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quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

O COMEÇO DO COMEÇO

terça-feira, 9 de janeiro de 2007
José Reinaldo Tavares (*)
Quem José Sarney pensa que é?

Aos olhos de si próprio, um iluminado. Soberano a reinar sobre todos os maranhenses. Senhor de carreiras profissionais e destinos humanos. Elege e deselege políticos Transforma medíocres em homens brilhantes. Pela sua vontade – e só por ela - pessoas são honestas ou desonestas. Boas ou más. Dignas ou indignas. Investe sobre reputações, enlameia a honra alheia, invade lares espargindo seu ódio sobre famílias, desrespeitando mulheres e crianças. Acha que pode tudo.
É assim que o coronel Sarney pensa que José Sarney ainda é.
O que o cidadão José Sarney parece não saber é quem ele é hoje.
Um derrotado em sua própria terra. Para ter assento no Senado, foi socorrer-se do Amapá onde usa métodos pouco recomendáveis para conquistar o mandato que o povo daqui, por conhecê-lo bem, lhe negaria. Um velho "coronel" que viu sua oligarquia perversa ser derrotada nas urnas pela vontade do povo que mostrou não ter mais medo do "leão da Metro" .
Sou vítima da sandice e da ira do decadente Sarney. Do seu coronelismo arcaico, do seu ódio destruidor, dos seus delírios que hoje têm seus limites imperiais contidos pelos muros da mansão do Calhau e do enclave familiar acintoso da ilha de Curupu, onde sua família ostenta em mansões a riqueza que o poder lhes deu e que empobreceu nosso estado e nossa gente.
Quem Sarney pensa que é para investir contra a honra alheia? Por que não vem a público explicar como, na calada da noite, retirou seus milhões do Banco Santos, enquanto os pequenos depositantes viam suas economias de vidas inteiras indisponíveis? Ou, por que sua filha, Roseana, portava um despudorado cartão de crédito internacional, sem limites, com as suas despesas pagas pelo sr. Edemar Cid Ferreira que presidia aquela instituição? Também não explicou até hoje porque não foi visitar, na Casa de Detenção de São Paulo, o mesmo Edemar, festejado amigo e padrinho de casamento da sua filha Roseana.
Quando Sarney vive seu ocaso não se apercebe do ridículo em que transforma todo o seu passado. Apontou o seu dedo duro para mim e minha família sem lembrar-se de si nem dos dramas vividos no seio de sua. Não vou falar aqui de casamentos desfeitos e refeitos porque não pretendo descer ao mesmo nível do velho oligarca. Nem das razões por que isso aconteceu. Nem tão pouco vou falar dos seus périplos noturnos por Nova York, nem de outros problemas domésticos graves que o afligem. O "coronel", em mais um dos seus rugidos de leão desdentado, diz que tudo que fui devo a ele. Hoje, não enxerga mais em mim qualquer competência para assumir os cargos por que passei ao longo de minha vida pública. Ora, se assim é, ele foi um irresponsável que, como presidente da República, fez de um incompetente superintendente da Sudene e depois ministro. E, se fez isso, agiu de forma desonesta e leviana para com o povo brasileiro. Ou, se foi honesto, nomeou-me por ter reconhecido em mim as qualidades e aptidões necessárias para ocupar os cargos que ocupei.
O julgamento do coronel não me importa. Importa sim o julgamento do meu povo que nas urnas aprovou meu governo elegendo meu candidato e derrotando a filha dele.
Quem José Sarney pensa que é para vir falar de traição? Pensa que o povo esquece do seu gesto de apoio a Jango para, passadas poucas horas, transformar-se em serviçal da ditadura, apoiador do arbítrio, presidente do PDS? Pensa ele que o povo esqueceu quando, depois de ter servido e se servido da ditadura, mudar-se, serelepe e oportunisticamente, para o PMDB, partido que demonizava, olvidando seus Vade Retro serviçais de outros tempos?
Quem José Sarney pensa que é para vir falar de convênios com prefeituras quando promoveu a mais farta distribuição de concessões de canais de rádio e televisão em troca de um mandato de cinco anos que a Constituinte lhe queria negar? Esquece-se o "leão da Metro" que isso se deveu à sua insensibilidade, ao seu modo impiedoso de fazer política, perseguindo até o seu próprio Estado e sua gente mais pobre. Foi graças a ele que um empréstimo de US$ 30 milhões do Banco Mundial para combater a pobreza ficou adormecido em sua gaveta porque, dessa forma, imaginava que poderia me dobrar. Mas enganou-se. Com o apoio do povo, obriguei-o a desengavetar o empréstimo, que foi votado e aprovado, impingindo-lhe uma derrota humilhante.
Quem José Sarney pensa que é para taxar meu governo de corrupto? Logo ele que teve a honestidade do seu mandato presidencial contestada pela CNBB em carta pública dos bispos brasileiros e pela "CPI da Corrupção do Governo Sarney".
Nunca político algum teve tantas oportunidades quanto José Sarney de transformar o Maranhão num Estado desenvolvido, com um povo feliz por ter emprego, moradia digna, saúde de qualidade, educação para todos. Foi governador, presidente do partido da ditadura, presidente do Senado e presidente da República. Mas que fizeram ele e sua oligarquia? Transformaram o Maranhão no Estado mais atrasado dentre todas as unidades de federação. Deixaram 55 por cento da nossa população vivendo em condições subumanas - morando em casas de palha ou taipa -, Maranhão ostentando a vergonhosa posição de ter 83 dos 100 municípios mais pobres do Brasil. Semearam a desesperança, o que fez com que quase um milhão de pessoas emigrasse, nos anos 90, em busca de uma vida melhor. Abandonaram a educação, deixando 159 municípios sem escolas de segundo grau. Deixaram ainda a mortalidade infantil como uma das mais altas do país. Este é apenas um fragmento da enorme
tragédia que José Sarney e sua oligarquia perversa legaram ao Maranhão em seus 40 anos de domínio e exploração do povo humilde.
Um novo amanhã começou a brotar com a eleição de Jackson Lago. Um homem sério, independente, comprometido com as causas sociais e que dará seqüência a nossa luta contra o atraso e a pobreza. Graças a Deus, receberá um Estado já bem diferente daquele. Não somos mais os campeões da miséria nem do atraso. Os 83 municípios mais pobres foram reduzidos para 56. Construímos mais de 18 mil casas de alvenaria, com banheiros e água tratada.
Todos os 217 municípios do Estado agora têm escolas de segundo grau. Reduzimos a mortalidade infantil, a incidência de doenças, recuperamos a agricultura familiar, recriamos as casas do agricultor, a Emapa, incentivamos o campo a produzir safras recordes de grãos, levamos os campi da Uema para o interior, iniciamos a ponte sobre o rio Tocantins em Imperatriz, fizemos o maior número de assentamentos rurais, construímos o centro de convenções. Foram mais de mil obras só nos dois últimos anos do meu governo. E elas só foram possíveis depois que rompi Sarney e seu grupo.
Mas a maior de todas as conquistas, e da qual tenho muito orgulho, foi, pela vontade da maioria do nosso povo, libertar o Maranhão da pior oligarquia do Brasil. Ao contrário do que diz, Sarney será lembrado como o político que, apesar de todas as oportunidades que teve, usou suas mãos de forma generosa em benefício da sua família e em prejuízo dos mais necessitados.
O Lázaro de Melo ainda está vivo e tem endereço na suntuosa mansão do Calhau. Talvez o povo, um dia, lave o seu piso - este, sim - com sal grosso. O "leão da Metro" vai continuar rugindo nas páginas do seu jornal e na tela da sua TV. Ele não assusta mais. Agora, como o da Metro, já não tem mais dentes.

(*) José Reinaldo Tavares, ex-governador do Maranhão
Fonte http://www.claudiohumberto.com.br