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domingo, 29 de abril de 2007

TIRO NO PÉ

Publicada em: 25/04/2007


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Bristol (EUA) – Enquanto a plebe rude na cidade dorme, os cientistas continuam fornecendo mais informações sobre o futuro que aguarda a humanidade se providências não forem tomadas em caráter urgente para o combate ao aquecimento global. Agora os militares também comparecem, com onze generais e almirantes reformados dos Estados Unidos publicando um relatório sobre as graves conseqüências para a segurança do país que ocorrerão com a mudança do clima. Eles enviaram suas conclusões à Casa Branca, atualmente ocupada por um cidadão despreocupado com o problema. A má notícia é que George W. Bush ainda tem 21 meses de governo pela frente. A boa notícia é que sai daqui a 21 meses e não há hipótese de que venha a ser substituído por alguém tão disposto quanto ele a ignorar a gravidade da matéria. Todos os candidatos às primárias americanas, tanto do Partido Democrata quanto do Partido Republicano, já se manifestaram em favor de combater o aquecimento global. Alguns, como o senador John McCain, têm até propostas no Congresso a respeito. Estranha em tudo isto é a posição do governo brasileiro, que outro dia se juntou aos Estados Unidos, à China, à Rússia, à Índia e aos países árabes produtores de petróleo para dizer que o Conselho de Segurança da ONU não é o lugar indicado para se discutir o problema. A resolução para tanto havia sido apresentada pelo Reino Unido. Vejam a companhia em que nos colocamos. A postura dos Estados Unidos é conhecida há muito tempo, na administração Bush. A tática do governo americano é a de continuar a emitir tudo o que pode em matéria de dióxido de carbono sob o pretexto de que a China se recusa a enfrentar o problema. A tática chinesa é a mesma, mas do lado oposto: não faz nada porque os Estados Unidos não fazem nada. Os dois são os maiores emissores de dióxido de carbono. A China, que vem construindo uma termelétrica a carvão (a pior espécie) por semana, em breve ultrapassará os Estados Unidos em números totais, embora em emissão per capita vá continuar atrás. A Índia também vem acelerando suas emissões. Os países ameaçados são exatamente aqueles dos quais o Brasil, com uma ainda modesta emissão de carbono, com a riqueza de sua floresta amazônica, de seus recursos hídricos, de sua produção de etanol, poderia facilmente assumir a liderança. São os países pobres do Terceiro Mundo, onde a escalada de uma temperatura já elevada decretará a incapacidade produtiva de áreas no momento úteis para a agricultura, inundará regiões litorâneas, agravará a incidência de doenças tropicais, forçará o aumento de migrações.
Mas ao invés de ajudar as vítimas, estamos nos aliando aos delinqüentes.

Jose Inácio Werneck. jornalista e escritor internacional.