EDITORIAL O ESTADO DE S.PAULO
Não me envolvam ! Me deixem fora disso! Mensalão é ficção, coisa da oposição, tentativa de golpe! Coisa da oposição!!!!!!!! |
Como não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o eleitorado
ingrato, a nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram a
ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da
trama criminosa do mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário
Marcos Valério pela revista Veja.
A propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve interesse
ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no episódio
merece, de fato, algum "refresco de memória". Quando o escândalo
estourou, Lula declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas
ao País; depois, em entrevista à televisão em Paris, garantiu, cinicamente,
que seu partido havia feito apenas o que todos fazem - caixa 2; finalmente,
já ungido pelas urnas, em 2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não
passou de uma "farsa" urdida pelas "elites" para
"barrar e reverter o processo de mudanças" por ele iniciado, como
afirma a nota.
Por ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi
apresentada pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo
selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de
Valdemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo
STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras
legendas: PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais
rigoroso figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota em que
PSDB, DEM e PPS, "forças conservadoras", "tentaram comprometer
a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E a
classificam como "fruto do desespero diante das derrotas seguidamente
infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro".
Para PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão, as
oposições "tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e
fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre
que seus interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao
fato de que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são
exatamente os de Lula e do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho,
acusando os adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo
superou-se em alusão explícita ao julgamento do mensalão: "Os partidos
da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o
STF, estão preocupados em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político,
para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do
presidente Lula".
Nos últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas
traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O
presidente da Câmara dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser
falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha que,
segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada por José Dirceu. O senador
Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita
de compra de votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E o
deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de
Comunicação do partido, revelou sua peculiar concepção de transparência da
vida pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF
como "uma ameaça à democracia". São esses os combatentes da
"batalha do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de
Lula&Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley
Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista no jornal Valor de sexta-feira.
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