, no Rio. Do outro lado está o governador do Rio, Sérgio Cabral, e parlamentares da bancada fluminense no Congresso.

Para Cabral, a idéia de ampliar o Santos Dumont joga areia no plano de revitalização do Galeão. "Isso é fundamental para o projeto da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016", argumenta o governador. A disputa pode até parar na Justiça. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é outro que está em rota de colisão com Solange por conta da insistência dela em abrir o aeroporto da Pampulha para vôos entre capitais. "Se isso for adiante, eu fecho o aeroporto", ameaçou Aécio. Procurada por ISTOÉ, a presidente da Anac não deu retorno.

Relação difícil: Em um ano, quatro procuradores-gerais da Anac pediram exoneração