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sábado, 10 de janeiro de 2009

A BESTA DO APOCALIPSE

Maria Lucia Victor Barbosa
9/1/2009

Dia destes, assisti pela TV a um documentário que mostrava possíveis cenas do Apocalipse. Muitas eram as possibilidades de nosso pequeno planeta ser destruído: vulcões, maremotos, terremotos, degêlo, meteóros, invasões alienígenas, Colisor de Partículas e muitos mais riscos rondam a minúcula Terra. Tudo é tão perigoso que é de se perguntar como ainda não fomos catapultados para o espaço sideral onde nossas insignificantes cinzas passariam despercebidas na vastidão cósmica.
Conclui, porém, que o maior perigo que ronda o homem é o próprio homem cuja psique jamais evolui. A humanidade como um todo continua ignorante, avara, ganaciosa, invejosa, hipócrita, mentirosa, egoísta, hedonista, cruel, violenta. Estes atributos aparecem de forma inequívoca nos jogos do poder político, intimamente ligado ao poder econômico. Mas, existem também nas relações interindividuais que se processam no meio familiar ou do trabalho onde de forma micro assomam as canalhices, os golpes de esperteza ou mesmo a violência que presenciamos no campo macro das governanças.
Ao mesmo tempo, existe uma tendência inata no ser humano, com as exceções de sempre, que o induz a se inclinar para o que é mau, abjeto, pérfido e uma necessidade visceral de se submeter á alguma pessoa ou entidade para se comprazer na igualdade que escraviza. Daí o nasce o amor a mentira, a necessidade de crer em lendas e mitos para fugir da mediocridade do cotidiano.
Estas características sempre presentes desde que o homem se pôs de pé e usou as mãos, se acentuaram ao longo do século passado e se aprofundaram nessa era de vulgaridade na qual valores e comportamentos estão massificados, confusos, difusos e a busca pelo sentido da vida se perde na pressa, no imediatismo, na superficialidade das ações e dos relacionamentos.
O repúdio a Israel, que durante anos suportou homens-bomba e foguetes disparados pelo Hamas sobre sua população é prova do que ocorre nos tempos atuais. A perseguição aos judeus, seu sofrimento nunca despertaram comiseração. Muitos negam até o holocausto, um dos piores horrores cometidos contra um povo. E assim como a multidão preferiu perdoar Barrabaz a Jesus, agora a maioria presta solidariedade ao terrorismo, o que demonstra o gosto humano pelo totalitarismo que esmaga a liberdade, pela distorção da verdade, pelo fanatismo que é o lado malígno das religiões.
Todos se apressam a palpitar sobre tema de tal complexidade, condenar Israel embalados pelo que se diz na mídia, imersos em feroz antissemitismo que, por sua vez, se liga ao raivoso antiamericanismo. Entretanto, não só os incautos das boas intenções que se apiedam dos pequenos mártires de Alá, escudos humanos do Hamas, vítimas do fundamentalismo islâmico, mas também os espertalhões ideológicos, não se dão conta do cerne da questão que foi bem apresentada por Yossi Kleim Halevi e Michael B. Oren, em matéria publicada no The Los Angeles Times e transcrita pelo O Estado de S. Paulo (08/01/2009).
Halevi e Oren mostram claramente a verdadeira natureza do conflito ao afirmar que o Hamas, assim como o Hezbollah, no Líbano, não passa de uma forma avançada do verdadeiro inimigo com o qual Israel se confronta: o Irã. Desse modo, a atual operação de Israel contra o Hamas representa um golpe estratégico ao expansionismo iraniano que engloba a "Arábia Saudita até o Líbano, por meio do Hezbolah, a Síria e os emirados do Golfo". Recorde-se que o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, mais perigoso para o mundo do que um meteóro ou terremoto, e que tem como meta destruir Israel, contrariou a pressão internacional e evoluiu rumo ao arsenal nuclear. "Dotada de armas nucleares a hegemonia iraniana no Oriente Médio seria completa". Portanto, não é difícil concluir, que uma das bestas do Apocalipse está solta.
Entrementes, nosso chanceler de direito, Celso Amorim, parte para o Oriente Médio com o fito de apresentar "idéias brasileiras". Não ficou claro se nosso chanceler de fato e responsável pela nossa desastrada política externa, Marco Aurélio Garcia, irá também. Em todo caso, as "idéias brasileiras" já são conhecidas. O Itamaraty deplorou os ataques de Israel à Faixa de Gaza em vários comunicados e o próprio presidente da República criticou asperamente os Estados Unidos e a ONU por não terem evitado a crise, como se isso fosse possível.

Quanto ao partido de Luiz Inácio, o PT, por conta de seu pendor autoritário não podia deixar de condenar Israel. Seria, então, conveniente que Berzoine e seus correligionários, para ser mais coerentes, começassem a treinar para homens-bomba e as companheiras petistas envergassem a burka. Caso contrário, poderiam ser chamados de infiéis, o que é muito perigoso.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga mlucia@sercomtel.com.br